21 de nov. de 2011

Presença real de Cristo na Eucaristia


1. Este ensinamento do bem-aventurado Paulo foi estabelecido como suficiente para vos assegurar acerca dos divinos mistérios, dos quais tendo sido julgados dignos, vos tornastes concorpóreos e consangüíneos com Cristo. O próprio Paulo proclama precisamente: Na noite em que foi entregue, Nosso Senhor Jesus Cristo, tomando o pão e depois de ter dado graças, partiu-o e o deu a seus discípulos, dizendo: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E tomando o cálice e tendo dado graças, disse: Tomai, bebei, isto é o meu sangue (Mt 26,26).

2. Se ele em pessoa declarou e disse do pão: Isto é o meu corpo, quem se atreveria a duvidar doravante? E quando ele afirma categoricamente e diz: Isto é o meu sangue, quem duvidaria dizendo não ser seu sangue? Outrora, em Caná da Galiléia, por própria autoridade, transformou a água em vinho. Não será digno de fé quando transforma o vinho em sangue? Convidado às bodas corporais, realizou, este milagre maravilhoso. Aos companheiros do esposo não se concederá, com muito mais razão, a alegria de desfrutar do seu corpo e sangue?

3. Portanto, com toda certeza recebemo-los como corpo e sangue de Cristo. Em forma de pão te é dado o corpo, e em forma de vinho o sangue, para que te tornes, tomando o corpo e o sangue de Cristo, concorpóreo e consangüíneo com Cristo. Assim nos tornamos portadores de Cristo (cristóforos), sendo nossos membros penetrados por seu corpo e sangue. Desse modo, como diz o bem-aventurado Pedro, «tornamo-nos participes da natureza divina».

4. Falando, outrora, aos judeus Cristo dizia: Se não comerdes minha carne e não beberdes meu sangue, não tereis a vida em vós (Jo 6,53). Como não entendessem espiritualmente o que era dito, escandalizados, se retiraram, imaginando que o Salvador os incitava a comer carne humana.

5. Também no Antigo Testamento havia pães de proposição. Mas esses pães, por pertencerem à antiga aliança, tiveram fim. Na nova aliança o pão celeste e o cálice de salvação santificam a alma e o corpo. Pois, como o pão se adequa ao corpo, assim o Verbo se harmoniza com a alma.

6. Não consideres, portanto, o pão e o vinho como simples elementos. São, conforme a afirmação do Mestre, corpo e sangue. Se os sentidos isto te sugerem, a fé te confirma. Não julgues o que se propõe segundo o gosto, mas pela fé tem firme certeza de que foste julgado digno do corpo e sangue de Cristo.

7. O bem-aventurado Davi te anuncia a força [deste mistério] dizendo: Preparaste para mim a mesa à vista de meus inimigos (Sl 22, 5). Com isso ele quer dizer: Antes de tua vinda os demônios preparavam para os homens uma mesa contaminada e manchada, cheia de poder diabólico. Mas depois de tua vinda, ó Senhor, tu preparaste diante de mim uma mesa. Quando o homem diz a Deus: Tu preparaste diante de mim uma mesa , que outra coisa quer ele insinuar, senão a mística e espiritual mesa, que Deus nos preparou em oposição ao adversário, isto é, em oposição ao demônio? Sim, é isso mesmo. Pois a primeira mesa tinha comunhão com os demônios, essa, ao contrário, comunhão com Deus. Ungiste de óleo minha cabeça (Sl 23, 5). Com o óleo te ungiu a cabeça, sobre a fronte, pelo sinal que tens de Deus, a fim de que te tornes assinalado santo de Deus. E teu cálice inebria-me como o melhor (Sl 23,5). Vês aqui mencionado o cálice que Jesus tomou em suas mãos e sobre o qual rendeu graças dizendo: Este é o meu sangue, que é derramado por todos, em remissão dos pecados (Mc 14,24-25).

8. Por isso também Salomão, aludindo a essa graça, disse: Vem, come teu pão na alegria (Ecle 9,7), o pão espiritual. Vem designa o apelo salutar e que faz bem-aventurado. E bebe, de bom coração, teu vinho (Ecle 9,7), o vinho espiritual. Derrama o óleo sobre tua cabeça (vês aqui mais uma alusão à unção mística?) Traja sempre vestes brancas, já que Deus sempre favorece as tuas obras (Ecle 9,8). Pois agora Deus se agradou de tuas obras. Antes de te aproximares da graça eram tuas obras vaidade das vaidades. Todavia agora, tendo despido as velhas vestes e revestido espiritualmente a veste branca, é necessário estar sempre vestido de branco. Não dizemos isso absolutamente porque é preciso estar trajado de branco, mas porque deves, em realidade, revestir a veste branca, brilhante e espiritual, a fim de dizeres com o bem-aventurado Isaías: Com grande alegria me rejubilei no Senhor, porque me fez revestir a vestimenta da salvação e me cobriu com a túnica da alegria (Is 61,10).

9. Tendo aprendido e estando seguro de que o que parece pão não é pão, ainda que pareça pelo gosto, mas o corpo de Cristo, e o que parece vinho não é vinho, mesmo que o gosto o queira, mas o sangue de Cristo  e porque sobre isto dizia vibrando Davi: O pão fortalece o coração do homem, para que no óleo se regozije o semblante (Sl 104,15) fortalece o teu coração, tomando este pão como espiritual e regozije-se o semblante de tua alma. Oxalá, tendo a face descoberta, em consciência pura, contempleis a glória do Senhor, para ir de glória em glória, em Cristo Jesus Senhor Nosso, a quem a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

-- Quarta Catequese Mistagógica aos Recém-iluminados, de São Cirilo de Jerusalém (século IV)
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