31 de jul. de 2014

18o. Domingo do Tempo Comum - 03/08/2014

Evangelho (Mt 14,13-21)

Naquele tempo, 13quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barco para um lugar deserto e afastado. Mas, quando as multidões souberam disso, saíram das cidades e o seguiram a pé.
14Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes.
15Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!”
16Jesus, porém, lhes disse: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!”
17Os discípulos responderam: “Só temos aqui cinco pães e dois peixes”.
18Jesus disse: “Trazei-os aqui”.
19Jesus mandou que as multidões se sentassem na grama. Então pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Em seguida, partiu os pães e os deu aos discípulos. Os discípulos os distribuíram às multidões.
20Todos comeram e ficaram satisfeitos, e, dos pedaços que sobraram, recolheram ainda doze cestos cheios. 21E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.
Comentário
Enquanto Lucas e João falam de uma única multiplicação de pães, Mateus e Marcos relatam duas. Certamente trata-se do mesmo acontecimento, mas seguindo duas tradições orais diferentes. A primeira, mais antiga, localiza o acontecimento no lado leste do Lago (Mar) da Galiléia e fala de doze cestos grandes, indicando que havia alimento para as doze tribos de Israel. A segunda narrativa, originada nos cristãos não judeus, situa o acontecimento no lado oeste do Lago e utiliza o número sete (cinco pães e dois peixes), número das nações não-israelitas, segundo conhecimento da época, significando que Jesus auxiliava todos povos. Ambas narrações estão vinduladas a fatos narrados no Antigo Testamento, como a multiplicação do azeite pelo profeta Eliseu e o maná no deserto.
Leituras Relacionadas:
Antigo Testamento: 
Livros Históricos
  • Êxodo 16 (todo capítulo)
  • Números 11 (todo capítulo)
  • 2 Reis 4, 1-7; 42-44
Livros Proféticos e Salmos:
  • Salmos 78, 23-28
  • Salmos 123, 1-4
Novo Testamento:
Evangelhos:
  • Mateus 15, 32-39
  • Marcos 6, 30-44
  • Marcos 8, 1-10
  • Lucas 9, 10-17
  • João 6, 1-13
Escritos apostólicos:
  • Atos 6, 1-7


O início da conversão de Santo Inácio de Loyola

Inácio gostava muito de ler livros mundanos e romances que narravam supostos feitos heróicos de homens ilustres. Assim que se sentiu melhor, pediu que lhe dessem alguns deles, para passar o tempo. Mas não se tendo encontrado naquela casa nenhum livro deste gênero, deram-lhe um que tinha por título A vida de Cristo e outro chamado Florilégio dos Santos, ambos escritos na língua pátria.

Santo Inácio de Loyola (1491-1556),
fundador da Companhia de Jesus (jesuitas)
Com a leitura freqüente desses livros, nasceu-lhe um certo gosto pelos fatos que eles narravam. Mas, quando deixava de lado essas leituras, entregava seu espírito a lembranças do que lera outrora; por vezes ficava absorto nas coisas do mundo, em que antes costumava pensar.

Em meio a tudo isto, estava a divina providência que, através dessas novas leituras, ia dissipando os outros pensamentos. Assim, ao ler a vida de Cristo nosso Senhor e dos santos, punha-se a pensar e a dizer consigo próprio: “E se eu fizesse o mesmo que fez São Francisco e o que fez São Domingos?” E refletia longamente em coisas como estas. Mas sobrevinham-lhe depois outros pensamentos vazios e mundanos, como acima se falou, que também se prolongavam por muito tempo. Permaneceu nesta alternância de pensamentos durante um tempo bastante longo.

Contudo, nestas considerações, havia uma diferença: quando se entretinha nos pensamentos mundanos, sentia imenso prazer; mas, ao deixá-los por cansaço, ficava triste e árido de espírito. Ao contrário, quando pensava em seguir os rigores praticados pelos santos, não apenas se enchia de satisfação, enquanto os revolvia no pensamento, mas também ficava alegre depois de os deixar.

