30 de jul. de 2013

Ide sem medo para servir

Amados irmãos e irmãs,
Queridos jovens!

Ide e fazei discípulos entre todas as nações. Com estas palavras, Jesus se dirige a cada um de vocês, dizendo: Foi bom participar nesta Jornada Mundial da Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra, mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais. Jesus lhe chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos de ouvir, o que nos diz o Senhor? Que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para servir.

1. Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer, amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm 10,9).

Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, vão; mas disse: Ide e fazei discípulos entre todas as nações. Partilhar a experiência da fé, testemunhar a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja, também a você. É uma ordem, sim; mas não nasce da vontade de domínio, da vontade de poder. Nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para junto de nós e não nos deu somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, Ele deu a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não nos trata como escravos, mas como pessoas livres, como amigos, como irmãos; e não somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de amor.

Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o calor da sua misericórdia e do seu amor.

De forma especial, queria que este mandato de Cristo - Ide - ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo! Paulo exclama: Ai de mim se eu não pregar o evangelho! (1Co 9,16). Este Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro jovem! Este é o caminho a ser percorrido por vocês!

2. Sem medo. Alguém poderia pensar: Eu não tenho nenhuma preparação especial, como é que posso ir e anunciar o Evangelho? Querido amigo, esse seu temor não é muito diferente do sentimento que teve Jeremias – acabamos de ouvi-lo na leitura – quando foi chamado por Deus para ser profeta: Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito novo. Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: Não tenhas medo... pois estou contigo para defender-te (Jr 1,8). Deus está conosco!

Não tenham medo! Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: Eu estou com vocês todos os dias (Mt 28,20). E isto é verdade também para nós! Jesus nunca deixa ninguém sozinho! Sempre nos acompanha.

Além disso, Jesus não disse: Vai, mas Ide: somos enviados em grupo. Queridos jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes, descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os Apóstolos para que vivessem isolados; chamou-lhes para que formassem um grupo, uma comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Certamente isso lhes rejuvenesceu a todos. O jovem contagia-nos com a sua juventude. Mas esta é apenas uma etapa do caminho. Por favor, continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos! E aqui desejo agradecer cordialmente aos grupos de pastoral juvenil, aos movimentos e novas comunidades que acompanham os jovens na sua experiência de serem Igreja, tão criativos e tão audazes. Sigam em frente e não tenham medo!

A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas palavras: Cantai ao Senhor Deus um canto novo (Sl 95, 1). Qual é este canto novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos, os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os demais, a vida de Jesus é uma vida para os demais. É uma vida de serviço.

São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco, dizia: Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível (1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se escravo de todos. Evangelizar significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos, tal como fez Jesus.

Três palavras: Ide, sem medo, para servir. Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras, vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a alegria da fé, recebe mais alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar (Jr 1,10). E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Queridos jovens, Jesus Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: Ide e fazei discípulos entre todas as nações. Amém.

-- Papa Francisco, Homília da Santa Missa da Jornada Mundial da Juventude, 29 de Julho de 2013

28 de jul. de 2013

O Campo da Fé

Queridos jovens,

Contemplando vocês que hoje estão aqui presentes, me vem à mente a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo, ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: Francisco, vai e repara a minha casa. E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamada do Senhor para reparar sua casa. Mas qual casa? Aos poucos, ele percebe que não se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de dar a sua contribuição para a vida da Igreja; era colocar-se ao serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre mais a Face de Cristo.

Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua Igreja. Queridos jovens, o Senhor precisa de vocês! Ele também hoje chama a cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja e ser missionário. Hoje, queridos jovens, o Senhor lhes chama! Não em magote, mas um a um… a cada um. Escutem no coração aquilo que lhes diz. Penso que podemos aprender algo daquilo que sucedeu nestes dias: por causa do mau tempo, tivemos de suspender a realização desta Vigília no “Campus Fidei”, em Guaratiba. Não quererá porventura o Senhor dizer-nos que o verdadeiro “Campus Fidei”, o verdadeiro Campo da Fé não é um lugar geográfico, mas somos nós mesmos? Sim, é verdade! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos. E ser discípulo missionário significa saber que somos o Campo da Fé de Deus. Ora, partindo da denominação Campo da Fé, pensei em três imagens que podem nos ajudar a entender melhor o que significa ser um discípulo missionário: a primeira imagem, o campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento; e a terceira, o campo como canteiro de obras.

1. Primeiro: o campo como lugar onde se semeia. Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo campo lançando sementes; algumas caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão muito fruto (cf. Mt 13,1-9). Jesus mesmo explica o sentido da parábola: a semente é a Palavra de Deus que é lançada nos nossos corações (cf. Mt 13,18-23). Hoje – todos os dias, mas de forma especial hoje – Jesus semeia. Quando aceitamos a Palavra de Deus, então somos o Campo da Fé! Por favor, deixem que Cristo e a sua Palavra entrem na vida de vocês, deixem entrar a semente da Palavra de Deus, deixem que germine, deixem que cresça. Deus faz tudo, mas vocês deixem-no agir, deixem que Ele trabalhe neste crescimento!

Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Creio que podemos, com honestidade, perguntar-nos: Que tipo de terreno somos, que tipo de terreno queremos ser? Quem sabe se, às vezes, somos como o caminho: escutamos o Senhor, mas na nossa vida não muda nada, pois nos deixamos aturdir por tantos apelos superficiais que escutamos. Eu pergunto-lhes, mas agora não respondam, cada um responde no seu coração: Sou uma jovem, um jovem  aturdido? Ou somos como o terreno pedregoso: acolhemos Jesus com entusiasmo, mas somos inconstantes;  diante das dificuldades, não temos a coragem de ir contra a corrente. Cada um de nós responda no seu coração: Tenho coragem ou sou um covarde? Ou somos como o terreno com os espinhos: as coisas, as paixões negativas sufocam em nós as palavras do Senhor (cf. Mt 13, 18-22). Em meu coração, tenho o hábito de jogar em dois papéis: fazer bela figura com Deus e fazer bela figura com o diabo? O hábito de querer receber a semente de Jesus e, ao mesmo tempo, irrigar os espinhos e as ervas daninhas que nascem no meu coração? Hoje, porém, eu tenho a certeza que a semente pode cair em terra boa. Nos testemunhos, ouvimos como a semente caiu em terra boa. "Não, Padre, eu não sou terra boa! Sou uma calamidade, estou cheio de pedras, de espinhos, de tudo". Sim, pode suceder que à superfície seja assim, mas você liberte um pedacinho, um bocado de terra boa e deixe que caia lá a semente e verá como vai germinar. 

Eu sei que vocês querem ser terreno bom, cristãos de verdade; e não cristãos pela metade, nem cristãos “engomadinhos”, cujo cheiro os denuncia pois parecem cristãos mas no fundo, no fundo não fazem nada; nem cristãos de fachada, cristãos que são “pura aparência”, mas sim cristãos autênticos. Sei que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade inconsistente que se deixa arrastar pelas modas e as conveniências do momento. Sei que vocês apostam em algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido. É assim ou estou enganado? É assim? Bem; se é assim, façamos uma coisa: todos, em silêncio, fixemos o olhar no coração e cada um diga a Jesus que quer receber a semente. Digam a Jesus: Vê, Jesus, as pedras que tem, vê os espinhos, vê as ervas daninhas, mas vê este pedacinho de terra que te ofereço para que entre a semente. Em silêncio, deixemos entrar a semente de Jesus. Lembrem-se deste momento, cada um sabe o nome da semente que entrou. Deixem-na crescer, e Deus cuidará dela.

2. O campo...O campo, para além de ser um lugar de sementeira, é lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que “joguemos no seu time”. A maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros países, o futebol é paixão nacional. Sim ou não? Ora bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em um time? Deve treinar, e muito! Também é assim a nossa vida de discípulos do Senhor. Descrevendo os cristãos, São Paulo nos diz: "Todo atleta se impõe todo tipo de disciplina. Eles assim procedem, para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa incorruptível!" (1Co 9, 25). Jesus nos oferece algo superior à Copa do Mundo! Algo superior à Copa do Mundo! Jesus oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda, de uma vida feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim, na vida eterna. É o que nos oferece Jesus, mas pede para pagarmos a entrada; e a entrada é que treinemos para estar “em forma”, para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, testemunhando a nossa fé. Através do diálogo com Ele: a oração. Padre, agora vai pôr-nos todos a rezar? Porque não? Pergunto-lhes… mas respondam no seu coração, não em voz alta mas no silêncio: Eu rezo? Cada um responda. Eu falo com Jesus ou tenho medo do silêncio? Deixo que o Espírito Santo fale no meu coração? Eu pergunto a Jesus: Que queres que eu faça, que queres da minha vida? Isto é treinar-se. Perguntem a Jesus, falem com Jesus. E se cometerem um erro na vida, se tiverem uma escorregadela, se fizerem qualquer coisa de mal, não tenham medo. Jesus, vê o que eu fiz! Que devo fazer agora? Mas falem sempre com Jesus, no bem e no mal, quando fazem uma coisa boa e quando fazem uma coisa má. Não tenham medo d’Ele! Esta é a oração. E assim treinam no diálogo com Jesus, neste discipulado missionário! Através dos sacramentos, que fazem crescer em nós a sua presença. Através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem marginalizar ninguém. Queridos jovens, que vocês sejam verdadeiros “atletas de Cristo”!

3. E terceiro: o campo como canteiro de obras. Aqui mesmo vimos como se pôde construir uma igreja: indo e vindo, os jovens e as jovens deram o melhor de si e construíram a Igreja. Quando o nosso coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando “se sua a camisa” procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo caminho; somos parte da Igreja. Esses jovens, essas jovens não estavam sós, mas, juntos, fizeram um caminho e construíram a Igreja; juntos, realizaram o que fez São Francisco: construir, reparar a Igreja. Eu lhes pergunto: Querem construir a Igreja? [Sim…] Se animam uns aos outros a fazê-lo? [Sim…] E amanhã terão esquecido este "sim" que disseram? [Não…] Assim gosto! Somos parte da Igreja; mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja e protagonistas da história. Jovens, por favor, não se ponham na "cauda" da história. Sejam protagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para diante, construam um mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de amor, de paz, de fraternidade, de solidariedade. Jogai sempre ao ataque! São Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos a miniatura de uma igreja, construída com pedras vivas. Na Igreja de Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua Igreja; cada um de nós é uma pedra viva, é um pedacinho da construção e, quando vem a chuva, se faltar aquele pedacinho, temos infiltrações e entra a água na casa. E não construam uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas. Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: "Ide e fazei discípulos entre todas as nações!" Nesta noite, respondamos-lhe: Sim, Senhor! Também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus! Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo! Atrevem-se a repetir isto? Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo! Digam agora… [os jovens repetem]. Depois devem se lembrar que o disseram juntos.

O coração de vocês, coração jovem, quer construir um mundo melhor. Acompanho as notícias do mundo e vejo que muitos jovens, em tantas partes do mundo, saíram pelas estradas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas estradas; são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem para outros o ser protagonistas da mudança! Vocês são aqueles que tem o futuro! Vocês… Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta mudança. Continuem a vencer a apatia, dando uma resposta cristã às inquietações sociais e políticas que estão surgindo em várias partes do mundo. Peço-lhes para serem construtores do mundo, trabalharem por um mundo melhor. Queridos jovens, por favor, não "olhem da sacada" a vida, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… "Não olhem da sacada" a vida, mergulhem nela, como fez Jesus.

