30 de jun. de 2010

Pedir a Deus

Quem haverá, por mais irrefletido que seja, que desejando fazer um pedido a uma pessoa importante, não discuta consigo mesmo como lhe falará, de forma a agradar e não o aborrecer? Pensará também no que lhe irá pedir e para que fim, sobretudo quando se trata de coisa tão importante, como a que nosso bom Jesus nos ensina a pedir. Na minha opinião, é isso o mais fundamental.

Não poderíeis, meu Senhor, englobar tudo numa palavra e dizer: "Dai-nos, ó Pai, o que for conveniente e adequado?" Assim, nada mais seria preciso dizer a quem tudo conhece com perfeição.

Isto, na verdade, seria suficiente entre vós e vosso Pai, e foi assim que oraste no Horto de Getsêmani. Vós lhe manifestastes vossa vontade e temor, mas vos conformastes totalmente à sua vontade. Quanto à nós, Senhor meu, sabeis não sermos tão conformados assim, como o fostes à vontade do Pai. Por esta razão, cumpre pedir coisa por coisa. Deste modo, refletiremos antes se nos convém pedir. Em caso contrário, deixemos de pedi-lo. De fato, somos assim: se não for concedido o que pedimos, este nosso livre-arbítrio não aceitará o que o Senhor nos der. Porque, embora seja o melhor quanto o Senhor nos der, se não vemos logo o dinheiro na mão, nunca pensamos ser ricos.

-- Do livro o Caminho da Perfeição, de Santa Teresa de Ávila, virgem (século XVI).

29 de jun. de 2010

Sobre a Nossa Missão

É esta a nossa glória: o testemunho de nossa consciência (2Cor  1,12a). Há homens de juízo temerário, detratadores, maldizentes, murmuradores, suspeitosos do que não vêem, procurando acusar o que nem mesmo suspeitam. Contra gente assim, o que nos resta a não ser o testemunho de nossa consciência? Mas, irmãos, também em relação àqueles a quem queremos agradar, não procuremos nossa glória nem a devemos buscar, mas busquemos a salvação deles, de modo que não se extraviem aqueles que nos seguem, se andarmos bem. Sejam nossos imitadores, se o formos de Cristo. Se não formos imitadores de Cristo, que eles o sejam!

Esforcemos-nos, irmãos, não apenas para sermos bons, mas ainda para convivermos bem com os homens. Não procuremos apenas ter uma boa consciência, mas, na medida em que permitirem nossas limitações, vigilantes sobre a fragilidade humana, empenhemo-nos em nada fazer que levante dúvidas para o irmão mais fraco. Não aconteça que, comendo ervas boas e bebendo águas límpidas espezinhemos as pastagens de Deus e as ovelhas fracas comam a erva pisada e bebam a água turva.

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo. (século V)

28 de jun. de 2010

Somos Povo de suas Pastagens

Antes do mais, que felicidade ser do rebanho de Deus, tão grande que se alguém nela pensar, irmãos, até mesmo nas lágrimas e nas tribulações de agora, lhe vem imensa alegria. De quem foi dito: Que apascentas Israel, é aquele mesmo de quem se diz: Não cochilará nem há de dormir quem guarda Israel (Sl 121, 4).Por conseguinte, ele vigia sobre nós acordados, vigia sobre nós adormecidos. Se, pois, o rebanho de um homem se sente seguro pelo pastor homem, que segurança não deve ser a nossa por ser Deus mesmo que nos apascenta, e não apenas porque nos alimenta, mas também porque nos fez?

-- Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (século V)

27 de jun. de 2010

Pregamos a Cristo

Ai de mim se não evangelizar! (1 Cor 9,16) Por ele, pelo próprio Cristo, para tanto fui enviado. Eu sou apóstolo e também testemunha. Quanto mais distante o país, quanto mais difícil a missão, com tanto mais veemência a caridade me aguilhoa. É meu dever pregar seu nome: Jesus é Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16,6). É aquele que nos revelou o Deus invisível, ele o primogênito de toda criatura, ele, em quem tudo existe . É o mestre redentor dos homens: por nós nasceu, morreu e ressuscitou.

