17 de nov. de 2010

Santa Isabel (da Hungria) conheceu e amou Cristo nos pobres

Isabel começou muito cedo a distinguir se na virtude. Em toda a sua vida foi consoladora dos pobres; a dada altura dedicou-se inteiramente aos famintos e, junto de um castelo seu, mandou construir um hospital onde recolhia muitos enfermos e estropiados. Distribuía largamente os dons da sua beneficência, não só a quantos ali acorriam a pedir esmola, mas em todos os territórios da jurisdição de seu marido, chegando ao ponto de gastar nessas obras de assistência todas as rendas provenientes dos quatro principados e vendendo por fim, para utilidade dos pobres, todos os objetos de valor e vestes preciosas.

Costumava visitar duas vezes por dia, de manhã e à tarde, todos os seus doentes, ocupando se pessoalmente dos que apresentavam aspecto mais repugnante. Dava de comer a uns, deitava outros na cama, transportava outros aos ombros e dedicava se a todo o género de serviço humanitário. Em todas estas coisas nunca ela encontrou má vontade em seu marido de grata memória.

Finalmente, depois da morte deste, no desejo da suma perfeição, pediu-me com lágrimas que a autorizasse a pedir esmola de porta em porta. Precisamente no dia de Sexta-Feira Santa, estando desnudados os altares, numa capela da sua cidade, onde acolhera os Frades Menores, na presença de testemunhas e postas as mãos sobre o altar, renunciou à sua própria vontade, a todas as pompas do mundo e ao que o Salvador no Evangelho aconselha a deixar. Feito isto e vendo que poderia ser absorvida pelo tumulto do século e pela glória mundana naquela terra, em que no tempo do marido vivera com tanta grandeza, veio para Marburgo contra minha vontade. Nesta cidade construiu um hospital para receber doentes e aleijados dos quais sentou à sua mesa os mais miseráveis e desprezados.

Além destas actividades caritativas, diante de Deus o afirmo, raras vezes encontrei mulher mais dada à contemplação. Algumas religiosas e religiosos viram muitas vezes que, quando voltava do recolhimento da oração, o seu rosto resplandecia maravilhosamente e os seus olhos brilhavam como raios de sol.

Antes de morrer ouvi-a de confissão. Perguntando-lhe o que se devia fazer dos seus haveres e mobiliário, respondeu-me que tudo quanto parecia possuir era já dos pobres desde há muito tempo e pediu me que distribuísse tudo por eles, excepto a pobre túnica com que estava vestida e com a qual desejava ser sepultada. Depois recebeu o Corpo do Senhor e, seguidamente, até à hora de Vésperas, falou muitas vezes do que mais a tinha impressionado na pregação. Por fim, encomendou devotamente a Deus os que lhe assistiam e expirou como quem adormece suavemente.

-- Da Carta escrita por Conrado de Marburgo ao Sumo Pontífice, diretor espiritual de Santa Isabel (século XIII)



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