29 de out. de 2014

Cântico das Criaturas, do Livro de Daniel

No capítulo 3 do Livro de Daniel encontra-se inserida uma luminosa oração litânica, um verdadeiro e peculiar Cântico das criaturas, que a Liturgia das Laudes nos propõe várias vezes, em diversos fragmentos.

Ouvimos agora a parte fundamental, um grandioso coro cósmico, emoldurado por duas antífonas que o resumem:  "Bendito sois no firmamento dos céus, digno de louvor e glória eternos! Obras do Senhor, bendizei todas o Senhor, a ele glória e louvor eterno!" (vv. 56-57).

Entre estas duas aclamações desenvolve-se um solene hino de louvor, que se exprime com o convite repetido "bendizei":  formalmente, trata-se apenas de um convite a bendizer a Deus dirigido a toda a criação; na realidade, trata-se de um cântico de agradecimento que os fiéis elevam ao Senhor por todas as maravilhas do universo. O homem faz-se voz da criação inteira para louvar e agradecer a Deus.

Este hino, cantado por três jovens hebreus que convidam todas as criaturas a louvar a Deus, nasce numa situação dramática. Os três jovens, perseguidos pelo soberano da Babilónia, encontram-se imersos na fornalha ardente devido à sua fé. E contudo, mesmo se estavam prestes a sofrer o martírio, eles não hesitam em cantar, em rejubilar, em louvar. O sofrimento áspero e violento da prova desaparece, parece que se dissolve na presença da oração e da contemplação. É precisamente esta atitude de abandono confiante que suscita a intervenção divina.

De fato, como afirma a sugestiva narração de Daniel, "O anjo do Senhor, porém, tinha descido até Azarias e seus companheiros, na fornalha, e afastava o fogo. Mudou o lugar da fornalha em lugar onde soprava como que uma brisa matinal:  o fogo nem sequer os tocou e nem lhes causou qualquer mal nem a menor dor" (vv. 49-50). Os pesadelos desaparecem como o nevoeiro ao sol, os receios dissipam-se, o sofrimento é eliminado quando todo o ser humano se torna louvor e confiança, expectativa e esperança. Eis a força da oração quando é pura, intensa, abandono total a Deus, providencial e redentor.

O cântico dos três jovens faz desfilar diante dos nossos olhos uma espécie de procissão cósmica, que parte do céu povoado de anjos, onde também brilham o sol, a lua e as estrelas. Lá de cima Deus derrama sobre a terra o dom das águas que estão acima dos céus (cf. v. 60), isto é, as chuvas e a brisa matinal (cf. v. 64).

Contudo, eis que começam também a soprar os ventos, a explodir os relâmpagos e a irromper as estações com o calor e com o gelo, com o fervor do verão, mas também com a geada, o gelo, a neve (cf. vv. 65-70.73). O poeta insere no cântico de louvor ao Criador também o ritmo do tempo, o dia e a noite, a luz e as trevas (cf. vv. 71-72). No final o olhar poisa também sobre a terra, partindo dos cumes dos montes, realidades que parecem unir terra e céu (cf. vv. 74-75).

Eis que então se unem no louvor a Deus as criaturas vegetais que germinam na terra (cf. v. 76), as nascentes que trazem vida e frescor, os mares e os rios com as suas águas abundantes e misteriosas (cf. vv. 77-78). De fato, o cantor evoca também "os monstros marinhos" ao lado dos peixes (cf. v. 79), como sinal do caos aquático primordial ao qual Deus impôs regras para serem observadas (cf. Sl 3-4; Job 38, 8-11; 40, 15; 41, 26).

Depois  é  a  vez  do  grande  e  variado  reino  animal,  que  vive  e  se  move nas águas, na terra e nos céus (cf. Dn 3, 80-81).

O último ator da criação que entra na cena é o homem. Primeiro, o olhar alarga-se a todos os "filhos do homem" (cf. v. 82); depois, a atenção concentra-se em Israel, o povo de Deus (cf. v. 83); a seguir, é a vez de quantos se consagraram totalmente a Deus não só como sacerdotes (cf. v. 84), mas também como testemunhas de fé, de justiça e de verdade. São os "servos do Senhor", os "espíritos e as almas dos justos", os "mansos e humildes de coração" e, entre eles, sobressaem os três jovens, Ananias, Azarias e Misael, que deram voz a todas as criaturas num louvor universal e perene (cf. vv. 85-88).
Ressoaram constantemente os três verbos da glorificação divina, como numa ladainha:  "bendizei, louvai, exaltai" o Senhor. Esta é a alma autêntica da oração e do cântico:  celebrar o Senhor sem parar, na alegria de pertencer a um coro que engloba todas as criaturas.

