25 de fev. de 2014

Salmo 148: Glorificação de Deus Senhor e Criador

O Salmo 148 que agora elevámos a Deus constitui um verdadeiro "cântico das criaturas", uma espécie de Te Deum do Antigo Testamento, um aleluia cósmico que envolve tudo e todos no louvor divino. Assim comenta um exegeta contemporâneo:  "O salmista, chamando-os pelo nome, ordena os seres:  em cima o céu, dois astros segundo os tempos, e, separadas, as estrelas; de um lado as árvores de fruto, do outro os cedros; num plano os répteis, e noutro as aves; aqui os príncipes e além os povos; em duas filas, talvez dando as mãos, jovens e moças... Deus estabeleceu-os atribuindo-lhes um lugar e uma função; o homem acolhe-os, dando-lhes lugar na linguagem, e assim dispostos os conduz à celebração litúrgica. O homem é "pastor do ser" ou liturgo da criação" (L. Alonso Schökel, Trinta Salmos:  poesia e oração, Bolonha 1982, pág. 499).

Sigamos também nós este coro universal, que ressoa no firmamento do céu e que tem como templo todo o cosmos. Deixemo-nos conquistar pelo alcance do louvor que todas as criaturas elevam ao seu Criador.

No céu encontramos os cantores do universo estrelar:  os astros mais distantes, as esteiras dos anjos, o sol e a lua, as estrelas reluzentes, os "céus dos céus" (cf. v. 4), isto é, o espaço estrelar, as águas superiores que o homem da Bíblia pensa que estão conservadas em depósitos antes de caírem como chuva sobre a terra.
O aleluia, ou seja, o convite a "louvar o Senhor", ressoa pelo menos oito vezes e tem como meta final a ordem e a harmonia dos seres celestes:  "estabeleceu-lhes leis a que não faltam" (v. 6).

O olhar dirige-se depois para o horizonte terrestre onde se segue uma procissão de cantores, pelo menos vinte e dois, isto é, uma espécie de alfabeto de louvor, espalhado no nosso planeta. Eis os monstros marinhos e os abismos, símbolos do caos aquático sobre o qual a terra está fundada (cf.Sl 23, 2), segundo a concepção cosmológica dos antigos semitas.

O Padre da Igreja, São Basílio, observa:  "Nem sequer o abismo foi considerado desprezível pelo salmista, que o acolheu no coro geral da criação, aliás, com uma linguagem própria, também ele completa harmoniosamente o hino ao Criador".

A procissão continua com as criaturas  da  atmosfera:   o  fogo  dos  relâmpagos, o granizo, a neve, o nevoeiro e o vento da tempestade, considerado um veloz mensageiro de Deus (cf. Sl 148, 8). Entram depois em cena os montes e as colinas, consideradas popularmente as criaturas mais antigas da terra (cf. v. 9a). O reino vegetal está representado pelas árvores de fruto e pelos cedros (cf. v. 9b). Ao contrário, o mundo animal está presente através das feras, dos animais, dos répteis e das aves (cf. v. 10). E por fim, eis o homem que preside à liturgia da criação. Ele é definido de acordo com todas as idades e distinções:  crianças, jovens e idosos, príncipes, reis e nações (cf. vv. 11-12).

Confiemos agora a São João Crisóstomo a tarefa de lançar um olhar de conjunto sobre este imenso coro. Ele faz isto com palavras que reenviam também para o cântico dos três jovens na fornalha ardente, por nós meditado na última catequese.

O grande Padre da Igreja e patriarca de Constantinopla afirma:  "Devido à sua grande rectidão de alma os santos, quando se preparam para dar graças a Deus, costumam chamar muitos para participar no seu louvor, exortando-os a empreender juntamente com eles esta bonita liturgia. Também os três jovens na fornalha ardente fizeram isto, quando chamaram toda a criação para louvar o benefício recebido e para cantar hinos a Deus (Dn 3).

Também este Salmo faz o mesmo, chamando as duas partes do mundo, a que está no alto e a que está em baixo, a sensível e a inteligente. Assim fez também o profeta Isaías, quando disse:  "Cantai, ó Céus, exulta de alegria ó terra... porque o Senhor consola o seu povo" (Is 49, 13). E o Saltério exprime-se de novo assim:  "Quando Israel saiu do Egipto, a casa de Jacob dum povo estranho, os montes saltaram como carneiros, as colinas como cordeiros" (Sl 113, 1.4). E em Isaías:  "As nuvens façam chover a justiça" (Is 45, 8). De fato, os santos, considerando-se eles próprios insuficientes para louvar o Senhor, dirigem-se a todas as partes envolvendo todos na hinologia comum" (Expositio in psalmum CXLVIII:  PG 55, 484-485).

Também nós somos convidados a associar-nos a este coro imenso, tornando-nos voz explícita de cada criatura e louvando a Deus nas duas dimensões fundamentais do seu mistério. Por um lado, devemos adorar a sua grandeza transcendente, "porque só o Seu nome é excelso, a sua majestade está acima do céu e da terra", como diz o nosso Salmo (v. 13). Por outro lado, reconhecemos a sua bondade condescendente, porque Deus está próximo das suas criaturas e vem, sobretudo, em ajuda do seu povo:  "Ele enalteceu o poder do seu povo... povo da sua amizade" (v. 14), como ainda afirma o Salmista.

Face ao Criador onipotente e misericordioso aceitemos, então, o convite de Santo Agostinho para o louvar, exaltar e celebrar através das suas obras:  "Quando observas estas criaturas e por isso te regozijas e te elevas até ao Artífice de tudo e, através do intelecto, contemplas os atributos invisíveis das coisas criadas, então eleva-se a sua confissão sobre a terra e no céu... Se as criaturas são belas, quanto mais não o será o Criador?" (Exposições sobre os Salmos, IV, Roma 1977, págs. 887-889).

-- Papa João Paulo II, na audiência de 17 de Julho de 2002

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