No entanto, ele não percebia nem avaliava esta diferença, até o dia em que se lhe abriram os olhos da alma, e começou a admirar-se desta referida diferença. Compreendeu por experiência própria que um gênero de pensamentos lhe trazia tristeza, e o outro, alegria. Foi esta a primeira conclusão que tirou das coisas divinas. Mais tarde, quando fez os Exercícios Espirituais, começou tomando por base esta experiência, para compreender o que ensinou sobre o discernimento dos espíritos.

-- Da Narrativa autobiográfica de Santo Inácio, recolhida de viva voz pelo Padre Luís Gonçalves da Câmara (século XVI)

29 de jul. de 2014

Igreja: convocação do povo de Deus

Católica ou universal chama-se a Igreja, porque se espalhou de um extremo a outro de todo o orbe da terra. Porque ensina universalmente e sem falha todos os artigos da fé que os homens precisam conhecer, seja sobre as coisas visíveis ou as invisíveis, seja as celestes ou as terrestres. Porque reúne no verdadeiro culto o gênero humano inteiro, autoridades e súditos, doutos e ignorantes. Enfim, porque cura e sana em todo o universo qualquer espécie de pecados cometidos pela alma e pelo corpo. Porque ela possui tudo, toda virtude, seja qual for o nome que se lhe dê, nas ações e nas palavras, bem como toda a variedade dos dons espirituais.

Igreja, isto é, convocação: nome bem apropriado porque convoca a todos e os reúne, como o Senhor diz no Levítico: Convoca toda a congregação diante da porta do tabernáculo do testemunho. É de notar a palavra convoca, usada aqui pela primeira vez nas Escrituras, na ocasião em que o Senhor estabeleceu Aarão como sumo sacerdote. No Deuteronômio Deus diz a Moisés: Convoca para junto de mim o povo para que me escutem e aprendam a temer-me. Há outra menção da Eclésia, quando se fala das tábuas da Lei: Nelas estavam escritas todas as palavras que o Senhor vos falou no monte, do meio do fogo, no dia da ‘Eclésia‘, isto é, convocação; como se dissesse mais claramente: No dia em que, chamados pelo Senhor, vos congregastes. O Salmista também diz: Eu te confessarei, Senhor, na grande ‘Eclésia’, no meio do povo numeroso te louvarei.

Já antes o salmista cantara: Na ‘Eclésia’, bendizei o Senhor Deus, das fontes de Israel. O Salvador edificou com os gentios a segunda, a nossa Santa Igreja dos cristãos, da qual dissera a Pedro: E sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

Rejeitada a primeira, a da Judéia, de ora em diante multiplicam-se as Igrejas de Cristo, aquelas de que se fala nos salmos: Cantai ao Senhor um cântico novo, seu louvor na ‘eclésia’ dos santos. De acordo com isto diz o Profeta aos judeus: Meu afeto não está em vós, diz o Senhor e acrescenta logo: Por isso, do nascer do sol até o ocaso, teu nome é glorificado entre os povos. Desta mesma santa e católica Igreja escreve Paulo a Timóteo: Para que saibas como comportar-te na casa de Deus, a Igreja do Deus vivo, coluna e sustentáculo da verdade.

-- Das Catequeses de São Cirilo de Jerusálem , bispo (século IV)

* A palavra Eclesia significa assembléia, assembléia do povo. Assim, a Igreja é a assembléia do povo. Também é utilizada em outro contexto, por exemplo, na democracia grega havia uma "eclesia" para discutir as questões de governo. O autor sabia também que nesta palavra está contido o termo grego "clesis", que quer dizer convocação.

26 de jul. de 2014

Canto ao Espírito Santo , de Santa Hildegard de Bingen

Considerando a reputação mística e teológica de Santa Hildegarda de Bingen, além de toda sua experiência de visões divinas, parece que ela dedicou-se pouco ao Espírito Santo, pois compôs músicas liturgicas e poesias dedicadas ao Pai, Filho, Virgem Maria, diversos santos, incluindo uma missa completa para a Festa de Santa Úrsula, mártires, confessores e Festa de Todos os Santos. De toda esta obra, apenas quatro cantos são dedicadoos ao Espírito Santo.

