8 de jan. de 2014

A efusão do Espírito Santo sobre todos os homens

Tendo o Criador do universo decidido restaurar todas as coisas em Cristo, dentro da mais admirável e perfeita ordem, e restituir à natureza humana sua condição original, prometeu, junto com os outros dons que daria copiosamente, conceder o Espírito Santo. Pois, de outro modo o homem não poderia ser reintegrado na posse tranquila e permanente desses dons.

Determinou, portanto, o tempo em que o Espírito Santo desceria sobre nós, isto é, o da vinda de Cristo, prometendo com estas palavras: Naqueles dias, a saber, nos dias do Salvador, derramarei meu Espírito sobre todo ser humano (Jl 3,1).

Quando esse tempo de imensa e gratuita liberalidade trouxe ao mundo o Filho Unigênito encarnado, isto é, como homem nascido de mulher, segundo a Sagrada Escritura, novamente Deus Pai nos concedeu o seu Espírito, sendo Cristo o primeiro a recebê-lo como primícias da natureza renovada. João Batista o testemunhou dizendo: Eu vi o Espírito descer do céu, e permanecer sobre ele (Jo 1,32).

Afirma-se que Cristo recebeu o Espírito enquanto homem e enquanto convinha ao homem recebê-lo; embora seja Filho de Deus Pai e gerado de sua substância, mesmo antes da encarnação, e mais ainda, antes de todos os séculos, não se ofende ao ouvir Deus Pai declarar-lhe, depois que se fez homem: Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei (Sl 2,7).

O Pai diz que foi gerado hoje aquele que antes dos séculos era Deus, gerado por ele, para receber-nos em Cristo como filhos adotivos. Com efeito, toda a natureza humana se encontra em Cristo enquanto homem. Assim o Pai dá ao Filho seu próprio Espírito, a fim de que em Cristo também nós o recebamos. Por esse motivo, Cristo veio em auxílio da descendência de Abraão, como está escrito, e tornou-se em tudo semelhante a seus irmãos.

O Unigênito de Deus não recebeu o Espírito Santo para si mesmo; com efeito, esse Espírito que é seu, nos é dado nele e por ele, como já dissemos antes, pois, tendo-se feito homem, tinha em si a totalidade da natureza humana, a fim de restaurá-la toda e restituir-lhe a integridade original. Podemos ver assim – se quisermos aplicar um reto raciocínio e os testemunhos da Escritura – que Cristo não recebeu o Espírito Santo para si mesmo, mas para que o recebêssemos nele; pois é também por ele que recebemos todos os bens.

-- Do Comentário sobre o Evangelho de São João, de São Cirilo de Alexandria, bispo (século V)

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