Gostaríamos de concluir a nossa meditação dando voz aos Padres da Igreja,  como  Orígenes,  Hipólito,  Basílio de Cesareia e Ambrósio de Milão, que comentaram a narração dos seis dias da criação (cf. Gn 1, 1-2, 4a) precisamente em conexão com o Cântico dos três jovens.

Limitamo-nos a citar o comentário de Santo Ambrósio, o qual, ao referir-se ao quarto dia da criação (cf. Gn 1, 14-19), imagina que a terra fala e, ao falar sobre o sol, encontra todas as criaturas unidas no louvor a Deus:  "Bom é deveras o sol, porque serve, ajuda a minha fecundidade, alimenta os meus frutos. Ele foi-me dado para o meu bem, está submetido comigo às canseiras. Geme comigo, para que chegue a adopção dos filhos e a redenção do género humano, para que possamos ser, também nós, libertados da escravidão. Ao meu lado, juntamente comigo louva o Criador, juntamente comigo eleva um hino ao Senhor nosso Deus. Onde o sol bendiz, ali bendiz a terra, bendizem as árvores de fruto, bendizem os animais, bendizem comigo as aves" 

Ninguém é excluído da bênção do Senhor, nem sequer os monstros do mar (cf. Dn 3, 79). Com efeito, Santo Ambrósio prossegue:  "Até as serpentes louvam o Senhor, porque a sua natureza e o seu aspecto revelam aos nossos olhos alguma beleza e mostram ter a sua justificação".

Com mais razão nós, seres humanos, devemos acrescentar a este concerto de louvor a nossa voz feliz e confiante, acompanhada por uma vida coerente e fiel.

-- Santo Papa João Paulo II, na audiência de 10 de Julho de 2002

27 de out. de 2014

A Criação e o erro dos criacionistas

Hoje num encontro com membros da Pontifícia Academia de Ciências, o Papa Francisco falou brevemente sobre a criação. Acho que ficou muito bom, pois em breve palavras explica a questão do criacionismo, a ciência, e a visão da Igreja.

"Quando lemos o relato da criação na Bíblia podemos imaginar que Deus é um mágico que com uma varinha de condão criou todas as coisas. Porém não é assim. Deus criou a natureza e a deixou se desenvolver segundo as regras de cada coisa, para que possa alcançar sua potencialidade. Deu a tudo autonomia, a todos seres do universo, ao mesmo tempo que lhes assegurava sua presença contínua. E assim a criação seguiu sua marcha por séculos e séculos, milênios e milênios, até se converter no que conhecemos hoje; exatamente porque Deus não é um mágico, mas sim o Criador de todas as coisas. O início do mundo não é obra do caos nem Deus deve sua origem à algum outro, mas deriva diretamente de um princípio supremo que cria tudo por amor. O Big Bang, onde se situa a origem do mundo, não contradiz a intervenção de um Deus criador, mas ao contrário, requer. A evolução da natureza não contraria a idéia da criação, por que a evolução pressupõe a criação daquilo que evolui.

Quando ao ser humano, há uma mudança e uma novidade. Quando, no sexto dia da história do Gênesis, chega a criação do homem, Deus dá ao ser humano outra autonomia, algo diferente de toda natureza, que é a liberdade. E diz ao homem que ponha nome em todas as coisas e siga adiante o curso da história. Faz o homem responsável pela criação, para que domine a criação, para que a desenvolva até o final dos tempos."

A tradução é de minha responsabilidade, 


25 de out. de 2014

30º Domingo Comum - Domingo 26/10/2014

 Evangelho (Mt 22,34-40)