Por outro lado, Ele está presente de maneira especial em diversos textos como o inspirador de santos e virgens, usualmente descrito como uma pomba descendo sobre eles, dando-lhes coragem, inspiração e fortaleza. 



No canto intitulado Spiritus Sanctus encontra-se um resumo de sua visão sobre o Espírito Santo, parte da Santíssima Trindade, sempre presente em todos momentos da vida. A letra é uma antífona ao Salmo 110/111, curta, mística, predominando uma linguagem que fala da grandeza de Deus. É uma oração ascendente, isto é, que sobe aos céus para agradecer a Deus. A força da fé inspirada pelo Espírito Santo redime os fiéis de todos os pecados e nos conduz a ressurreição eterna.

Letra em latim:
Spiritus Sanctus vivificans vita,
movens omnia,
et radix est in omni creatura,
ac omnia de immunditia abluit,
tergens crimina,
ac ungit vulnera,
et sic est fulgens ac laudabilis vita,
suscitans et resuscitans omnia.

Tradução*:
Espírito Santo vivificante,
que move todos.
És a raiz (origem) de todas criaturas,
lavando os pecados,
inocentando os culpados,
e curando os feridos.
És o luminosos e glorioso, Vida,
que suscita e ressuscita a todos.

*tradução própria, a partir do inglês





25 de jul. de 2014

O que é o tempo de Deus?

O tempo de Deus não é uma sequencia de dias que vem e vão,
é eternidade; todos os dias ao mesmo tempo. Nada é passado,
nada é futuro,  mas tudo é presente.
Aqueles que isto perguntam ainda não te compreendem, ó sabedoria de Deus (Ef 3,10), ó luz das mentes, ainda não compreendem como são feitas as coisas que por meio de ti e em ti são feitas, e esforçam-se por saborear as realidades eternas, mas o seu coração esvoaça ainda nos movimentos passados e futuros das coisas, continuando vazio (Sl 5,10). Quem poderá deter o tempo e fixá-lo, a fim de que ele pare e por um momento capte o esplendor da eternidade sempre fixa, e a compare com os tempos nunca fixos, e veja que a eternidade é incomparável, e veja que um longo tempo não é longo senão a partir de muitos momentos que passam e não podem alongar-se simultaneamente; veja, pelo contrário, que, no que é eterno, nada é passado, mas tudo é presente, enquanto nenhum tempo é todo ele presente: e veja que todo o passado é obrigado a recuar a partir do futuro, e que todo o futuro se segue a partir de um passado, e que todo o passado e futuro são criados e derivam daquilo que é sempre presente? Quem poderá deter o coração do homem, a ponto de ele parar e ver como a eternidade, que é fixa, nem futura nem passada, determina os tempos futuros e passados? Será que, porvetura, a minha mão consegue (Gn 31,29) isto, ou que a mão da minha boca, que se manifesta falando, realiza tão grande intento?

E tu não precedes os tempos com o tempo: se assim fosse, não precederias todos os tempos. Mas precedes todos os passados com a grandeza da tua eternidade sempre presente, e superas todos os futuros porque eles são futuros, e quando eles chegarem, serão passado; tu, porém, és o mesmo e os teus anos não têm fim (Sl 101,28; Hb 1,12). Os teus anos não vão nem vêm: os nossos vão e vêm, para que todos venham. Os teus anos existem todos ao mesmo tempo, porque não passam, e os que vão não são excluídos pelos que vêm, porque não passam: enquanto os nossos só existirão todos, quando todos não existirem. Os teus anos são um só dia (Sl 89,4; 2Pe 3,8), e o teu dia não é todos os dias, mas um ‘hoje’, porque o teu dia de hoje não antecede o de amanhã; pois não sucede ao de ontem. O teu hoje é a eternidade: por isso, geraste co-eterno contigo aquele a quem disseste: Eu hoje te gerei (Sl 2,7; At 13,33; Hb 1,5; 5,5). Tu fizeste todos os tempos e tu és antes de todos os tempos, e não houve tempo algum em que não havia tempo.

