16 de fev. de 2012

Terceira hierarquia: principados, arcanjos e anjos


Ícone ortodoxo: O conselho dos Anjos

Falta-me contemplar a terceira ordem que termina a hierarquia angélica e que se compõe de Principados, Arcanjos e Anjos. Creio que em primeiro lugar é preciso explicar o sentido desses nomes sagrados.

O nome dos Principados celestes significa que eles possuem na ordem sagrada um princípio e uma hegemonia de forma divina; que eles possuem das potências de comando da mais alta conveniência o poder de se converterem inteiramente ao Princípio que está acima de todo o princípio e de conduzirem os outros para eles com uma autoridade primordial e de revelarem o Princípio Sobreessencial de toda a ordem pela harmonia do seu comando.

Os Santos Arcanjos têm o mesmo nível que os Principados celestes e formam uma única
hierarquia juntamente com os Anjos.

A ordem dos Arcanjos, graças ao seu lugar intermediário na hierarquia, participa nos dois extremos uma vez que ela entra em comunhão com os Principados e com os Anjos. Em um dos extremos ela participa no sentido de sua conversão ao Princípio Sobreessencial e lhe confere a unidade graças aos poderes invisíveis da harmonização; no outro extremo ela participa no sentido de também pertencer ao nível dos intérpretes, recebendo hierarquicamente a iluminação por intermédio das potências do primeiro nível transmitida aos Anjos e por intermédio desses transmitida a nós na medida em que cada um possa recebê-la através dos segredos divinos.

Como já dissemos, os Anjos terminam e completam a regra das inteligências celestes, porque são eles que possuem entre elas o mais baixo grau da qualidade angélica e se nós os designamos por anjos é precisamente porque por seu intermédio se manifesta a sua hierarquia mais claramente aos nossos olhos.

A ordem superior (Tronos, Querubins e Serafins) mais próxima — pela sua dignidade — do Santuário Secreto inicia misteriosamente a segunda ordem, aquela que se compõe das Dominações, Potestades e Virtudes, que por outro lado comanda os Principados, Arcanjos e Anjos. A segunda ordem revela os mistérios menos secretamente que a primeira ordem mas menos abertamente que a última. A função reveladora pertence à ordem dos Principados, Arcanjos e Anjos. É ela que através dos graus da sua própria ordenação preside as hierarquias humanas, a fim de que se produzam de modo ordenado a elevação para Deus, a conversão, a comunhão, a união e ao mesmo tempo o movimento que provem de Deus que gratifica liberalmente todas as hierarquias e dons e as ilumina, fazendo com que essas  hierarquias humanas entrem em comunhão com essa função reveladora. Daí resulta, que a teologia reserva aos Anjos o cuidado pela nossa hierarquia chamando a Miguel o arconte (magistrado da Grécia antiga) do povo judeu e aos outros anjos arcontes de outras nações, porque: "Quando o Altíssimo dividiu as nações, quando separou os filhos de Adão, fixou os limites dos povos segundo os números dos filhos de Israel" (Dt 32:8) (versão dos 70). Se nos perguntarmos como é que apenas o povo judeu foi elevado às iluminações de origem divina? É necessário dizer que os anjos preencheram de justiça a sua função de vigilância e não é culpa deles se outras nações se envolveram no culto de falsos deuses. Foram essas nações, com efeito, que pelos seus próprios movimentos abandonaram a via da ascensão espiritual para o divino. Foi à medida do seu orgulho e da sua presunção que elas veneraram os ídolos que lhes pareciam divinos. O povo hebreu testemunha propriamente essa verdade, pois a ele sucedeu-se o mesmo acidente. Porque as Sagradas Escrituras dizem: "O meu povo calou-se, porque não teve ciência. Porque tu (ó sacerdote) rejeitaste a ciência, também Eu te rejeitarei a ti" (Os 4:6).
Os três anjos acolhidos por Abraão, obra de
Ludovico Carracci

Nem a nossa vida é necessariamente determinada, nem a liberdade dos seres submetidos à Providência das luzes divinas priva essas luzes do seu poder de iluminação providencial. Mas é a suficiente assimilação das visões — e da sabedoria que por elas é transmitida — que impede toda a participação nos dons luminosos da bondade paternal e constitui obstáculo a sua difusão, na medida em que torna as comunicações desiguais, pequenas ou grandes, obscuras ou claras, enquanto que a Fonte Radiante permanece única e simples sempre idêntica a si própria e superabundante. É assim mesmo entre as outras nações, nações das quais nós nos elevamos para o oceano indefinido e generoso dessa Luz Divina, que difunde os Seus dons sobre todos os seres. É para o único Princípio Universal que os anjos encarregados de cuidar de cada nação elevaram todos aqueles que os quiseram seguir. Lembremo-nos de Melquisedec que teve em si próprio um grande amor a Deus, do Deus Altíssimo e Verdadeiro. Os conhecedores da Sabedoria Divina não se contentaram em chamá-lo de amigo de Deus, mas chamaram-no de Sacerdote para indicar claramente aos homens sensatos que o seu papel não foi somente o de converter-se ao culto do verdadeiro Deus, mas ainda enquanto grande sacerdote teve a função de conduzir a outros na ascensão espiritual, a qual leva à Única e Verdadeira Divindade. "E Melquisedec, rei de Salém, trazendo pão e vinho, porque era sacerdote do Deus Altíssimo" (Gên 14:18).

Não nos esqueçamos do faraó que aprendeu sob a forma de visão de um anjo dedicado ao cuidado dos egípcios (Gên 41:1-7), tal como do príncipe dos Babilônios que aprendeu através do seu anjo particular; a solicitude do poder universal (Dan 12). Ministros do verdadeiro Deus, os anjos foram instituídos como condutores dessas nações para interpretarem as visões enviadas por Deus sob a forma alegórica, por intermédio de homens cuja santidade era próxima a dos anjos como Daniel e José; porque no Universo há um só Princípio e uma só Providência. Não poderíamos imaginar que Deus partilhasse o governo do povo judeu com anjos ou falsos deuses. As expressões que nos poderiam fazer crer nisso, devem ser interpretadas segundo um sentido sagrado. Elas não significam que Deus tenha partilhado o governo da humanidade, mas sim que neste mundo em que a Providência universal do Altíssimo tinha confiado para a salvação de todos os povos com anjos encarregados de os conduzir a Ele, foi só Israel que converteu-se à Luz e confessou o verdadeiro Senhor. Por isso, para mostrar que Israel tinha se devotado ao culto do verdadeiro Deus as Sagradas Escrituras exprimem-se assim: "A porção, porém, do Senhor é o Seu povo" (Dt 32:9).

Mas para mostrar que um dos anjos foi designado para a função de conduzir esse povo à confissão d’Aquele que é o Princípio Único e Universal, a teologia relata igualmente que Miguel preside ao governo do povo judeu. "Mas Eu te anuciarei o que está expresso na Escritura da Verdade; e em todas estas coisas ninguém Me ajuda senão Miguel, que é o vosso príncipe" (Dan 10:21).

As Sagradas Escrituras nos ensinam assim de modo claro, que não existe mais do que uma só Providência para o universo inteiro. Providência sobreessencialmente, transcendente a toda a potência visível ou invisível. Na medida do possível, todos os anjos dedicados a cada nação elevam para essa Providência aqueles que os seguem de bom grado.



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