Resta, porém, uma pergunta: Por onde começamos? A quem pedimos para iniciar isso? Por onde começamos? Uma vez perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar na Igreja; queremos começar, mas por qual parede? Por onde – perguntaram a Madre Teresa – é preciso começar? Por ti e por mim: respondeu ela. Tinha vigor aquela mulher! Sabia por onde começar. Hoje eu roubo a palavra a Madre Teresa e digo também a você: Começamos? Por onde? Por ti e por mim! Cada um, de novo em silêncio, se interrogue: se devo começar por mim, por onde principio? Cada um abra o seu coração, para que Jesus lhe diga por onde começar.

Queridos amigos, não se esqueçam: Vocês são o Campo da Fé! Vocês são os atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir Jesus, nos dá o exemplo com o seu "sim" a Deus: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra" (Lc 1,38). Também nós o dizemos a Deus, juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!

-- Papa Francisco, 28 de Julho de 2013

-- OBS: esta é a catequese do papa na noite de Vigilia com os jovens, não é a homília durante a Santa Missa deste domingo, como consta no site do Vaticano. 
-- OBS2: O site do Vaticano já corrigiu o link.

27 de jul. de 2013

A Cruz de Cristo

Queridos jovens,

Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de amor, o caminho da Cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial da Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o Bem-aventurado João Paulo II quis confiar a Cruz a vocês, jovens, dizendo-lhes: "Levai-a pelo mundo, como sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo morto e ressuscitado há salvação e redenção" (Palavras aos jovens [22 de abril de 1984]). A partir de então a Cruz percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida de tantos jovens que a viram e carregaram. Queridos irmãos, ninguém pode tocar a Cruz de Jesus sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da Cruz de Jesus para sua própria vida. Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos seus corações: O que vocês terão deixado na Cruz, queridos jovens brasileiros, nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a Cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta Cruz ensina para a nossa vida?

1. Uma tradição antiga da Igreja conta que o apóstolo Pedro estava saindo de Roma para escapar da perseguição de Nero quando viu que jesus caminhava em direção contrária. Então lhe perguntou: Senhor, onde vais? A resposta de Jesus foi: Vou a Roma para ser crucificado novamente. Naquele momento Pedro compreendeu que deveria seguir o Senhor com valentia, até o final, porém entendeu subretudo que nunca estaria sozinho no caminho, com ele estaria sempre aquele Jesus que havia amado até morrer.Vejam, Jesus com sua cruz percorre nossas ruas e carrega nossos medos, nossos problemas, nossos sofrimentos, tambem os mais profundos. Com a Cruz Jesus se une ao silêncio das vítimas de violência, que já não podem gritar, sobretudo aos inocentes e indefesos; com a Cruz, Jesus se une às famílias que se encontram em dificuldades e que choram com a trágica perda dos seus filhos, como no caso dos duzentos e quarenta jovens vítimas do incêndio na cidade de Santa Maria no início deste ano. Rezemos por eles. Com a Cruz, Jesus se una a todas pessoas que sentem fome em um mundo que, por outro lado, se permite ao luxo de a cada dia desperdiçar toneladas de alimentos. Coma Cruz, Jesus está junto aos pais e mães que sofrem ao ver seus filhos vítimas de paraísos artificiais, como as drogas. Coma Cruz, Jesus se une a quem é perseguido por causa da religião, por suas idéias, ou simplemente a cor da sua pele; na Cruz, Jesus está junto de tantos jovens que perderam a confiança nas intituições políticas porque vêem egoísmo e corrupção, ou que tenham perdido sua fé na Igreja, e inclusive em Deus, pela incoerência dos cristãos e ministros do Evangelho. Quanto Jesus sofre com nossas incoerências. Na Cruz de Cristo está o sofrimento, o pecado do homeme, também o nosso pecado, e Ele acolhe de braços abertos, carrega sobre suas costas nossas cruzes e nso diz: Animo! Não carregas tua Cruz sozinho! Eu a carrego contigo, eu venco a morte e vim para te dar esperança, para te dar a vida! (Jo 3,16).

2. Podemos agora responder à segunda pergunta: O que fez a Cruz ao que a tenham visto e tocado? O que deia em cada um de nós? Vejam, deixa um bem que nenhuma outra coisa pode nos dar: a certeza do amor fiel de Deus por nós. Um amor tão grande que entra em nosso pecado e perdoa; entra em nosso sofrimento e nos dá força para superá-lo; entra também na morte para vencê-la e salvar-nos. Na Cruz de Cristo está todo amor de Deus, está sua imensa misericórdia. É um amor no qual podemos confiar, podemos acreditar. Queridos jovens, confiemos em Deus. Porque Ele nunca mente a ninguém. Somente em Cristo morto e ressuscitado entramos a salvação e redenção. Com Ele, o mal, o sofrimento e a morte não tem a última palavra, porque Ele nos dá esperança e vida. Ele transformou a Cruz de um um instrumento de ódio, derrota e morte em um sinal de amor, vitória, triunfo e vida.

O primero nome do Brasil foi justamente "Terra da Santa Cruz". A Cruz de Cristo foi plantada não apenas no solo de uma praia há mais de cinco séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e muitos outros povos. Nos entimos próximos do Cristo que sofre, uma pessoa que compartilha do nosso caminho até o final. Não há nada em nossa vida cruz, pequena ou grande que seja, que o Senhor não compartilhe conosco.