-- Do Livro das Confissões, de Santo Agostinho (século IV)


24 de jul. de 2014

17o. Domingo Comum - 27/07/2014

Evangelho: Mt 13,44-52   

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 44“O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo.
45O Reino dos Céus é também como um comprador que procura pérolas preciosas. 46Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.
47O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam.
49Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí haverá choro e ranger de dentes.
51Compreendestes tudo isso?” Eles responderam: “Sim”.
52Então Jesus acrescentou: “Assim, pois, todo o mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas”.
Comentário
A interpretação desta parábola é bastante clara: quem encontrar o Reino dos Céus, o Amor de Deus, deve deixar tudo para entrar nele, pois este Reino é infinitamente superior a todas riquezas da terra. Já o v.52 explica que os doutores no Judaísmo possuem toda uma riqueza vinda do Velho Testamento e agora que reconhecem a Jesus, podem acrescentar lições preciosas recebidas de Cristo. Também é um convite a todos os discípulos a serem criadores de novas parábolas e formas de ensinamento.
Leituras Relacionadas:
Antigo Testamento: 
Livros Históricos
  • Levítico 26, 3-13
Livros Proféticos e Salmos:
  • Provérbios 2, 1--5
  • Eclesiástico 20, 27-32
Novo Testamento:
Evangelhos:
  • Mateus 19, 16-22
  • Marcos 4, 13-20
  • Lucas 9, 57-62
Escritos apostólicos:
  • Filipenses 3, 7-12

22 de jul. de 2014

O reino de Deus é paz e alegria no Espírito

Volta ao Senhor de todo o teu coração, deixa este mundo miserável e tua alma encontrará repouso. Pois o reino de Deus é paz e alegria no Espírito Santo. Cristo virá a ti, trazendo-te sua consolação, se no íntimo lhe preparares digna morada.

Toda a sua glória e beleza está no interior e aí ele se compraz. Sua visita é assídua ao homem interior. Palavras mansas, agradável consolo, grande paz, maravilhosa intimidade.

Coragem, alma fiel, prepara teu coração para este Esposo, para que se digne vir a ti e em ti habitar. Ele assim declarou: Se alguém me ama, guarda minha palavra e a ele viremos e faremos nele nossa morada. Dá, portanto, lugar a Cristo. Se possuíres Cristo, serás rico e isto te bastará. Ele cuidará de ti e será teu fiel procurador em todas as coisas e não precisarás depender dos homens.

Põe toda a tua confiança em Deus. Seja ele teu temor e teu amor. Ele responderá por ti e fará o que for melhor do melhor modo possível.

Não tens aqui cidade permanente e onde quer que estejas serás estrangeiro e peregrino, não encontrando descanso a não ser quando fores intimamente unido a Cristo.

Teus pensamentos se fixem no Altíssimo e tua súplica sem cessar se dirija a Cristo. Se não sabes meditar sobre as coisas profundas e celestes, repousa na paixão de Cristo e demora-te com gosto em suas chagas. Suporta-te a ti mesmo com Cristo e por Cristo, se queres reinar com Cristo.

Se te acontecesse entrar uma vez perfeitamente no íntimo de Jesus e experimentar um pouquinho seu ardente amor, então já não mais te preocuparias com o que te é cômodo ou incômodo, porém, mais te alegrarias com o opróbrio infligido, porque o amor de Jesus faz o homem ter-se em conta de nada.

-- Do livro A Imitação de Cristo

19 de jul. de 2014

Sobre Bispos, Arcebispos e Cardeais

Existe alguma diferença entre bispos, arcebispos e cardeais? Ou cardeais "mandam" nos arcebispos, que "mandam" nos bispos, e claro, quem sofre são os padres? Há algum tempo atrás me fizeram estas perguntas, que respondi da melhor maneira possível, ali no improviso. Agora vai uma resposta melhor estruturada, que segue.


Cada centímetro deste planeta, se foi evangelizado e tem uma presença católica estabelecida, está organizado em dioceses, também conhecidas como "igrejas particulares", confiadas a seus Bispos (canon 369). Apenas Roma tem a autoridade para criar e determinar os limites de uma diocese (canon 373). Todo católico deve conhecer, ou pelo menos deveria, o seu Bispo, afinal ao Bispo está submisso.