Naquele tempo, 34os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo,35e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo: 36“Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?”
37Jesus respondeu: “‘Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento!’ 38Esse é o maior e o primeiro mandamento. 39O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’. 40Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos”.
Comentário:
Este trecho é referido nos três Evangelhos sinóticos, mas com algumas particularidades (Lc 10,25-28; Mc 12,28-34). Em Mateus, Jesus proclama o mandamento do amor àqueles que o odeiam; de fato, vieram para armar-lhe uma cilada. Portanto, a maneira com que Jesus apresenta os dois mandamentos é tal que o segundo parece explicação do primeiro. Ele é realmente o único modo que o cristão tem a sua disposição para testemunhar ao mundo o amor de Deus (Jo 13,34-35; 15,12-13; 1Jo 4,19-21). Assim, é possível afirmar que no amor ao próximo  se cumppre a lei (Gl 5,14; Tg 2,8).
Leituras Relacionadas
Antigo Testamento
Livros Históricos
  • Êxodo 22, 17-27
  • Deuteronômio 6, 1-9
Livros Sapienciais e Proféticos
  • Salmos 17
Evangelhos
  • Mateus 22, 34-40
  • Marcos 12, 28-34
  • Lucas 10, 25-28
  • João 13, 34-35
  • João 15,12-13
Livros Apostólicos
  • Gálatas 5, 13-24
  • Tiago 2, 5-9
  • 1 João 4, 7-21

18 de out. de 2014

29ª Domingo Comum - Domingo 19/10/2014

Evangelho (Mt 22,15-21)

Naquele tempo, 15os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus em alguma palavra. 16Então mandaram os seus discípulos, junto com alguns do partido de Herodes, para dizerem a Jesus: “Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus. Não te deixas influenciar pela opinião dos outros, pois não julgas um homem pelas aparências. 17Dize-nos, pois, o que pensas: É lícito ou não pagar imposto a César?”
18Jesus percebeu a maldade deles e disse: “Hipócritas! Por que me preparais uma armadilha? 19Mostrai-me a moeda do imposto!” Levaram-lhe então a moeda.
20E Jesus disse: “De quem é a figura e a inscrição desta moeda?” 21Eles responderam: “De César”. Jesus então lhes disse: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”.
Comentário:
Há muitas interpretações à esta resposta de Cristo, mas de qualquer modo, o que importa é o reino de Deus. Jesus veio pregar o reino, esta é a realidade fundamental e clara, diante dele tudo passa para o segundo plano. 
No plano cristológico, este trecho coincide com Mc 12,13-17 e Jesus é como aquele que ensina a verdade, isto é, fielmente o caminho de Deus. Humanamente, Jesus era também uma questão política e o cristão não deve marginaliza-se das realidades deste mundo; deve, como fermento, transformá-lo por dentro. 
Leituras Relacionadas
Antigo Testamento
Livros Históricos
  • Números 27, 15-20
  • 1 Samuel 9, 26
Livros Sapienciais e Proféticos
  • Isaías 45, 1-6
  • Salmos 95
Evangelhos
  • Marcos 12, 13-17
  • João 15,13
Livros Apostólicos
  • Romanos 13,1-7
  • 2 Timóteo 2,1-2
  • 1 Pedro 2,13-15
  • 1 Coríntios 5,10


17 de out. de 2014

O que fazem o Conselho Paroquial e o Fiscal?

Da sua cátedra, o (Arce)Bispo pode determinar a existância de Conselhos
Pastorias, mas Conselhos Fiscais são obrigatórios.
O cânon 536 endereça a formação dos conselhos pastorais, mais conhecidos como Conselho Paroquial. O texto é bastante preciso e estabelece que sua existência é opcional, se o bispo local considerar oportuno. Claramente se o bispo não determinar que cada paróquia tenha um conselho pastoral, este não é obrigatório. 

Se houver um conselho pastoral, o pároco preside e o conselho exerce uma papel apenas consultivo. Ou seja, o pároco pode pedir a opinião do conselho sobre um determinado assunto, o conselho votar por uma linha de ação, e, mesmo assim, o pároco pode decidir por outra alternativa. O Conselho tem por missão oferecer ao padre sugestões, nunca decidir o que deve ocorrer na paróquia. Assim, qualquer decisão só pode ser tomada se o pároco estiver presente, sendo inválida qualquer reunião sem a presença do pároco. 

Já o Conselho Fiscal (ou Financeiro) é obrigatório em cada paróquia, de acordo com o Cânon 537. O simples fato do Conselho ser obrigatório já indica que não é esperado que o pároco assuma toda responsabilidade quanto ao dinheiro da paróquia. O Bispo local conhecendo a situação e possibilidades das paróquias pode determinar que o Conselho Fiscal tenha participação de profissionais da área, como contadores, analistas financeiros e advogados, que contribuíriam de maneira decisiva com seus conhecimentos técnicos. Ainda assim, o Conselho Fiscal é também um órgão consultivo, cabendo a decisão final ao pároco.