3. Porém a Cruz nos convida também a deixarmo-nos contagiar por este amor, nos ensina a olhar sempre ao outro com misericórdia e amor, sobretudo aquele que sofre, aquele que tem necessidade de ajuda, a quem espera uma palavra, um gesto. A Cruz nos convida a sair de nós mesmos para ir ao encontro deles e estender a mão. Muitos rostos, temos visto na Via Crucis, mutos rostos acompanhara Jesus no caminho do Calvário: Pilatos, Simão Cirineu, Maria, as mulheres. HOje eu te pergunto: vocês, quem querem ser? Queres ser como Pilatos, que não tem a valentia de ir contra a corrente para salvar a vida de Jesus e lava as mãos? Diga-me: vocês são daqueles que lavam as mãos, se fazem de distraídos e olham para o outro lado, ou são como o cirineu, que ajuda jesus a levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não tem medo de acompanhar a Jesus até o final, com amor e ternura. E vocês, com que querem parecer? Como Pilatos, como o Cireneu ou como Maria? Jesus está te olhando agora e diz: queres me ajudar a levar a Cruz? Irmão e irmãs, com toda tua força, o que lhe respondes?

Queridos jovens, levemos nossas alegrias, sofrimentos, fracassos a Cruz de Cristo; encontraremos um coração aberto quenos compreende, pedoa, ama e pede para levar este mesmo amor em nossa vida, amar a cada irmão e irmã com este mesmo amor.

--Papa Francisco, em 26 de Julho de 2013.

25 de jul. de 2013

Por uma sociedade justa

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Que bom poder estar com vocês aqui! Que bom! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um "cafezinho" - não um copo de cachaça! - falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês; esta comunidade, que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras.

Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! Se pode colocar mais água no feijão? … Sempre? ... E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!

E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra – esta palavra solidariedade – é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Quase parece um palavrão… solidariedade! Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é, não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável; não é ela, mas sim a cultura da solidariedade; a cultura da solidariedade é ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos!

Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Não deixemos, não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável! Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos. Ninguém é descartável! Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pensemos na multiplicação dos pães de Jesus! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!

Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Fome de dignidade. Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.

Queria dizer uma última coisa, uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Hein, jovens! Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10).

Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção. Obrigado!

-- Papa Francisco, em 25 de Julho de 2013

Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria

Eminentíssimo Senhor Cardeal,

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!


Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.

Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas, três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo - que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui neste Santuário: "O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]).

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: "Fazei o que Ele vos disser" (Jo 2,5). Sim, Mãe, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.

-- Papa Francisco, Homília no Santuário de Nossa Senhora Aparecida, 24 de Julho de 2013

23 de jul. de 2013

Panis Angelicus - Pão Angelical

Durante a Comunhão na Missa de Abertura da JML foi cantada uma música que chama-se Panis Angelicus. 

Panis Angelicus é um dos cinco hinos escritos por São Tomás de Aquino para a Festa de Corpus Christi como parte da liturgia do dia. As duas últimas estrofes do hino Sacris Solemnis foram extraidas para especial ênfase e cantadas como antífonas. 

A versão cantada durante a missa foi composta em 1872 por Cesar Frank e, posteriormente, incorporada a Missa para Três Vozes, Opus 12. O vídeo é do Frei Alessandro e tem várias cenas em Assis, Itália.



Hino em Latim:
Panis angelicus
fit panis hominum;
Dat panis coelicus
figuris terminum:
O res mirabilis!
manducat Dominum
Pauper, servus, et humilis.

Tradução:
O pão angelical
se converte em pão dos pobres;
O pão do céu
acaba com as antigas figuras:
Óh, acontecimento admirável!
Os pobres, os servos e os  humildes
se alimentam do Senhor!


22 de jul. de 2013

A remuneração do trabalho: critérios de justiça e de eqüidade

Amargura profunda invade o nosso espírito diante do espetáculo tristíssimo de inumeráveis trabalhadores em muitas nações e continentes inteiros, os quais recebem um salário que os submete, a eles e às famílias, a condições de vida infra-humanas. Isto deve-se também a estar nos seus primórdios, ou numa fase de insuficiente desenvolvimento, o processo da industrialização nessas nações e continentes.

Mas, em alguns desses países, a abundância e o luxo desenfreado de uns poucos privilegiados contrasta, de maneira ofensiva, com as condições de mal-estar extremo da maioria; noutras nações obriga-se a atual geração a viver privações desumanas para o poder econômico crescer segundo um ritmo de aceleração que ultrapassa os limites marcados pela justiça e pela humanidade; e noutras, parte notável do rendimento nacional consome-se em reforçar ou manter um mal-entendido prestígio nacional, ou gastam-se somas altíssimas nos armamentos.

Além disso, nos países economicamente desenvolvidos, não é raro que para trabalhos pouco absorventes ou de valor discutível recebam salários enormes, enquanto que as correspondentes ao trabalho assíduo e duro de categorias inteiras de cidadãos honestos e operosos são demasiado reduzidas, insuficientes ou, pelo menos, desproporcionais à ajuda que prestam à comunidade, ou com o rendimento da respectiva empresa, ou com o rendimento total da economia da nação.

Julgamos, pois, dever nosso afirmar uma vez mais que a retribuição do trabalho, assim como não pode ser inteiramente abandonada às leis do mercado, também não pode fixar-se arbitrariamente; há de estabelecer-se segundo a justiça e a eqüidade. É necessário que aos trabalhadores se dê um salário que lhes proporcione um nível de vida verdadeiramente humano e lhes permita enfrentar com dignidade as responsabilidades familiares. 