É ele o centro da história e do universo. Ele nos conhece e ama, o companheiro e amigo em nossa vida, o homem das dores e da esperança. Ele é quem de novo virá, para ser nosso juiz, mas também - como confiamos - a eterna plenitude da vida e nossa felicidade.

-- Das Homílias de Paulo VI, papa (pronunciada em Manila, 29 de novembro de 1970) 

O texto completo desta homília está disponível no site do Vaticano em inglês e italiano. Também há outras homílias e manifestações públicas do Papa Paulo VI durante esta viagem apóstólica a Ásia e Oceânia.

26 de jun. de 2010

Deus pode ser encontrado no coração do homem

A pureza, a ausência das paixões desregradas e o afastamento de todo mal é a divindade. Se, portanto, se encontrarem em ti, Deus estará totalmente em ti. Quando teu espírito estiver puro de todo vício, liberto de todo mau desejo e  longe de toda nódoa, serás feliz pela agudeza e luminosidde do teu olhar, porque aquilo que os impuros não podem ver, tu, limpo, o perceberás. Retirada dos olhos da alma a escuridão da matéria, pela serenidade pura contemplarás claramente a beatificante visão. E esta, o que é? Santidade, pureza, simplicidade, todo esplendor da luminosa natureza divina, pelos quais Deus se deixa ver.

-- Das Homílias de São Gregório de Nissa, bispo (século IV)

25 de jun. de 2010

A esperança de ver a Deus

A promessa de Deus é tão grande que supera o limite máximo da felicidade. O que alguém poderá desejar a mais? Quem vê a Deus possui tudo quanto há de bom. Possui a vida sem fim, a eterna incorruptibilidde, a felicidade imortal, o reino sem fim, a alegria contínua, a verdadeira luz, a palavra espiritual e suave, a glória intangível, a perpétua exultação. Em suma, possui todos os bens.

Decerto, é enorme e imensamente valioso o que a promessa da felicidade propõe pela esperança de ver a Deus. Contudo, o modo de ver a Deus repousa na pureza de coração. Neste ponto novamente meu espírito tonteia, duvidando que esta pureza do coração consista em coisas que estejam fora do nosso alcance e que superem de muito nossa natureza. Pois se, por um lado, Deus pode ser visto através desta pureza, por outro lado, contudo, nem Moises nem Paulo o viram.  Sendo assim, esta felicidade, proposta pelo Verbo parece coisa que nem se pode realizar nem imaginar.

Porém, de fato, nem João, nem Paulo, nem Moisés, nem outros como eles ficaram privados desta sublime beatitude oriunda da visão de Deus. Se a felicidade consiste na visão de Deus e a Deus vê quem tem coração puro, então é claro que a pureza do coração, que torna o homem feliz, não está entre as coisas que nos são impossíveis.  Os que pretendem basear-se em Paulo para declarar que a visão de Deus está acimadas nossas formças, tem contra si a palavra do Senhor, que promete acesso a visão de Deus pela pureza do coração.

-- adaptado das Homilias de São Gregório de Nissa, bispo (século IV)

19 de jun. de 2010

A Oração do Senhor

O Senhor orava e não pedia para si - que pediria, o inocente, para si? - mas por nossos delitos, como ele mesmo o declarou ao dizer para Pedro: Eis que Satanás procurava joeirar-vos como trigo. Mas eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça (Lu 22, 31-32). E pouco depois rogou ao Pai por todos, dizendo: Não rogo apenas por estes, mas também por aqueles que irão crer em mim pelas palavras deles, a fim de que todos sejam como um, como Tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós (Jo 17,11).

