6 de jul. de 2011

A Segunda Revelação do Sagrado Coração de Jesus

A segunda revelação é a única que não sabemos com certeza a data exata. Certamente ocorreu em 1674 antes da chega à Paray do Padre de la Colombiere, que ocorreu no outono daquele ano. Assim que o Sagrado Sacramento estava exposto, de acordo com os costumes daquela época, não pode ter sido senão na Festa da Visitação ou durante a oitava de Corpus Christi. Por outro lado, pela narrativa de Margarida Maria, foi numa primeira sexta-feira de algum mês. Nós entendemos que tenha sido na de Junho ou na sexta-feira da oitava de Corpus Christi.

Ouçamos o que conta a irmão: "Assim que o Sagrado Sacramento estava exposto, minha alma absorvida em extraórdinário contemplação, Jesus Cristo, meu suave mestre, apresentou-se a mim. Ele estava brilhante e glorioso; suas cinco chagas iluminadas como cinco sóis. Raios partiam de todas as partes do Seu Sagrado Corpo, mas especialmente do Seu adorável peito, que parecia como um forno, e ao qual, abrindo, mostrou-me seu amoroso coração, fotne viva de todos raios".

Ao relembrar a primeria aparição, Margarida maria não descreveu a admirável pessoa do Senhor por que, provavelmente, não possuia a gloriosa aparência desta segunda. Teria uma aparição menos real, mas, talvez, mais íntima. "Ele me fez repousar em seus braços" (relembrando a primeira aparição), o que parece não concordar adequadamente com uma aparição esplendorosa, com os raios que envolviam Jesus na segunda aparição. Entretanto, esta diferença em forma corresponde à uma diferença quanto ao espírito de cada uma das aparições. Até aquele momento Jesus era o amigo, o pai, fazendo um esforço amoroso para salavar seus filhos. Agora Ele é o esposo indignado, o rei demandando reparação. Margarida, tremendo de emoção, estava contemplando-O, "Ele descobriu para mim", ela diz, as inexplicáveis maravilhas do Seu puro amor, e como tem amado os homens tão profundamente, mesmo que tenha recebido em troca apenas ingratitude. "Isto", diz Ele, "é muito mais doloroso que todos os sofrimentos da MInha Paixão. Se os homens se nutrissem por mim algum amor, Eu demonstrando minha pouca estima por mim, desejaria, se pudesse, sofrer tudo novamente; mas os homens recebem meu amor com frieza e desculpas. Tu, pelo menos, me consola e alegra-se em mim, recompensando a máximo de tuas forças a ingratitude de todos os demais.

Após ter mostrado na primeira aparição o verdadeiro princípio da nova devoção, o amor que lhe queimava o coração e Ele não mais podia conter, Jesus revelou seu carater. Esta expiação deveria reparar e expiar todos os crimes do mundo, ser uma consolação ao esquecido Coração. Ele pediu a algumas almas escolhidas para vir ao pé dos altares por aqueles que não O amavam.; e pelo seu amor e devoção, render homenagens a Ele como a multidão fria e indiferente não faz. "Vós deveis, pelo menos", e falando assim po Senhor dirigia-se a todas almas piedosas, "dar-me consolação, confortando-me pela ingratitude, tanto quanto puderes.".

Margarida desculpa-se pela sua incapacidade e responde Jesus: "Nada temas, permanecer aqui é tudo o que é necessário". E neste momento, continua Margarida, "o Divino Coração abriu-se, de lá saíram chmas tão ardentes que pensei que me consumiriam". Admirável símbolo do que esta nova devoção iria se tornar para a Igreja, do reaquecimento universal dos corações.

Atingida por tais chamas e incapaz de suportar este fogo, Margarida implorou ao Salvador para ter piedade de sua fraqueza: "Nada temas, Eu te darei a fortaleza. Apenas ouça o que Eu desejo para preparar os acontecimentos que planejo". Então o Senhor lhe pediu duas coisas: que todas as primeiras sextas-feiras de cada mês se ajoelhasse para adorá-lo; e que acordasse entre onze e meia-noite entre quinta e sexta-feira a cada semana para prostar-se por uma hora com a face no chão, em expiação aos pecados dos homens e consolar Seu Coração pelo abandono geral, do qual a fraqueza dos apóstolos no Monte das Oliveiras havia sido apenas um preludio.

"Durante todo este tempo eu estava como inconsciente, não sabia one estava. Algumas da irmãs vieram para levar-me e vendo que eu nem podia responder nem manter-me em pé, levaram-me para nossa madre, que me encontrou como fora de mim, como se estivesse queimando". Quando Margarida contou-lhe o que acontecera, acreditasse ou não, ou talvez fingisse que não acreditava, a Madre de Saumaise humilhou-a tão severamente quanto pode, "o que me deu imenso prazer, causou-me imensa alegria", diz Margarida Maria, "pois eu me sentia como uma grande criminosa, tão confusa, que por mais duro fosse o tratamento dispensado a mim, ainda me acharia muito leniente".