É preciso igualmente que, ao determinar-se os salários, se tenham em conta o concurso efetivo dos trabalhadores para a produção, as condições econômicas das empresas e as exigências do bem comum nacional. Considerem-se de modo especial as repercussões sobre o emprego global das forças de trabalho dentro do país inteiro, e ainda as exigências do bem comum universal, isto é, as que dizem respeito às comunidades internacionais, de natureza e extensão diversas.

-- Da Encíclica Mater et Magistra, Papa João XXIII, publicado em 15 de Maio de 1961

15 de jul. de 2013

Festa de Nossa Senhora do Carmo: Maria concebeu primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo

Uma virgem da descendência real de Davi foi escolhida para a sagrada maternidade; iria conceber um filho, Deus e homem, primeiro em seu espírito, e depois em seu corpo. E para evitar que, desconhecendo o desígnio de Deus, ela se perturbasse perante efeitos tão inesperados, ficou sabendo, no colóquio com o anjo, que era obra do Espírito Santo o que nela se realizaria. Maria, pois, acreditou que, estando para ser em breve Mãe de Deus, sua pureza não sofreria dano algum. Como duvidaria desta concepção tão original, aquela a quem é prometida a eficácia do poder do Altíssimo? A sua fé e confiança são ainda confirmadas pelo testemunho de um milagre anterior: a inesperada fecundidade de Isabel. De fato, quem tornou uma estéril capaz de conceber, pode também fazer com que uma virgem conceba.

Portanto, a Palavra de Deus, que é Deus, o Filho de Deus, que no princípio estava com Deus, por quem tudo foi feito e sem ela nada se fez (cf. Jo 1,2-3), a fim de libertar o homem da morte eterna, se fez homem. Desceu para assumir a nossa humildade, sem diminuir a sua majestade. Permanecendo o que era e assumindo o que não era, uniu a verdadeira condição de escravo à condição segundo a qual ele é igual a Deus; realizou assim entre as duas naturezas uma aliança tão admirável que, nem a inferior foi absorvida por esta glorificação, nem a superior foi diminuída por esta elevação.

Desta forma, conservando-se a perfeita propriedade das duas naturezas que subsistem em uma só pessoa, a humildade é assumida pela majestade, a fraqueza pela força, a mortalidade pela eternidade. Para pagar a dívida contraída pela nossa condição pecadora, a natureza invulnerável uniu-se à natureza passível; e a realidade de verdadeiro Deus e verdadeiro homem associa-se na única pessoa do Senhor. Por conseguinte, aquele que é um só mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), como exigia a nossa salvação, morreu segundo a natureza humana e ressuscitou segundo a natureza divina. Com razão, pois, o nascimento do Salvador conservou intacta a integridade virginal de sua mãe; ela salvaguardou a pureza, dando à luz a Verdade.  

Tal era, caríssimos filhos, o nascimento que convinha a Cristo, poder e sabedoria de Deus. Por este nascimento, ele é semelhante a nós pela sua humanidade, e superior a nós pela sua divindade. De fato, se não fosse verdadeiro Deus, não nos traria o remédio; se não fosse verdadeiro homem, não nos serviria de exemplo.  

Por isso, quando o Senhor nasceu, os anjos cantaram cheios de alegria: Glória a Deus no mais alto dos céus, e anunciaram paz na terra aos homens por ele amados (Lc 2,14). Eles veem, efetivamente, a Jerusalém celeste ser construída pelos povos do mundo inteiro. Por tão inefável prodígio da bondade divina, qual não deve ser a alegria da nossa humilde condição humana, se até os sublimes coros dos anjos se rejubilam?

-- Dos Sermões, de São Leão Magno, papa (século V)


-- A Festa de Nossa Senhora do Carmo é celebrada em 16 de Julho

12 de jul. de 2013

Creio em Único Deus - Mozart

A Grande Missa em Dó Menor, de Mozart, é uma das obras mais geniais do compositor. Pouco se sabe sobre a criação da obra, em 1782/83, e foi apresentada pela primeira vez na Igreja de Saint Pierre, Salzburg, em 26 de Outubro de 1783. 

Esta missa foi a primeira obra composta por iniciativa de Mozart, sem ter sido encomendada. Isto explica por que demorou tanto na sua composição, pois foi escrita no seu tempo livre, enquanto atendia pedidos de seus clientes. Numa carta ao pai, Mozart explica que foi uma promessa pelo restabelecimento da esposa Constance. No entanto, para os padrões atuais, a missa está incompleta. Por exemplo, como o Credo não era recitado nas missa do Tempo Comum, Mozart musicou apenas a parte inicial da oração.

O vídeo abaixo mostra a apresentação em Cadogan Hall, Londres, em 7 de Julho de 2011. O maestro é Ivor Setterfield; as sopranos são Elizabeth Weisberg e Grace Davidson; acompanhadas pela Orquestra Sinfônica de Trafalgar e Coro Barts. O Coral segue a forma latina da oração.


Credo in unum Deum, Patrem omnipoténtem, factorem cæli et terræ, visibílium ómnium et invisibílium.

Et in unum Dóminum Iesum Christum, Fílium Dei unigénitum, et ex Patre natum, ante ómnia sæcula. Deum de Deo, lumen de lúmine, Deum verum de Deo vero, génitum, non factum, consubstantiálem Patri: per quem ómnia facta sunt. Qui propter nos hómines et propter nostram salútem descéndit de cælis. 
(aqui termina a obra de Mozart)

Et incarnátus est de Spíritu Sancto ex María Vírgine, et homo factus est. Crucifíxus étiam pro nobis sub Póntio Piláto; passus et sepúltus est, et resurréxit tértia die, secúndum Scriptúras, et ascéndit in cælum, sedet ad déxteram Patris. Et íterum ventúrus est cum glória, iudicáre vivos et mórtuos, cuius regni non erit finis.