O que a maioria não sabe é que dioceses estão agrupadas em províncias eclesiásticas (canon 431) com objetivo de atuarem de maneira integrada e coerente em uma mesma região (estado, país). Como regra, não deve haver dioceses "isentas", todas devem estar integradas em alguma província eclesiástica. Ou seja, nenhuma diocese é uma ilha, comunicando-se apenas e diretamente com Roma, todas devem compartilhar algumas idéias com suas vizinhas. O mapa ao lado mostra as atuais 41 provincias eclesiásticas no Brasil, que agrupam 214 dioceses.

Esta divisão explica por que falamos no Arcebispo de Porto Alegre e Bispo de Osório, pois a Diocese de Osório é parte da província elesiástica de Porto Alegre. Comparando, é como as cidades que compõem o estado. 

Quando o Papa decide que um padre pode tornar-se Bispo, ele é escolhido para ser um dos sucessores dos Apóstolos (canon 375). Como padre, ele já foi ordenado, mas para tornar-se Bispo, deve receber a consagração episcopal em uma cerimônia apropriada. Não é o anúncio pelo Vaticano que torna o padre um Bispo, mas sim receber as "ordens superiores", que lhe conferem alguns poderes sacramentais adicionais: conferir o sacramento do Crisma (Confirmação); ordenar diáconos e padres; e ordenar outros bispos (na sucessão apostólica). Há, portanto, uma diferença importante, sacramental, entre padres e bispos. 

Já Cardeais são outra história! Alguns Bispos e Arcebispos são chamados de Cardeais por um motivo não relacionado a divisão geográfica, nem há diferença sacramental entre um Bispo e um Cardeal. Cardeais são aqueles que aconselham e auxiliam o Papa nos assuntos da Igreja, por isto é importante que estejam próximos ao Papa. Com os meios de comunicação atuais, não há tanta necessidade dos Cardeais residirem em Roma, mas eles são chamados a reuniões frequentes, chamadas "Consistórios". Por exemplo, em Outubro haverá um Consistório para tratar de assuntos relacionados à família. Outro momento decisivo na vida dos Cardeais é escolher o próximo Papa, quando o anterior morre. 

Juridicamente, para tornar-se um Cardeal, não é necessário ser Bispo ou Arcebispo. Ao longo dos séculos já houveram vários casos de diáconos e padres que tornaram-se Cardeais. Historicamente, os Papas tendem a colocar seus conselheiros mais próximos em dioceses mais importantes, onde podem exercer uma maior influência, e assim, transmitir as decisões do Papa, que eles mesmos aconselharam, de maneira mais fiel e visível. Assim, as Arquidioceses de cidades mais importantes, como São Paulo e Rio de Janeiro, são normalmente comandadas por um Cardeal. 

Resumindo, a Igreja está dividida em regiões geográficas chamadas dioceses. Cada diocese é administrada por um Bispo. Dioceses são agrupadas em províncias, administradas por Arcebispos. Alguns Bispos e Arcebispos podem ser chamados a serem conselheiros do Papa, ou seja, Cardeais. 