"O fogo que me devorava mantinha-me em contínua febre; mas eu rejubilava por tal sofrimento e não reclamava. Eu falei sobre ele, exceto quando minhas forças estavam completamente terminadas. Nunca senti tão grande consolação. Meu corpo estava curvado com dores extremas e isto aliviava um pouco a sede que sentia em sofrer. Este fogo devoradornão podia ser aplacado nem satisfeito a não ser pelo amor da cruz; ou seja, por todos tipos de humilhações e dores. Nunca meu corpo sofreu de tal maneira, mas achava que não sofria o suficiente. As irmãs pensaram que eu morreria."

Dr Billiet, médico assistente, declarou que Santa Margarida Maria teve febres por sessenta dias consecutivos que resistiram a todos os remédios utilizados para aplacá-la. A Madre de Saumaise, muito perplexa, ao final tentou um último expediente. Aproximou-se da cama onde esta a irmã Margarida e ordenou que em nome da obediência pedisse a Deus pela sua recuperação, acrescentando que deveria reconhecer isto como um sinal do carater sobrenatural de todos os acontecimentos. Ela permitiria que comungasse nas primeiras sextas-feiras de todos os meses e rezasse durante as noites de quinta para sexta-feiras.
Margarida experimentou grande repugnância à idéia de pedir pelo fim de seus sofrimentos, temendo, como ela disse, "ser ouvida".  Mas, em nome da obediência, não mais hesitou. Após breve oração ela sentiu a febre passar, o coração bater normalmente e um atônito médico declará-la curada. Havia, claro, pouca necessidade do médico fazer esta afirmação, pois a santa levantou-se e, a partir daquele dia, as irmãs perceberam uma mudança total na sua saúde.

A madre não resistiu a palavra de Deus e autorizou Margarida Maria a comungar todas primerias sexta-feiras de cada mês e levantar-se nas noites de quinta para sexta-feira para orar.

No entanto, a madre ficou mais e mais embaraçada. Esta cura, que parecia um milagre, e talvez realmente fosse, fez pensar mais seriamente sobre a propriedade de aceitar a incontestável santidade da irmã Margarida. Por outro lado, a irmã era muito jovem, vinte e seis anos, e tinha apenas dois anos de vida religiosa. As visões que ela relatava eram, de qualquer forma, extraordinárias. Mas não seria algum tipo de ilusão? Então a madre resolveu consultar outros, e quebrando o silêncio pela primeira vez, ela discutiu a questão com alguns religiososcujos nomes não sabemos - "pessoas educadas" - diz ela em suas memórias. Mas seja por que Margarida, tão tímida, tão humilde, não fazia-se entender, ou por que estas pessoas levantaram algumas dúvidas sobre estas manifestações sobrenaturais, algo não incomum entre padres e pessoas pias, conduziram a conclusão de que no caso de Margarida Maria havia muito de imaginação, algo do seu temperamento natural, e, talvez, alguma ilusão de espíritos demoníacos, ainda que a boa irmã não percebesse.

A perplexidade dos juízes de Margarida aumentou, não diminuiu. Condenada pelas suas superioras e confessores, a pobre Margarida não sabia direito o que fazer. Ela disse: "Eu fiz todos esforços para resistir às minhas tendências interiores, acreditando que isto era realmente um erro. Mas não fui bem sucedido. Eu não mais duvidei que havia sido abandonada, uma vez que haviam me dito que não era o Espírito do Senhor que me governava; e ainda assim era-me impossível resistir ao Espírito que me movia." Certo dia, quando desfalecia sobre o peso desta contínua ansiedade e derramava seus sofrimentos aos pés do Senhor, lhe pareceu ouvir uma voz dizendo: tenha paciência e espera, minha serva. Ele não entendeu o significado exato das palavras, mas soaram como um bálsamo para sua alma agitada, e percebeu que o Senhor viria em sua assistência no momento que Ele julgasse adequado.

As coisas seguiam da mesma forma quando a Madre anunciou à comunidade uma piedosa conferência que seria ministrada por um religioso da Sociedade de Jesus que recém havia chegado a Paray e tinha reputação de falar eloquentemente das coisas do Senhor. Seu nome era Padre de la Columbiere. Ficamos surpreendidos com um homem, ainda tão jovem, que já era celebrado, a ponto de sua entrada na Sociedade ser considerada uma promessa de renovação, fosse enviado a lugar tão pequeno como Paray. Após analisar os acontecimentos, entendemos o divino propósito do seu envio. Padre de la Columbiere chegou a tempo de testemunhar grandes perplexidades, que ameaçavam a segunda aparição, muito mal compreendida pelas pessoas de Paray, e às vésperas da terceira e última, a mais importante de todas. Ele iria, em poucas palavras, iluminar a confusão.