Et in Spíritum Sanctum, Dóminum et vivificántem: qui ex Patre Filióque procédit. Qui cum Patre et Fílio simul adorátur, et conglorificátur: qui locútus est per Prophétas.
Et unam, sanctam, cathólicam et apostólicam Ecclésiam.
Confíteor unum baptísma in remissiónem peccatorum. Et expecto resurrectionem mortuorum, et vitam ventúri sæculi. Amen.

9 de jul. de 2013

Salmo 64: A alegria das criaturas de Deus pela Sua providência

Peaceful Kingdon, obra de John August Swanson
A nossa viagem pelos Salmos da Liturgia das Laudes leva-nos agora a um hino, que nos seduz sobretudo pelo maravilhoso quadro primaveril da última parte (cf. Sl 64, 10-14), um cenário cheio de vigor, esmaltado de cores, percorrido por vozes de alegria.

Na realidade, o Salmo 64 tem uma estrutura mais ampla, fruto do entrelaçamento de duas tonalidades diferentes:  em primeiro lugar, sobressai o tema histórico do perdão dos pecados e do acolhimento junto de Deus (cf. vv. 2-5); depois, é feita menção do tema cósmico da ação de Deus em relação aos mares e aos montes (cf. vv. 6-9a); por fim, é desenvolvida a descrição da primavera (cf. vv. 9b-14):  no panorama cheio de sol e árido do Próximo Oriente, a chuva fecundante é a expressão da fidelidade do Senhor à criação (cf. Sl 103, 13-16). Para a Bíblia, a criação é a sede da humanidade e o pecado é um atentado à ordem e à perfeição do mundo. Portanto, a conversão e o perdão dão de novo integridade e harmonia ao cosmos.

A primeira parte do Salmo leva-nos ao interior do templo de Sião. Ali acorre o povo com suas misérias morais, para invocar a libertação do mal (cf. Sl 64, 2-4a). Uma vez obtida a absolvição das culpas, os fiéis sentem-se hóspedes de Deus, próximos d'Ele, prontos para serem admitidos à sua mesa e para participarem na festa da intimidade divina (cf. vv. 4b-5).

Depois, o Senhor que se eleva no templo é representado com um perfil glorioso e cósmico. De fato, diz-se que Ele é a "esperança dos confins da terra e dos mares longínquos... firma as montanhas com a Sua força... aplaca o bramido dos mares, o estrondo das vagas... os que habitam os confins da terra tremem perante os Seus prodígios", do Oriente até ao Ocidente (cf. vv. 6-9).

No interior desta celebração de Deus Criador, encontramos um acontecimento que desejo realçar:  o Senhor consegue dominar e silenciar até o estrondo das águas do mar, que na Bíblia simbolizam a desordem, em oposição à ordem da criação (cf. Jb 38, 8-11). Eis a forma de exaltar a vitória divina não só sobre o nada, mas também sobre o mal:  por este motivo ao "bramido do mar" e ao "estrondo das suas ondas" associa-se também "o tumulto dos povos" (cf. Sl 64, 8), isto é, a rebelião dos soberbos.

Santo Agostinho comenta de maneira eficaz:  "O mar representa o mundo actual:  amargo de salsugem, agitado pela tempestade, onde os homens com a sua cupidez pervertida e desordenada, se tornam como os peixes que se devoram uns aos outros. Olhai para este mar agitado, para este mar amargo, cruel com as suas ondas!... Irmãos, não nos comportemos assim, porque o Senhor é a esperança de todos os confins da terra" (Exposição sobre os Salmos II, Roma 1990, pág. 475).

A conclusão que o Salmo nos sugere é fácil:  aquele Deus, que elimina a confusão e o mal do mundo e da história, pode vencer e perdoar a maldade e o pecado que o orante leva consigo e apresenta no templo, com a certeza da purificação divina.

A este ponto, entram no cenário as outras águas:  as da vida e da fecundidade, que na Primavera regam a terra e, em pensamento, representam a vida nova do fiel perdoado. Os versículos finais do Salmo (cf. Sl 64, 10-14), como se dizia, encerram uma grande beleza e significado. Deus mata a sede da terra fendida pela aridez e pelo gelo do inverno, dessedentando-a com a chuva. O Senhor é semelhante a um agricultor (cf. Jo 15, 1), que faz crescer o grão e nascer a erva com o seu trabalho. Prepara o terreno,  irriga  os  sulcos,  revira os torrões,  rega  todas  as  partes  do seu campo.

O Salmista usa dez verbos para descrever esta amorosa acção do Criador em relação à terra, que é transfigurada numa espécie de criatura viva. De fato, "tudo canta a brada de alegria" (Sl 64, 14). A este propósito, são sugestivos os três verbos relacionados com o símbolo da veste:  "as colinas revestem-se de alegria, os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales enchem-se de trigais" (vv. 13-14). A imagem é a de uma pradaria salpicada pela candura das ovelhas; as colinas revestem-se talvez com os vinhedos, sinal de alegria pelo seu produto, o vinho, que "torna alegre o coração do homem" (Sl 103, 15); os vales revestem-se com o manto dourado das searas. O versículo 12 recorda a coroa, que poderia fazer pensar nas grinaldas dos banquetes, colocadas na cabeça dos convidados (cf. 28, 1.5).

Todas juntas, as criaturas, como que numa procissão, dirigem-se ao Criador e Soberano, dançando e cantando, louvando e rezando. Mais uma vez a natureza torna-se um sinal eloquente da ação divina; é uma página aberta para todos, pronta para manifestar a mensagem nela delineada pelo Criador, porque "pela beleza e grandeza das criaturas pode chegar-se, por analogia, ao conhecimento do seu Autor" (Sab 13, 5; cf. Rm 1, 20). Contemplação teológica e abandono  poético  fundem- se  juntos neste  poema  e  tornam-se adoração e louvor.

