22 de fev. de 2011

Uma Alma Precisa de Oração

Não é pequena lástima e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos a nós mesmos, nem saibamos quem somos. Não seria grande ignorância, minhas filhas, que perguntassem a alguém quem era e não se conhecesse, nem soubesse quem foi seu pai, nem sua mãe, nem sua terra? Pois, se isto seria grande estupidez, sem comparação é maior a que há em nós quando não procuramos saber que coisa somos e só nos detemos nestes corpos; e assim, só a vulto sabemos que temos alma, porque o ouvimos e porque no-lo diz a fé. Mas, que bens pode haver nesta alma ou quem está dentro dela, ou o seu grande valor, poucas vezes o consideramos; e assim se tem tão pouco cuidado em conservar sua formosura. 

Dizia-me há pouco um grande letrado, que as almas que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido que, embora tenha pés e mãos, não os podem mexer; e são assim: há almas tão enfermas e tão habituadas às coisas exteriores, que não há remédio nem parece que possam entrar dentro de si mesmas; porque é tal o costume de tratarem sempre com pessoas servis e inúteis que estão à volta do castelo, que já quase se tornaram como elas e, sendo de natureza tão rica e podendo ter a sua conversação nada menos do que com Deus, não têm remédio. E se estas almas não procuram entender e remediar sua grande miséria, ficarão feitas em estátuas de sal por não voltarem a cabeça para si mesmas, assim como ficou a mulher de Lot por voltar a cabeça para trás.

Porque, tanto quanto eu posso entender, a porta para entrar no castelo de Deus é a oração e reflexão. Para que seja oração, há-de ser com atenção; porque quando a pessoa não está atenta a Quem fala e o que pede e o que está pedindo, não chamo oração, embora muito mexa os lábios. E, se algumas vezes o for, mesmo sem este cuidado, será porque esteve atenta em outras ocasiões; mas, quem tivesse por costume falar com a Majestade de Deus como fala a um seu escravo, que nem repara se diz mal, mas fala o que lhe vem à boca e ou que já decorou, porque já o fez outras vezes, não o tenho por oração e peço a Deus que nenhum cristão assim a considere. Que entre vós, irmãs, espero em Sua Majestade não haverá tal oração, pelo costume que há de tratardes de coisas interiores, e que é muito bom para não cairdes em semelhante bruteza.

-- Do livro Castelo Interior, de Santa Teresa de Ávila (século XVI)

Um comentário:

Orquidea disse...

Uma vez li o seguinte :
Se você soubesse o poder da oração, passaria a vida ajoelhado .
É uma grande verdade que eu muitas vezes por fraqueza humana não cumpro na minha vida...Que Deus me dê o dom da Oração todos os dias.
Gostei muito do vosso blog

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