Imensa benignidade e piedade de Deus para nossa salvação! Não contente de redimir-nos com seu sangue, ainda quis com tanta generosidade rogar por nós. Considerai o desejo daquele que rogou, para que do mesmo modo como o Pai e o Filho são um, assim também permaneçamos na mesma unidade.

-- Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir (século III)

16 de jun. de 2010

Seja feita a vossa vontade

Dizemos ainda: Seja feita vossa vontade assim na terra como no céu. Não para que Deus faça o que quer, mas para que possamos fazer o que Deus quer.

Pois quem impedirá a Deus de fazer tudo quanto quiser? Mas porque o diabo se opõe a que nossa vontade e ações em tudo obedeçam a Deus, oramos e pedimos que se faça em nós a vontade de Deus. Que se faça em nós a obra da vontade de Deus, isto é, resultado de seu auxílio e proteção, porque ninguém é forte por suas prórpias forças. Com efeito, é a indulgência e a misericórdia de Deus que o protegem. Finalmente, manisfestando a fraqueza de homem, diz o Senhor: Pai, se possível, afasta-se de mim este cálice e, dando aos discípulos o exemplo de renunciar à prórpia vontade e de aceitar a de Deus, acrescentou: Contudo não o que quero, mas o que queres.

-- Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir (século III)

15 de jun. de 2010

A Nossa Santificação

O Apóstolo descreve qual santificação nos é dada pela condescendência de Deus: Nem fornicadores, nem idólatras, adúlteros, nem efeminados, sodomitas, nem ladrões, nem fraudulentos, nem ébrios, maldizentes, nem usurpadores alcançarão o reino de Deus.  Na verdade fostes tudo isto, mas fostes lavados, fostes justificados, santificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito Santo de nosso Deus (1 Co 6, 9-11). Diz-nos santificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus. Oramos para que esta santificação permaneça em nós. Se o Senhor e nosso juiz advertiu aquele que curara e vivificara de não mais pecar, para que não lhe adviesse coisa pior, fazemos este pedido por contínuas orações, suplicamos dia e noite a fim de que, por sua proteção, nos seja guardada a santificação vivificante que procede da graça de Deus.

-- Do Tratado sobre a Oração do Senhor, de São Cipriano, bispo e mártir (século III)

5 de jun. de 2010

O Caminho para chegar à verdadeira vida

O caminho é o próprio Cristo, conforme ele mesmo disse: Eu sou o Caminho (Jo 14, 6). E com muita razão, pois temos por ele acesso junto ao Pai. Como este caminho não está distante do seu objetivo, mas unido a ele, Cristo acrescenta: Verdade e vida; de sorte que é ao mesmo tempo o caminho e o ponto de chegada. É o caminho, segundo a humanidade; é o objetivo final, segundo a divindade. Assim, como homem, diz: Eu sou o caminho;  e, como Deus, acrescenta: A Verdade e a vida. Por estas duas realidades indica bem o término deste caminho. 

Portanto, se indagas por onde passar, acolhe a Cristo, o próprio caminho: É este o caminho, caminhai por ele. E Santo Agostinho disse: Caminha pelo homem e chegarás a Deus. É melhor claudicar no caminho do que caminhar com desembaraço fora dele. Pois quem manqueja no caminho, conquanto demore, chegará ao final. Quem, ao contrário, vai por fora do caminho, embora correndo, se afasta cada vez mais do ponto final.

-- Do Comentário sobre João, de Santo Tomás de Aquino, presbítero (século XIII)

3 de jun. de 2010

Corpus Christi

O unigênito Filho de Deus, querendo fazer-nos participantes da sua divindade, assumiu nossa natureza, para que, feito homem, dos homens fizesse deuses.


Tudo quanto assumiu da nossa natureza, Jesus empregou-o para nossa salvação. Seu corpo, por exemplo, ele ofereceu a Deus Pai como sacrifício no altar da cruz, para nossa reconciliação; seu sangue, ele o derramou ao mesmo tempo como preço do resgate e purificação de todos os nossos pecados.