Mas o encontro mais intenso, o que o Salmista tem em vista com todo o seu cântico, é aquele que une criação e redenção. Como a terra na Primavera ressurge pela acção do Criador, assim o homem ressurge do seu pecado pela acção do Redentor. Criação e história estão de tal forma sob o olhar providencial e salvífico do Senhor, que vence as águas agitadas e destruidoras e dá a água que purifica, fecunda e mata a sede. De fato, o Senhor "cura os atribulados de coração e pensa-lhe as chagas", mas também "cobre os céus com as nuvens e... prepara a chuva para a terra;... faz crescer as ervas nas montanhas" (Sl 146, 3.8).

Desta forma, o Salmo torna-se um cântico à graça divina. É ainda Santo Agostinho quem, ao comentar o nosso Salmo, recorda este dom transcendente e único:  "O Senhor nosso Deus diz ao teu coração:  eu sou a tua riqueza. Não te preocupes com aquilo que o mundo te promete, mas com o que te promete o Criador do mundo! Está atento ao que Deus te promete, se observares a justiça; e despreza aquilo que o homem te promete para te afastar da justiça. Não te preocupes, portanto, com aquilo que o mundo promete! Tem antes em consideração o que o Criador do mundo promete" (l.c., pág. 481).

-- Papa João Paulo II, na audiência de 6 de Março de 2002

7 de jul. de 2013

Testamento Espiritual de Santa Madre Paulina

Sede bem humildes. É Nosso Senhor quem faz tudo. Nós somos seus simples instrumentos.

Confiai sempre e muito na Divina Providência. Nunca,jamais desanimeis,embora venham ventos contrários. Novamente vos digo: Confiai em Deus e na Maria Imaculada. Permanecei firmes e adiante!

Recomendo-vos muito e muito a Santa Caridade entre vós e especialmente para com os doentes  das Santas Casas dos Asilos… Tende grande amor à prática da Santa Caridade.

Está terminada a minha missão. Morro contente. Dou, de todo o coração, a vós todas a minha benção.

* Escrito por Santa Madre Paulina, em São Paulo, 09 de julho de 1940 (século XX)

5 de jul. de 2013

Madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus

Amábile Lúcia Visintainer, hoje Santa Madre Paulina, nasceu aos 16 de dezembro de 1865, em Vigolo Vattaro, Província de Trento, Itália, naquele tempo região Sul-Tirol, sujeita à Áustria. Os pais, como toda a gente do lugar, eram ótimos cristãos, mas pobres.

Em setembro de 1875, a família de Napoleone Visintainer emigrou com muitos outros trentinos para o Brasil e no Estado de Santa Catarina, no atual município de Nova Trento, deram início à localidade de Vígolo.

Amábile, depois da primeira comunhão, recebida mais ou menos aos 12 anos, começou a participar no apostolado paroquial: Catecismo aos pequenos, visitas aos Doentes e limpeza da Capela de Vigolo.

No dia 12 de julho de 1890, junto com a amiga Virgínia Rosa Nicolodi, Amábile acolheu uma doente de câncer em fase terminal, dando início à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, aprovada pelo Bispo de Curitiba, Dom José de Camargo Barros, aos 25 de agosto de 1895.

Em dezembro de 1895, Amábile e as duas primeiras companheiras (Virgínia e Teresa Anna Maule) fizeram os votos religiosos; e Amábile recebeu o nome de Irmã Paulina do Coração Agonizante de Jesus. A santidade e a vida apostólica de Madre Paulina e de suas Irmãs atraíram muitas vocações, apesar da pobreza e das dificuldades em que viviam.

Em 1903, Madre Paulina foi eleita Superiora Geral por toda a vida pelas Irmãs da nascente congregação. Deixou Nova Trento e estabeleceu-se em São Paulo, no Bairro Ipiranga, onde se ocupou de crianças órfãs, filhos dos ex-escravos e dos escravos idosos e abandonados.

Em 1909, foi deposta do cargo de Superiora Geral pelo Arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, e enviada a trabalhar com os doentes da Santa Casa e os velhinhos do Asilo São Vicente de Paulo em Bragança Paulista, sem poder nunca mais ocupar algum cargo na sua Congregação.

Foram anos marcados pela oração, pelo trabalho e pelo sofrimento: tudo feito e aceito para que a Congregação das Irmãzinhas fosse adiante e “Nosso Senhor fosse conhecido, amado e adorado por todos em todo o mundo”.

Em 1918, com o consentimento de Dom Duarte, foi chamada pela Superiora Geral, Madre Vicência Teodora, sua sucessora, à “Casa Madre” no Ipiranga, e aí permaneceu até a morte, numa vida retirada, tecida de oração e assistência às Irmãs doentes, sendo também fonte de informação para a história da Congregação.

Como “Veneranda Madre Fundadora” foi colocada em destaque por ocasião do Decreto de Louvor concedido pela Santa Sé à Congregação das Irmãzinhas aos 19 de maio de 1933 e na celebração do cinqüentenário da fundação, aos 12 de julho de 1940, quando Madre Paulina fez o seu testamento espiritual: “Sede bem humildes, confiai sempre e muito na Divina Providência; nunca, jamais, desanimeis, embora venham ventos contrários. Novamente vos digo: confiai em Deus e em Maria Imaculada; permanecei firmes e adiante!”.

A partir de 1938, Madre Paulina começou a acusar graves distúrbios porque doente de diabete. Após duas cirurgias, nas quais sofreu amputação do dedo médio e depois do braço direito, passou os últimos meses vítima da cegueira. Morreu aos 9 de julho de 1942; e suas últimas palavras foram: “seja feita a vontade de Deus”. 