-- autoria própria

17 de jul. de 2014

16o. Domingo Comum - 20/07/2014

Evangelho (Mt 13,24-43)
Naquele tempo, 24Jesus contou outra parábola à multidão: “O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora.26Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’
28O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’
29O dono respondeu: ‘Não! Pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. 30Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! Recolhei, porém, o trigo no meu celeiro!’”
31Jesus contou-lhes outra parábola: “O Reino dos Céus é como uma semente de mostarda que um homem pega e semeia no seu campo. 32Embora ela seja a menor de todas as sementes, quando cresce, fica maior do que as outras plantas. E torna-se uma árvore, de modo que os pássaros vêm e fazem ninhos em seus ramos”.
33Jesus contou-lhes ainda uma outra parábola: “O Reino dos Céus é como o fermento que uma mulher pega e mistura com três porções de farinha, até que tudo fique fermentado”.
34Tudo isso Jesus falava em parábolas às multidões. Nada lhes falava sem usar parábolas, 35para se cumprir o que foi dito pelo profeta: “Abrirei a boca para falar em parábolas; vou proclamar coisas escondidas desde a criação do mundo”.
36Então Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!”
37Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifeiros são os anjos. 40Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41o Filho do Homem enviará seus anjos, e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes.
43Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça”.
Comentário
O Reino de Deus é como uma semente que produz frutos de excelente qualidade, mas que no mundo estão misturados ao frutos do mal. Como o grão de mostarda e o fermento, o Reino tem começo modesto, mas desenvolve-se grande, de um pequeno grupo de apóstolos na Galiléia até espalhar-se por todo mundo. 
Leituras Relacionadas:
Antigo Testamento: 
Livros Históricos
  • Gênesis 18, 6
Livros Proféticos e Salmos:
  • Daniel 3, 6
  • Daniel 4, 9-18
  • Salmos 78, 2
  • Salmos 103, 12
Novo Testamento:
Evangelhos:
  • Marcos 4, 30-34
  • Lucas 13, 18-21
Escritos apostólicos:
  • 1 Coríntios 5, 6-8
  • 1 João, 3, 10
  • Apocalipse 14, 15-16

15 de jul. de 2014

Dt 32: Os benefícios de Deus a favor do povo

Queridos irmãos e irmãs,

"E Moisés fez ouvir a toda a assembleia de Israel as palavras deste cântico, até ao fim" (Dt 31, 30). Lê-se assim na abertura do cântico que acabamos de proclamar, tirado das últimas páginas do livro do Deuteronómio, precisamente do capítulo 32. Dele, a Liturgia das Laudes escolheu os primeiros doze versículos, reconhecendo neles um jubiloso hino ao Senhor que protege e cura com amor o seu povo no meio dos perigos e das dificuldades do dia. A análise do cântico revelou que se trata de um texto antigo mas posterior a Moisés, sobre cujos lábios foi posto, para lhe conferir um carácter de solenidade. Este cântico litúrgico situa-se na própria origem da história do povo de Israel. Não faltam nessa página orante notas ou ligações com alguns Salmos e com a mensagem dos profetas:  desta forma, ela tornou-se uma sugestiva e intensa expressão da fé de Israel.

O cântico de Moisés é mais amplo do que o trecho proposto pela Liturgia das Laudes, que constitui apenas o seu prelúdio. Alguns estudiosos pensaram detectar na composição um género literário que tecnicamente é definido com a palavra hebraica rîb, isto é "controvérsia", "litígio processual". A imagem de Deus presente na Bíblia não se mostra absolutamente como a do ser obscuro, uma energia anónima e feia, um acontecimento incompreensível. Ao contrário, é uma pessoa que tem sentimentos, age e reage, ama e condena, participa na vida das suas criaturas e não é indiferente às suas obras. Assim, no nosso caso, o Senhor convoca uma espécie de assembleia judicial, na presença de testemunhas, denuncia os delitos do povo acusado, exige uma pena, mas deixa impregnar a sua sentença por uma misericórdia infinita. Seguimos agora os vestígios desta vicissitude, embora nos detenhamos apenas nos versículos que a Liturgia nos propõe.

Vem imediatamente a menção dos espectadores-testemunhas cósmicos:  "Escutai, ó céus... ouça, toda a terra" (Dt 32, 1). Neste processo simbólico Moisés serve de autoridade pública. A sua palavra é eficaz e fecunda como a profética,  expressão  da  divina.  Observe-se o fluxo significativo das imagens para a definir:  trata-se de sinais deduzidos da natureza como a chuva, o orvalho, o aguaceiro, a chuvada e as gotas de água que fazem com que a terra seja verdejante e coberta de caules de trigo (cf. v. 2).