Irmã Margarida Maria foi, junto com a comunidade, a tal conferência. Padre de la Columbiere relatou que ela não lhe causou a mínima impressão. Mas ele mal havia aberto os lábios para falar quando ela ouviu distintamente estas palavras: "Confie nele que te enviei". Acostumada a ouvir Deus em momentos que não esperava, ela mal manteve o olhar no Padre que lhe fora enviado, ela pediu que Deus cuidasse de torná-la conhecida para o Padre.

Os dias de confissão chegaram e o Padre foi convidado a ouvir as confissões da comunidade. Margarida percebeu que, embora ele nunca a houvesse visto, ele falava como se conhecesse o que lhe passava na alma. Ele mantevesse com ela por um longo tempo e, ainda, ofereceu para encontrarem-se novamente no próximo dia a fim de ouvir uma confissão mais detalhada e completa sobre o que se passava no seu interior. Tudo isso não poderia acontecer em momento mais propício. Mas Margarida não queria abrir seu coração, e quanto à segunda idéia, ela humilde e timidamente respondeu que faria de acordo com a regra da obediência.

É provável que a venerável madre houvesse falado com o Padre sobre a situação de Margarida, que talvez ele pudesse acrescentar a sua opinião e piedoso conselho aos daqueles que já o haviam dado, embora tenha sido Deus mesmo que iluminou seus servos, para que Ele pudesse conceder a Sua fiel esposa o aconselhamento que ela tanto necessitava. Seja como for, alguns dias após o Padre retornou para conversar com a irmã Margarida Maria. Assim ela relatou: "Embora eu soubesse que esta era a vontade de Deus, falar com ele, ainda assim sentia extrema repugnância a responder as suas perguntas."

Sua repugância, entretanto, durou apenas um momento. Convecida pela piedade e doçura de tão santo religioso, e interiormente excitada pela graça, Margarida Maria confiou a ele os segredos de seu coração. O encontro foi longo, e a irmã foi iluminada e consolada. "Ele assegurou a mim que não havia nada a temer ao seguir as orientações do Senhor, desde que não me afastasse da obediência; que eu deveria seguir suas recomendações e abandonar todo meu ser a Ele, ser sacrificada e imolada conforme a sua vontade. O Padre admirou-se da grande bondade de Deus em não fazê-lo desistir em face de tanta resistência, ensinou-me a estimar as graças de Deus e receber com respeito e humildade as frequentes comunicações com que Deus me favorecia. O Padre acrescentou que deveria agradecer a Deus por tão grandes bençãos. Quando lhe disse que minha alma estava tão próxima da Soberana Bondade em qualquer tempo ou lugar, que muitas vezes não podia rezar em alta voz sem me fazer violência, que muitas vezes me mantinha de boca aberta sem dizer uma só palavra, que isto acontecia em especial durante a oração do Rosário; ele disse me para não continuar com tais esforços e confinar minhas orações vocalizadas apenas às de obrigação. Quando lhe contei sobre os cuidados especiais e a amorosa união de almas que recebi do meu Amado, de tal forma que não podia lhe descrever, ele respondeu que eu possuia grande razão em manter-me humilde e admirava a maravilhosa piedade de Deus em meu favor."

Copiei aqui este relato por completo por que mesmo na sua forma breve, contem grande iluminação. Há nele algo de elevado, sensível, doce e piedoso. Ele é a grande palavra do Padre de la Columbiere. Sem dúvida ele ajudou a muitos outros, tendo se tornado conhecido na França e Inglaterra.

Mas, não obstante tudo isto, ele foi enviado de longe, divinamente preparado por uma cadeia de acontecimentos maravilhosos que expressaram-se através de suas palavras. Sendo assim, ele retirou-se, pois sua missão havia sido concluída por aquele momento, havia realizado sua parte. Seguramente não há anada mais glorioso e útil; pela iluminação de uma alma, ele iluminou a muitos milhões. Contribuiu muitíssimo para o bem da Igreja, afastando os obstáculos que a tempesatade havia jogado no caminho de Margarida. Mas nem por isso sua missão estava completa, pois ainda o veremos atuando em um momento decisivo da terceira aparição, sustentando e iluminando a irmã.

-- Do Livro Revelações do Sagrado Coração de Jesus, do Bispo Emile Bougaud, sobre a vida de Santa Margarida Maria. O livro foi escrito em torno de 1850.

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