21 de nov. de 2010

Homília na Festa de Cristo Rei

Neste domingo, que encerra o ano litúrgico, a Igreja celebra a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo. Escutámos no Evangelho a pergunta dirigida a Jesus por Pôncio Pilatos: Tu és o rei dos judeus? (Jo 18, 33). Jesus, por sua vez, responde perguntando: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram a Meu respeito? (Jo 18, 34). E Pilatos responde: Acaso sou eu judeu? O Teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste? (Jo 18, 35).

A este ponto do diálogo, Cristo afirma: O Meu reino não é deste mundo. Se o Meu reino fosse deste mundo, os Meus guardas lutariam para que Eu não fosse entregue às autoridades dos judeus. Mas o Meu reino não é daqui (Jo 18, 36).
Agora tudo é claro e transparente. Perante a acusação dos sacerdotes, Jesus revela que se trata doutro tipo de realeza, uma realeza divina e espiritual. Pilatos pergunta de novo: Então Tu és rei? (Jo 18, 37). A este ponto Jesus, excluindo qualquer forma de interpretação errada da Sua dignidade real, indica a verdadeira: Tu estás a dizer que Eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para dar testemunho da verdade. Todo aquele que está com a verdade ouve a Minha voz (Jo 18, 37).

Ele não é rei no sentido que pensavam os representantes do Sinédrio: com efeito, não aspira a nenhum poder político em Israel. O Seu reino, pelo contrário, ultrapassa em grande medida os confins da Palestina. Todos os que estão com a verdade ouvem a Sua voz (cf. Jo 18, 37) e reconhecem n’Ele um Rei. Eis o âmbito universal do Reino de Cristo e a sua dimensão espiritual.

Dar testemunho da verdade (Jo 18, 37). A Leitura tirada do Livro do Apocalipse diz que Jesus Cristo é a testemunha fiel (1, 5). Ele é testemunha fiel porque revela o mistério de Deus e anuncia o Seu Reino já presente. Ele é o primeiro servidor deste Reino. Tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz! (Fl 2, 8), Ele dará testemunho do poder do Pai sobre a criação e sobre o mundo. E o lugar do exercício desta sua realeza é a Cruz, abraçada no Gólgota. A Sua foi uma morte ignominiosa, que representa uma confirmação do anúncio evangélico do Reino de Deus. Mas aos olhos dos seus inimigos, aquela morte deveria ter sido a prova de que tudo o que Ele havia dito era falso: Se é o Rei de Israel… desça agora da cruz, e acreditaremos n’Ele (Mt 27, 42). Não desceu da cruz mas, como o Bom Pastor, deu a vida pelas suas ovelhas (cf. Jo 10, 11). A confirmação do Seu poder real é dada pouco depois quando, no terceiro dia, ressuscitou dos mortos, revelando-Se o primogénito dos mortos (Ap 1, 5).

Ele, Servo obediente, é Rei, porque tem as chaves da Morte e do Inferno (Ap 1, 18). E, enquanto vencedor da morte, do inferno e de satanás, é o Príncipe dos reis da terra (Ap 1, 5). Com efeito, todas as coisas terrenas estão sujeitas à morte. Ao contrário, Aquele que tem poder sobre a morte, abre a toda a humanidade a perspectiva da vida imortal. Ele é o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim de toda a criação (cf. Ap 1, 8), por isso todas as gerações podem repetir: Bendito o Seu reino que está a chegar (cf. Mc 11, 10).

Caríssimos Irmãos e Irmãs! A Liturgia de hoje recorda-nos que a verdade acerca de Cristo Rei constitui o cumprimento das profecias da Antiga Aliança. O profeta Daniel anuncia a vinda do Filho do homem, ao qual foi dado «poder, glória e reino». Ele é servido por todos os povos, nações e gentes e o seu poder é um poder eterno que nunca Lhe será tirado (cf. Dn 7, 14). Sabemos bem que tudo isto encontrou o seu cumprimento perfeito em Cristo, na sua Páscoa de morte e ressurreição.

A Solenidade de Cristo Rei do universo convida-nos a repetir com fé a invocação do Pai Nosso, que o próprio Jesus ensinou: Venha a nós o Vosso Reino. Venha a nós o Vosso Reino, ó Senhor! Reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz. 

-- Homília na Festa de Cristo Rei, Papa João Paulo II (em 23 de Novembro de 1997, na Paróquia da Santíssima Trindade, Roma)

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