Mas, a fim de que permanecesse para sempre entre nós o memorial de tão imenso benefício, ele deixou aos fiéis, sob as aparências do pão e do vinho, o seu corpo como alimento e o seu sangue como bebida.

Ó precioso e admirável banquete, fonte de salvação e repleto de toda suavidade! Que há de mais precioso que este banquete? Nele, já não é mais a carne de novilhos e cabritos que nos é dada a comer, como na antiga Lei, mas é o próprio Cristo, verdadeiro Deus, que se nos dá em alimento. Poderia haver algo de mais admirável que este sacramento?

De fato, nenhum outro sacramento é mais salutar do que este; nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente saciada de todos os dons espirituais.

É oferecido na Igreja pelos vivos e pelos mortos, para que aproveite a todos o que foi instituído para a salvação de todos.

Ninguém seria capaz de expressar a suavidade deste sacramento; nele se pode saborear a doçura espiritual em sua própria fonte; e torna-se presente a memória daquele imenso e inefável amor que Cristo demonstrou para conosco em sua Paixão.

Enfim, para que a imensidade deste amor ficasse mais profundamente gravada nos corações dos fiéis, Cristo instituiu este sacramento durante a última Ceia, quando, ao celebrar a Páscoa com seus discípulos, estava prestes a passar deste mundo para o Pai. A Eucaristia é o memorial perene da sua Paixão, o cumprimento perfeito das figuras da Antiga Aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou. É ainda singular conforto que ele deixou para os que se entristecem com sua ausência.

-- Das Obras de Santo Tomás de Aquino, presbítero (século XIII)

2 de jun. de 2010

A verdadeira ciência foge da soberba

A ciência dos arrogantes tem isto de próprio, que eles não sabem comunicar com humildade o que ensinam e não conseguem apresentar com simplicidade as coisas boas que sabem. Vê-se bem, pelo modo que ensinam, que se colocam, por assim dizer, em lugar muito elevado e olham de cima para os discípulos, postos embaixo, à distância, e não se dignam examinar juntos a questão apenas para se impor.

Quando Paulo diz ao discípulo: Ordena e ensina com toda autoridade, não fala de um domínio, mas se refere ao dever de persuadir pela autoridade da vida. Com autoridade se ensina aquilo que se vive antes de dizê-lo, pois não se tem confiança na doutrina quando a consciência impede a fala. Por conseguinte, Paulo não lhe sugeriu a força das palavras soberbas, mas a confiança da vida reta.

Sobre o Senhor está escrito: Ensinava como quem tinha poder, não como os escribas ou fariseus (Mt 7, 28-29). De modo singular e essencial foi ele o único a pregar o bem com autoridade, porque nunca cometeu mal algum por fraqueza. Com efeito, pelo poder da divindade, possuía o que nos ministrou pela inteireza de sua humanidade.

-- Dos livros Moralia sobre Jó, de São Gregório Magno, papa (século VI) 

1 de jun. de 2010

A falsa paz espiritual

Quem se acusa de si mesmo, por mais que lhe venham importunações, danos, opróbrios, afrontas da parte de quem quer que seja, tudo recebe com serenidadade e, julgando-se merecedor de tudo isso, sem que lhe possa perturbar-se de modo algum.

Se alguém se julga quieto e pacífico, tem, no entanto, uma paixão que ninguém vê. Chega um irmão, lança uma palavra desagradável e imediatamente lhe jorra de dentro o pus e a sujeira oculta. Se quiser alcançar misericórdia, faça penitência, purifique-se, esforce-se por progredir e reconheça que, em vez de retrucar à injúria, deveria agradecer ao irmão ocasião de tão grande utilidade. Depois disso, não se afligirá tanto com as tentações, pois quanto mais progredir, tanto mais lhe parecerão leves. A alma se fortalece à medida em que caminha, faz-se mais corajosa em suportar todas as coisas duras que lhe advêm.

-- Das Instruções de São Doroteu

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