2 de out. de 2010

As três virtudes teologais

Estátua da Esperança - Jacques du Brouecq
A finalidade desta admoestação é a caridade, que procede de coração puro, de boa consciência e de fé sem hipocrisia. (1Tm 1 ,5)

 
Vamos iniciar pela fé, que é a primeira das virtudes que existem no coração do homem justificado pela fé. Não sem razão, o apóstolo acrescenta "sem hipocrisia" a fé. Pela fé vêm a justificação, desde que seja verdadeira e sincera, não falsa e afetada. A fé dos heréticos não conduz à justificação, pois não é verdadeira, é falsa; a fé dos maus católicos não conduz à justificação por que não é sincera, mas afetada. É afetada de duas maneiras: quando nós não acreditamos realmente, mas somente fingimos acreditar; ou quando, apesar de acreditar, não é vivida, como acreditamos que deve ser. Nestas duas situações é que as palavras de São Paulo na epístola a tito devem ser compreendidas: "Afirmam conhecer a Deus, mas negam-no com seus atos". (Tt 1,16a) Desta maneira os santos padres Jerônimo e Agostinho interpretam estas palavras do apóstolo.

Agora, desta primeira virtude de um homem justo, nós podemos facilmente entender quão grande deve se a multidão daqueles que não vivem bem, e, da mesma maneira, morrem no pecado. Eu vejo infiéis, pagãos, heréticos e ateístas que são completamente ignorantes da arte de morrer bem. E entre católicos, quantos existem que "afirmam conhecer a Deus, mas negam-no com seus atos". Quem reconhece ser virgem a mãe de Nosso Senhor, mas não teme blasfemar contra ela? Quem preza orar, jejuar, ser caridoso e outras boas obras, mas ainda se permite vícios opostos? Eu omito outras coisas que são conhecidas de todos. Aqueles dizem possuir fé "sem hipocrisia", que não acreditam naquilo que dizem crer, ou não vivem de acordo com os mandamentos da Igreja Católica; e, por isso, demonstram pela sua conduta que ainda não começaram a viver bem, nem podem tr esperança de uma morte feliz, exceto se por uma graça de Deus aprenderam a arte de morrer bem.

Outra virtude de um homem justo é a esperança, ou uma "boa consciência", como São Paulo no ensina. Esta virtude vêm da fé, pois não há como ter esperança em Deus sem conhecer o Deus verdadeiro ou não acreditar Nele como todo-poderoso e misericordioso. Mas, para exercitar e fortalecer nossa fé, para que possa ser chamada não apenas esperança, mas também confiança, uma boa consciência é necessária. Como se aproximar de Deus e pedir seus favores, quando sabe ter cometido pecados e não tê-los expiados por uma correta penitência? Quem pede um benefício ao inimigo? Quem pode esperar ser perdoado por ele, se reconhece ter estado contra ele?

Escute o que um homem sábio pensa da esperança dos ímpios: "A esperança do ímpio é como a palha levada pelo vento, como espuma miúda que a tempestade espalha; é dispersa como fumaça pelo vento, fugaz como a lembrança do hóspede de um dia" (Sb 5, 14). Assim o sábio admoesta o ímpio, que sua esperança é fraca, não forte; fugaz, não persistente; eles, enquanto estão vivos, ainda tem alguma esperança, em algum momento devem se arrepender e reconciliar-se com Deus; mas quando a morte lhes chegar, a menos que o Todo Poderoso por alguma graça especial mover seus corações e inspirá-los verdadeiro arrependimento, sua esperança será transformada em desespero, e eles dirão junto aos demais ímpios: "Sim, extraviamo-nos do caminho da verdade; a luz da justiça não brilhou sobre nós, para nós nãsceu o Sol. Cansamo-nos nas veredas da iniqüidade e perdição, percorremos desertos intransitáveis, mas não conhecemos o caminho do Senhor! Que proveito nos trouxe o orgulho? De que nos serviram riqueza e arrogância? Tudo isso se passou como uma sombra" (Sb 5, 6-9a).

Portanto, deixemos o sábio nos corrigir, se queremos viver e morrer bem, nós não devemos permanecer no pecado, mesmo que por um momento, nem nos permitir enganar por um vã confiança, que ainda teremos muitos anos para viver e e poderemos utilizar estes anos para ganhar nosso perdão.
 
-- Do Livro A Arte de Morrer Bem, de São Roberto Belarmino, bispo (século XVIII)

-- Nota: sempre que possível procuro utilizar textos traduzidos por profissionais e publicados com autorização de nossas autoridades eclesiais. Este, no entanto, foi traduzido por mim, a partir do livro em Inglês, por não ter encontrado disponível em Português. Minha fonte está disponível aqui.

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