A espiritualidade inaciana, recebida de seus diretores espirituais, tem em Madre Paulina características próprias, que marcam a “Veneranda Madre Fundadora” como uma religiosa na qual se podem admirar as virtudes teologais, morais, religiosas em grau eminente ou heróico. Fé profunda e confiança ilimitada em Deus, amor apaixonado a Jesus-Eucaristia, devoção terna e filial à Maria Imaculada, devoção e confiança no “nosso bom Pai São José” e veneração pelas autoridades da Igreja, religiosas e civis. Caridade sem limites para com Deus, traduzidas em gestos de serviço aos irmãos mais pobres e abandonados. Toda vida de Madre Paulina pode ser resumida no título que o povo de Vígolo lhe deu: “enfermeira”, isto é, ser-para-os-outros ou “toda de Deus e toda dos Irmãos” como rezam, hoje, os seus devotos e suas Irmãzinhas. Humildade, que levou Madre Paulina ao aniquilamento de si mesma para que a Congregação fosse adiante.

A página mais luminosa da santidade e da humildade de Madre Paulina foi escrita pela conduta que teve quando Dom Duarte lhe anunciou a sua deposição: “Se ajoelhou... se humilhou... respondeu que estava prontíssima para entregar a Congregação... se oferecia espontaneamente para servir na Congregação como súdita”.

Terminado o capítulo de agosto de 1909, começava o holocausto doloroso e meritório de Madre Paulina, a quem o Arcebispo de São Paulo decretara: “Viva e morra na Congregação como súdita”. E permaneceu na sombra até a morte, em união com Deus, como declarou ao seu diretor espiritual, Pe. Luiz Maria Rossi, SJ: “a presença de Deus me é tão íntima que me parece impossível perdê-la e esta presença dá à minh‘alma uma alegria que não posso explicar”.

O carisma deixado por Madre Paulina para a sua Congregação se traduz na sensibilidade para perceber os clamores da realidade com suas necessidades e disponibilidade para servir, na Igreja, aos mais necessitados e aos que estão em situação de maior injustiça, com simplicidade, humildade e vida interior. É um servir alimentado por uma espiritualidade eucarístico-marial, pela qual toda a Irmãzinha faz de Jesus-Eucaristia o centro de sua vida alimentada por uma terna devoção à Virgem Imaculada e ao bom Pai São José.

Esta primeira Santa do Brasil foi beatificada pelo Papa João Paulo II aos 18 de outubro de 1991, em Florianópolis, Estado de Santa Catarina, Brasil; e canonizada pelo mesmo Papa em 5 de maio de 2002. Sua festa litúrgica é celebrada em 9 de Julho. 


2 de jul. de 2013

Deveres do homem

Papa João XXIII, governou a Igreja de 28/10/1958 a 03/07/1963
Aos direitos naturais do ser humano vinculam-se, no mesmo sujeito jurídico que é a pessoa, os respectivos deveres. Direitos e deveres encontram na lei natural que os outorga ou impõe, o seu manancial, a sua consistência, a sua força inquebrantável.

Assim, por exemplo, o direito à existência liga-se ao dever de conservar-se em vida, o direito a um condigno teor de vida, à obrigação de viver dignamente, o direito de investigar livremente a verdade, ao dever de buscar um conhecimento da verdade cada vez mais vasto e profundo.

Sendo os homens sociais por natureza, é mister convivam uns com os outros e promovam o bem mútuo. Por esta razão, é exigência de uma sociedade humana bem constituída que mutuamente sejam reconhecidos e cumpridos os respectivos direitos e deveres. Segue-se, igualmente, que todos devem trazer a sua própria contribuição generosa à construção de uma sociedade na qual direitos e deveres se exerçam com eficiência cada vez maiores. Não bastará, por exemplo, reconhecer o direito da pessoa aos bens indispensáveis à sua subsistência, se não envidarmos todos os esforços para que cada um disponha desses meios em quantidade suficiente.

A convivência humana, além de bem organizada, há de ser vantajosa para seus membros. Requer-se, pois, que todos reconheçam e cumpram direitos e deveres recíprocos. Exige ademais a dignidade da pessoa humana um agir responsável e livre. 

A convivência entre os seres humanos só poderá, pois, ser considerada bem constituída, fecunda e conforme à dignidade humana, quando fundada sobre o verdade, como adverte o apóstolo Paulo: "Abandonai a mentira e falai a verdade cada um ao seu próximo, porque somos membros uns dos outros" (Ef 4,25). Isso se obterá se cada um reconhecer devidamente tanto os próprios direitos, quanto os próprios deveres para com os demais. 

A ordem que há de vigorar na sociedade humana é de natureza espiritual. Com efeito, é uma ordem que se funda na verdade, que se realizará segundo a justiça, que se animará e se consumará no amor, que se recomporá sempre na liberdade, mas sempre também em novo equilíbrio cada vez mais humano.

Ora, essa ordem moral-universal, absoluta e imutável nos seus princípios – encontra a sua origem e o seu fundamento no verdadeiro Deus, pessoal e transcendente. Deus, verdade primeira e sumo bem, é o único e o mais profundo manancial, donde possa haurir a sua genuína vitalidade uma sociedade bem constituída, fecunda e conforme à dignidade de pessoas humanas. A isto se refere santo Tomás de Aquino, quando escreve: "a razão humana tem da lei eterna, que é a mesma razão divina, a prerrogativa de ser a regra da vontade humana, medida da sua bondade... Donde se segue que a bondade da vontade humana depende muito mais da lei eterna do que da razão humana".

-- Papa João XXIII, Encíclica Pacem in Terris, 11 de Abril de 1963

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