Portanto, os dois conselhos não podem tomar decisões finais; sua participação é importante para auxiliar o pároco, que tem muitas outras responsabilidades em seus ombros. Quanto mais técnicas e menos teológicas forem as questões tratadas pelos Conselhos, mais o pároco deve ouvi-los, mas sempre assumindo seus deveres. Espera-se que, juntos, pároco e conselheiros trabalhem de maneira harmônica em favor dos fiéis.

-- autoria própria

15 de out. de 2014

Posso casar no religioso sem casar no civil?

Dia destes uma amiga postou no Facebook um vídeo do Padre Paulo Ricardo intitulado "Posso casar no religioso sem casar no civil?". Sem nem mesmo assistir o vídeo, respondi imediatamente "Não deve!". Padre Paulo responde baseado no Direito Canônico e está absolutamente certo, mas eu pensei em termos bastante diferentes.

Minha reação foi pensar porque um dos noivos proporia tal arranjo e, lembrando de alguns casos, formulei minhas hipóteses:

Primeira: deixar tudo mais simples caso tenha que se separar.

Neste caso, nem deve casar, principalmente na Igreja, por que não acredita num conceito fundamental - casamento é para sempre, o casal é convidado a perdoar as falhas do cônjuge infinitas vezes, se necessário; não desistir nunca, rezar juntos, pedir a graça da perseverança tantas vezes quanto necessário. 

Segunda: algum motivo relacionado a dinheiro, como querer esconder certos bens do cônjuge.

De novo, haveria um problema sério de compreensão sobre casamento. Um casal divide tudo, na riqueza ou na pobreza, e em todas outras circuntâncias. Tudo deve ser compartilhado, nada escondido, inclusive as contas. Em termos práticos, é interessante que as contas bancárias, cartões de crédito, etc... sejam todos em conjunto e do conhecimento de ambos.

Terceira: a situação legal não permitiria o casamento ou gostaria de esconder o fato que já foi casado antes.

Se um dos dois já foi casado e ainda não contou para o noivo/noiva, por que esconderia? Como saber se não há filhos ou outras "surpresas" guardadas no passado? Ou seria apenas falta de confiança? Mas se não confia, por que casar? Bem, se a situação legal não permite um segundo casamento, é bom clarear todos os fatos, sob pena de nulidade sacramental.

Enfim, pode não ser obrigatório, mas não vejo bons motivos para não casar no civil.  

-- autoria própria

13 de out. de 2014

Luz perene no templo do Pontífice eterno

Que felizes, que ditosos aqueles servos que o Senhor ao voltar encontrar vigilantes! (Lc 12,37). Preciosa vigília pela qual se mantém alerta para Deus, criador do universo, que tudo penetra e tudo supera!

Oxalá também a mim, embora vil, mas, seu mínimo servo, se digne de tal forma sacudir-me do sono da inércia, acender o fogo da caridade divina. Que a chama de seu amor, o desejo de união com ele cintilem mais que os astros e sempre arda dentro de mim o fogo divino!

Quem me dera serem tais os méritos, que minha lâmpada estivesse sempre acesa, à noite, no templo de meu Senhor, para iluminar todos os que entram na casa de meu Deus! Senhor, concede-me, eu te rogo, em nome de Jesus Cristo, teu Filho e meu Deus, aquela caridade que não conhece ocaso, a fim de que minha lâmpada possa acender-se e jamais se apague. Arda para mim, ilumine os outros.

Que tu, Cristo, dulcíssimo Salvador nosso, te dignes acender nossas lâmpadas, de modo a refulgirem para sempre em teu templo, receberem perene luz de ti, que és a luz perene, para iluminar nossas trevas e afugentar de nós as trevas no mundo. Entrega, rogo-te, meu Jesus,Pontífice das realidades eternas,tua luz à minha candeia, para que por esta luz se manifeste a mim o santo dos santos que te possui, ali entrando pelos umbrais de teu templo magnífico, e onde somente e sem cessar eu te veja, te contemple, te deseje. Esteja eu apenas diante de ti, amando-te, e em face de ti minha lâmpada sempre resplenda, se abrase.

Suplico tenhas a condescendência de te mostrares, amado Salvador, a nós que batemos à tua porta para que, conhecendo-te, só a ti amemos, só a ti desejemos, só em ti meditemos dia e noite, sempre pensemos em ti. Inspira em nós tanto amor por ti quanto é justo que sejas, ó Deus, amado e querido. Teu amor invada todo o nosso íntimo, teu amor nos possua por inteiro, tua caridade penetre em nossos sentidos todos. Deste modo, não saibamos amar coisa alguma fora de ti, que és eterno. Uma caridade tamanha que nem as muitas águas do céu, da terra e do mar jamais a possam extinguir em nós, conforme a palavra: E as muitas águas não puderam extinguir o amor (Ct 8,7).