A voz de Moisés, profeta e intérprete da palavra divina, anuncia a iminente entrada em cena do grande juiz, o Senhor, do qual ele pronuncia o nome santíssimo, exaltando uma das suas numerosas características. De fato, o Senhor é chamado a Rocha (cf. v. 4), um título que aparece em todo o nosso cântico (cf. vv. 15.18.30.31.37), uma imagem que exalta a fidelidade estável e indiscutível de Deus, que é muito diferente da instabilidade e da infidelidade do povo. O tema é desenvolvido com uma série de afirmações sobre a justiça divina:  "A Sua obra é perfeita; todos os Seus caminhos são a própria justiça; Deus de verdade, jamais iníquo, constantemente equitativo e reto" (v. 4).

Depois da solene apresentação do Juiz supremo, que também é a parte lesada, o objetivo do cantor desloca-se para o acusado. Para o definir, ele recorre a uma eficaz representação de Deus como pai (cf. v. 6). As suas criaturas, tão amadas, são chamadas seus filhos, mas infelizmente são "raça perversa" (cf. v. 5). Com efeito, sabemos que já no Antigo Testamento se tem uma concepção de Deus como pai solícito em relação aos seus filhos que com muita frequência desiludem (Êx 4, 22; Dt 8, 5; Sl 102, 13; Sir 51, 10; Is 1, 2; 63, 16; Os 11, 1-4). Por isso, a denúncia não é fria mas apaixonada:  "É assim que recompensas o Senhor, povo louco e insensato? Não é Ele o teu Pai, o teu Criador? Não foi Ele que te formou e te consolidou?" (Dt 32, 6). De fato, é muito diferente insurgir-se contra um soberano implacável ou revoltar-se contra um pai amoroso.

Para tornar concreta a acusação e fazer com que a conversão provenha da sinceridade do coração, Moisés faz apelo à memória:  "Recorda-te dos dias antigos, medita os anos de cada século" (v. 7). Com efeito, a fé bíblica é um "memorial", isto é, uma redescoberta da ação eterna de Deus que se espalha com o passar do tempo; é tornar presente e eficaz aquela salvação que o Senhor proporcionou e continua a oferecer ao homem. O grande pecado de infidelidade coincide, então, com o "esquecimento", que apaga a recordação da presença divina em nós e na história.

O acontecimento fundamental que não se deve esquecer é o da travessia do deserto depois da saída do Egipto, o tema fundamental do Deuteronómio e de todo o Pentateuco. Desta forma, recorda-se a viagem terrível e dramática no deserto do Sinai, "nas solidões ululantes e selvagens" (v. 10), como se diz com uma imagem de grande impacto emotivo. Mas ali Deus inclina-se sobre o seu povo com uma ternura e doçura surpreendentes. Com o símbolo paterno entrelaça-se alusivamente também o materno da águia:  "Protegeu-o e velou por ele. Guardou-o como a menina dos Seus olhos. Como a águia vela pelo seu ninho. E paira sobre as suas aguiazinhas; estende as asas para as recolher, e leva-as sobre as suas penas robustas" (v. 10.11). O caminho no deserto transforma-se então num percurso tranquilo e sereno, porque há o manto protector do amor divino.

O cântico remete também para o Sinai, onde Israel se tornou aliado do Senhor, a sua "porção" e "herança", isto é, a realidade mais preciosa (cf. v. 9; Êx 19, 5). O cântico de Moisés torna-se desta forma um exame de consciência de todos para que, finalmente, os benefícios divinos sejam correspondidos com a fidelidade, e não com o pecado.

-- São João Paulo II, na audiência de 19 de Junho de 2002

11 de jul. de 2014

Este sacramento, que recebestes, tem por fonte a palavra de Cristo

Vemos que são maiores as obras da graça do que as da natureza. Entre as obras da graça, incluímos a graça da bênção profética. Se a bênção humana teve a força de mudar a natureza, que diremos da própria consagração divina, em que agem as palavras mesmas do Senhor e Salvador? Porque este sacramento que recebes se realiza pela palavra de Cristo. Se tanto pôde a palavra de Elias que fez o fogo descer do céu, não terá a palavra de Cristo o poder de mudar a substância dos elementos? Já leste acerca da criação do mundo inteiro que ele falou e tudo foi feito, ele ordenou e tudo foi criado. Portanto a palavra de Cristo, que pôde do nada fazer o que não era, não poderá mudar o que existe para aquilo que não era? Dar novas naturezas às coisas não é menos do que mudá-las. 

