2 de jan. de 2012

Os falsos deuses egípcios e o politeísmo


* Neste trecho, o Aristides fala sobre os deuses egípcios, demonstra o erro das várias religiões politeístas e conclui que deve-se adorar a somente um Deus, que tudo criou.

Templo de Abu Simbel, construído pelo faraó Ramses II
Quanto aos egípcios, que são mais torpes e mais nécios que os gregos, erraram mais que todas as nações, pois não se contentaram com os cultos dos caldeus e dos gregos, mas introduziram ainda como deuses animais irracionais, tanto da terra como da água, bem como árvores e plantas, e mergulharam em toda a loucura e imprudência pior que todas as nações existentes sobre a terra.

Eis que a princípio prestaram culto a Ísis, que tinha Osíris por irmão e marido; este foi degolado por seu irmão Tifão. Por esta razão, Ísis fugiu com seu filho Hórus para Bíblo, na Síria, chorando amargamente; quando Hórus cresceu, matou Tifão. Desta forma, nem Ísis teve forças para ajudar seu irmão e marido, nem Osíris pôde ajudar-se a si mesmo (já que foi degolado por Tifão), da mesma maneira que Tifão, fratricida, morto por Hórus e Ísis, não conseguiu livrar-se a si próprio da morte. E, reconhecidos por tais desgraças, foram tidos por deuses pelos insensatos egípcisos, os quais, não contentes com este e com os demais cultos trazidos por outras nações, introduziram como deuses até mesmo os animais irracionais.

Eis que alguns deles adoram a ovelha; outros o cabrito; outros o novilho e o porco; outros o corvo, o gavião, o abutre e a águia; outros o crocodilo; outros o gato, o cão e o lobo, e também o macaco, a serpente e a áspide; outros a cebola e o alho, os espinhos e as demais criaturas... E os desgraçados não se dão conta que nenhuma dessas coisas possui poder algum, nem vendo que seus deuses são comidos por outros homens, queimados e degolados, e se putrefazem... Não compreendem que não são deuses!

Assim, se extraviaram gravemente os egípcios, os caldeus e os gregos, introduzindo tais deuses, fazendo imagens deles, e divinizando os ídolos surdos e insensíveis.

E me admira como vendo seus deuses serrados, destruídos pelo fogo, cortados pelos artífices, envelhecidos pelo tempo, dissolvidos e fundidos não compreendam que não existem tais deuses pois, quando nenhuma força possuem para sua própria salvação, como poderão ter providência pelos homens?

Mas seus poetas e filósofos, querendo com seus poemas e obras glorificar os seus deuses, não têm feito outra coisa senão descobrir suas vergonhas e torná-las desnudas para todos; pois, se o corpo do homem, ainda que seja composto por muitas partes, não despreza nenhum de seus membros, mas, conservando-os todos em irrompível unidade, mantendo-se sempre unidos, como poderia ocorrer na natureza de Deus tamanha batalha e discórdia? Ora, se a natureza dos deuses é uma, não deve um deus perseguir outro deus, nem degolá-lo ou machucá-lo. E se os deuses têm perseguido uns aos outros, e se degolaram, roubaram e foram fulminados, já não há uma só natureza, mas seres divididos e todos maléficos, de forma que nenhum deles é Deus. Portanto, é claro - ó Rei - que toda a teoria sobre a natureza desses deuses é puro extravio.

E como não compreenderam os gregos sábios e eruditos que, ao estabelecer leis, seus deuses são condenados por essas leis? Pois se as leis são justas, são absolutamente injustos os seus deuses que fizeram coisas contra a lei, como mortes mútuas, feitiçarias, adultérios, roubos e uniões contra a natureza; e se tudo isto que fizeram foi bom, então as leis é que são injustas porque vão contra os deuses. Porém não é isto que ocorre: as leis são boas e justas, pois louvam o bom e proíbem o mau, e as obras dos deuses são ímpias. Ímpios são, portanto, os seus deuses; todos são réus de morte; ímpios também são aqueles que introduzem semelhantes deuses, porque se as histórias que são contadas são mitos, então os deuses não são nada mais que palavras; e se são físicas, já não são deuses os que tais coisas fizeram ou sofreram; e se são alegorias, são estórias e nada mais.

Fique provado então - ó Rei - que todos estes cultos para muitos deuses são obras que extraviam e levam à perdição, pois não se deve chamar deuses às coisas visíveis que não vêem, mas deve-se adorar ao Deus invisível que tudo vê e criou.


-- Da Apologia de Aristides de Atenas (século II)

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