Que tudo se realize em nós, ao menos em parte, por teu dom, Senhor nosso, Jesus Cristo, a quem a glória pelos séculos. Amém.

-- Das Instruções de São Columbano, abade (século VI)

9 de out. de 2014

Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida

Evangelho (Jo 2,1-11)

Naquele tempo, 1houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. 2Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”.
4Jesus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”.
5Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser!”.
6Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros.
7Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água!”. Encheram-nas até a boca. 8Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala!”. E eles levaram. 9O mestre-sala experimentou a água que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água.
10O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!”
11Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
Comentário:
Neste trecho muito discutido, convém distinguir o que é claro do que continua discutível
1. Em primeiro lugar, trata-se de uma revelação de Jesus Cristo. Observem-se os vários testemunhos anteriores no capítulo 1: Cordeiro de Deus; Messias; aquele sobre escreveu Moisés; Filho de Deus e rei de Israel; e Jesus atribuindo a si mesmo o título de Filho do Homem. É uma contínua projeção para o futuro, no qual será revelada a realidade do testemunho. Caná é o primeiro sinal (milagre) que inicia a manifestação de uma realidade, a glória de Jesus. Mas a sua glória só será revelada na morte (Jo 13,3; 17,5) que sofrerá quando chegar a sua hora (Jo 12, 23-28), isto é, o terceiro dia.
2. Sobre este fundamento são possíveis outras considerações: a abundância do vinho e bom vinho é um sinal messiânico (Is 25,6; Jr 31,12; Am 9,14; Zc 9,17) e, unida ao conceito de "hora", é sinal da Eucaristia; a Maria, não considerada como mãe, mas mulher, pode, na "hora", tornar-se nossa mãe (Jo 19,25-27).
Leituras Relacionadas
Antigo Testamento
Livros Históricos
  • Ester 5,1-2
  • Ester 7,1-3
Livros Sapienciais e Proféticos
  • Isaías 25,6
  • Jeremias 31,12
  • Amós 9,14
  • Zacarias 9,17
Evangelhos
  • João 1
  • João 12,23-28
  • João 13,3
Livros Apostólicos
  • Apocalipse 12, 1-16

2 de out. de 2014

27o. Domingo Comum - 05/10/2014

 Evangelho (Mt 21,33-43)
Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos anciãos do povo: 33“Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e construiu uma torre de guarda. Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro.
34Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35Os vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro, e ao terceiro apedrejaram.
36O proprietário mandou de novo outros empregados, em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma.
37Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’.
38Os vinhateiros, porém, ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!’ 39Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha e o mataram.
40Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará com esses vinhateiros?”
41Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam: “Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
42Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’
43Por isso, eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá frutos”.
Comentário:
Esta parábola é comum aos três Evangelhos sinóticos (Mc 12,1-12; Lc 20,9-19). Mateus, porém da-lhe uma característica pessoal: 1) organiza a narrativa de forma a provocar o julgamento contra os vinhateiros, fazendo com que se volte imediatamente contra eles; 2) além de afirmar que o filho morto fora da vinha tornou-se a pedra angular, expõe explicitamente a idéia de povo a ela conexa; 3) acentua a idéia dos frutos para Israel, a vinda de Jesus era o tempo de colher os frutos mas Israel rejeitou-o; a vinha foi-lhes tirada e dada a outros, a um povo que a fará frutificar. 
Em combinação com a primeira leitura deste domingo (Is 5,1-7), é clara a ligação entre Israel e o amado, que representa Deus, tem-se um discurso de acusação.. do profeta contra Israel. As atenções que a vinha é cercada são as atenções que Deus prodigaliza à sua Igreja/esposa (Ex 16,1-14; Ef 5,25-33). A condenação da vinha à esterilidade é a maldição prometida à esposa infiel (Ez 16,35-43;Os 2,4-15).
Leituras Relacionadas
Antigo Testamento
Livros Históricos
  • Êxodo 16, 1-14
Livros Sapienciais e Proféticos
  • Salmos 79
  • Isaias 5,1-7
  • Ezequiel 16,35-43
  • Oséias 2,4-15
Evangelhos
  • Mateus 21,33-43
  • Marcos 12,1-12
  • Lucas 20,9-19
Livros Apostólicos
  • Efésios 5,25-33

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