Mas por que apresentamos argumentos? Voltemo-nos para seus exemplos, confirmemos pelos mistérios da encarnação a verdade do mistério. Acaso, quando Jesus nasceu de Maria, foi observada a natureza comum? Normalmente, a mulher concebe pela união com o homem. Está, portanto, bem claro que a Virgem gerou fora da ordem natural. E este que consagramos é o corpo que proveio da Virgem. Por que exiges aqui que seja segundo a natureza, quando foi além da natureza que da Virgem se deu o nascimento do mesmo Senhor Jesus? É realmente a verdadeira carne de Cristo que foi crucificada, sepultada; é verdadeiramente o sacramento desta carne. O próprio Senhor Jesus declara: Isto é o meu corpo. Antes da bênção das palavras celestes era outra realidade; depois da consagração, entende-se o corpo. Ele mesmo diz que é seu sangue. Antes da consagração é outra coisa; depois da consagração, chama-se sangue. E tu dizes: “Amém”; o que quer dizer: “É verdade”. Confesse o nosso interior o que proclamam os lábios, sinta o afeto o que a palavra soa. 

Vendo tão grande graça, a Igreja exorta seus filhos, exorta os amigos a que acorram ao sacramento: Comei, amigos meus, bebei e inebriai-vos, meus irmãos. O que comemos, o que bebemos, o Espírito Santo pelo Profeta o exprimiu: Provai e vede, como é suave o Senhor; feliz de quem nele confia. Neste sacramento está Cristo porque é o corpo de Cristo. Não é, por conseguinte, alimento corporal, mas espiritual. O Apóstolo, falando da sua figura, dizia: Nossos pais comeram o pão espiritual e beberam da bebida espiritual. O corpo de Deus é corpo espiritual; o corpo de Cristo é corpo do espírito divino, porque Cristo é espírito, como lemos: O Espírito diante de nossa face, o Cristo Senhor. E na carta de São Pedro encontramos: E Cristo morreu por vós. Por fim este pão fortalece o nosso coração e esta bebida alegra o coração do homem; assim nos lembra o Profeta.

-- Do Tratado sobre os Mistérios, de Santo Ambrósio, bispo (século IV)

10 de jul. de 2014

Estudo Bíblico - 15a. Semana do Tempo Comum

Evangelho (Mt 13,1-23)
1Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia.
2Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia.
3E disse-lhes muitas coisas em parábolas: “O semeador saiu para semear. 4Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram.
5Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. 6Mas, quando o sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz.
7Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas.
8Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. 9Quem tem ouvidos, ouça!”
10Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que falas ao povo em parábolas?”
11Jesus respondeu: “Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não é dado.12Pois à pessoa que tem será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem será tirado até o pouco que tem.
13É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam nem compreendem. 14Desse modo se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e eu os cure’.
16Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram.
18Ouvi, portanto, a parábola do semeador: 19Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.
20A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; 21mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento; quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo.
22A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto.
23A semente que caiu em terra boa é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta”.
Comentário
Temos neste trecho do Evangelho a parte inicial do chamado "Discurso das Parábolas". No versículo 13, cita o endurecimento do coração como justificativa para usar parábolas. É um endurecimento voluntário e culposo, que explica a retirada da graça. Aos que estão perdendo a visão desta maneira, a luz plena da verdade de Cristoo só poderia cegar mais. Jesus, assim, opta por dar apenas uma luz suavizada por símbolos, que sirva apenas de sinal para pedirem e receberem mais.
Leituras Relacionadas:
Antigo Testamento: 
Livros Históricos
  • Deuteronômio 30, 14
Livros Proféticos e Salmos:
  • Eclesiástico 40, 15
  • Provérbioa 11, 24
  • Isaias 6, 9-12
  • Jeremias 5, 21
Novo Testamento:
Evangelhos:
  • Marcos 4, 1-20
  • Lucas 8, 5-15
Escritos apostólicos:
  • Atos 28, 26
  • Galatas 5, 22
  • 1 Pedro 1, 10-12

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