11 de fev. de 2014

Uma breve história do casamento cristão - parte I

Tendo em vista a convocação para um Sínodo sobre Famílias e Evangelização, que será realizado em Outubro deste ano, e cujos trabalhos, de certa forma, já iniciaram com o envio de um questionário a todos dioceses e cristãos, vou escrever aqui alguns textos sobre a história do casamento na Igreja Católica. Se alguma novidade brotar do Sínodo, ela certamente será baseada em dois milênios de tradição.

O casamento é citado no Novo Testamento. O primeiro milagre de Jesus Cristo é feito exatamente numa festa de casamento em Caná (Jo 2), indicando a aprovação de Jesus Cristo à esta instituição bem como à sua celebraçãoo pública. Além disso, Jesus Cristo proíbe o divórcio e explica que "dois se fazem uma carne"

No tempo de Jesus, o casamento era considerado uma passagem obrigatória à vida adulta e aprovada pela fé judaica. No entanto, tanto para  a cultura judaica quanto para a grego-romana, os ensinamentos da Igreja logo se constituíram em uma grande novidade, com notável elevação do papel da mulher. Na Carta aos Hebreus encontramos: Vós todos considerai o matrimônio com respeito e conservai o leito conjugal imaculado, porque Deus julgará os impuros e os adúlteros (Hb 13,4). Na Primeira Carta aos Coríntios, temos: cada homem tenha sua mulher, e cada mulher tenha seu marido. O marido cumpra o seu dever para com a sua esposa e da mesma forma também a esposa o cumpra para com o marido. A mulher não pode dispor de seu corpo: ele pertence ao seu marido. E da mesma forma o marido não pode dispor do seu corpo: ele pertence à sua esposa. Não vos recuseis um ao outro, a não ser de comum acordo, por algum tempo, para vos aplicardes à oração; e depois retornai novamente um para o outro, para que não vos tente Satanás por vossa incontinência (I Cor 7,2b-5).

E quanto a questão do divórcio, aceito pelos judeus, diz: Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido. E, se ela estiver separada, que fique sem se casar, ou que se reconcilie com seu marido. Igualmente, o marido não repudie sua mulher (I Cor 7,10-11).

Um pouco depois: A mulher está ligada ao marido enquanto ele viver. Mas, se morrer o marido, ela fica livre e poderá casar-se com quem quiser, contanto que seja no Senhor (I Cor 7,39).

Ao mesmo tempo, o celibato era considerado com um estado mais "elevado", pois este tinha sido o exemplo de Jesus. Também considerava-se que a vinda de Cristo era eminente, neste caso o casamento seria uma distração para o aperfeiçoamento da alma, um apego a questões temporais. No mesmo capítulo da Carta aos Coríntios, São Paulo recomenda o celibato mas reconhece que não é apropriado para todos: Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu. Mas, se não podem guardar a continência, casem-se. É melhor casar do que abrasar-se (I Cor 7,8-9). 

Alguns escritores interpretaram esta passagem qualificando o casamento como uma medida de urgência para garantir a salvação frente à fraqueza pela carne, que impediria os casados a conterem seus impulsos e manterem a castidade. Em conseqüência, a família seria colocada em um segundo plano. Em termos práticos, o direito de escolher entre uma vida celibatária ou casamento também foi uma grande novidade, pois filhos e, principalmente as moças, poderiam ser obrigadas a casaram-se devido a arranjos feitos pelos seus pais. A história de Santa Inês é um exemplo claro, pois ela foi martirizada por recusar o casamento arranjado com o filho do Prefeito. Santa Pontamiema, que era escrava, ao não entregar seu corpo para satisfazer os desejos de seu proprietário, é levada a julgamento e condenada. Ao juiz responde: Eu prefiro sofrer tudo o que vosso furor puder vos inspirar a obedecer aos infames desejos de meu senhor

Este desejo de pureza corporal, levou aos hereges gnosticistas a um extremo perigoso, de considerar qualquer atividade corporal, em especial a procriação, como indesejável. E isto levou os padres da Igreja a responderem de maneira brilhante, defendendo o casamento, como pretendo expor na sequencia. Por ora, basta ressaltar que o casamento cristão representou um progresso ao impedir o adultério, aumentar a importância da mulher e dar aos jovens a escolha entre casamento e virgindade.

-- Autoria própria

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