30 de abr. de 2014

São José de Anchieta, a alegria de proclamar o Evangelho

No trecho do Evangelho que há pouco ouvimos os discípulos não conseguem acreditar na alegria que sentem, pois não podem crer por causa desta alegria. Assim diz o Evangelho. Analisemos a cena: Jesus ressuscitou, os discípulos de Emaús narraram a sua experiência: também Pedro afirma que O viu. Sucessivamente, o próprio Senhor aparece na sala e diz-lhes: "A paz esteja convosco!». Vários sentimentos irrompem nos corações dos discípulos: medo, surpresa, dúvida e, finalmente, alegria. Um júbilo tão grande que, devido a esta alegria, «não conseguiam acreditar". Estavam assustados, transtornados, e Jesus, praticamente esboçando um sorriso, pede-lhes algo para comer e começa a explicar as Escrituras, abrindo-lhes a mente para que pudessem compreendê-las. É o momento da admiração, do encontro com Jesus Cristo, onde tanta alegria não nos parece verdadeira; ainda mais, assumir a alegria, o júbilo daquele instante, parece-nos arriscado e sentimos a tentação de nos refugiarmos no ceticismo, no "não exageres!". É mais fácil acreditar num fantasma do que em Cristo vivo! É mais fácil ir ter com um necromante que nos prediz o futuro, que nos lê as cartas, do que ter confiança na esperança de um Cristo vencedor, de um Cristo que venceu a morte! É mais fácil uma ideia, uma imaginação, do que a docilidade a este Senhor que ressuscita da morte e só Deus sabe para que nos convida! Este processo de relativizar tanto a fé acaba por nos afastar do encontro, distanciando-nos da carícia de Deus. É como se destilássemos a realidade do encontro com Jesus Cristo no alambique do medo, no alambique da segurança excessiva, do desejo de controlarmos nós mesmos o encontro. Os discípulos tinham medo da alegria... e também nós!
A leitura dos Atos dos Apóstolos fala-nos de um paralítico. Ouvimos somente a segunda parte da história, mas todos nós conhecemos a transformação deste homem, aleijado de nascença, prostrado à porta do Templo a pedir esmolas, sem nunca atravessar o seu limiar, e como os seus olhos fitaram o olhar dos Apóstolos, esperando que lhe dessem algo. Pedro e João não podiam oferecer-lhe nada daquilo que ele procurava: nem ouro nem prata. E ele, que tinha permanecido sempre à porta, entra agora com os próprios pés, saltando e louvando a Deus, celebrando as suas maravilhas. E a sua alegria é contagiosa. É isto que nos diz a Escritura de hoje: as pessoas estavam cheias de enlevo e, admiradas, acorriam para ver esta maravilha! E no meio daquela confusão, daquela estupefação, Pedro anunciava a mensagem. A alegria do encontro com Jesus Cristo, aquela que temos tanto medo de aceitar, é contagiosa e clama o anúncio: é ali que a Igreja cresce! O paralítico acredita, porque a Igreja não se desenvolve por proselitismo, mas por atração; a atração do testemunho daquela alegria que anuncia Jesus Cristo. Este testemunho que nasce da alegria acolhida e em seguida transformada em anúncio. Trata-se da alegria fundante! Sem esta alegria, sem este júbilo não se pode fundar uma Igreja! Não se consegue instituir uma comunidade cristã! É uma alegria apostólica, que se irradia, que se propaga. Como Pedro, também eu me interrogo: Sou capaz, como Pedro, se me sentar ao lado do meu irmão e de lhe explicar lentamente a dádiva da Palavra que recebi e de o contagiar com a minha alegria? Sou capaz de convocar ao meu redor o entusiasmo daqueles que descobrem em nós o milagre de uma vida nova, que não se consegue controlar, e à qual devemos docilidade porque nos atrai e nos conduz? E esta vida nova nasce do encontro com Cristo?
Também São José de Anchieta soube comunicar o que ele mesmo experimentara com o Senhor, aquilo que tinha visto e ouvido dele; o que o Senhor lhe comunicava nos seus exercícios. Ele, juntamente com Nóbrega, é o primeiro jesuíta que Inácio envia para a América. Um jovem de 19 anos... Era tão grande a alegria que ele sentia, era tão grande o seu júbilo, que fundou uma Nação: lançou os fundamentos culturais de uma Nação em Jesus Cristo. Não estudou teologia, também não estudou filosofia, era um jovem! No entanto, sentiu sobre si mesmo o olhar de Jesus Cristo e deixou-se encher de alegria, escolhendo a luz. Esta foi e é a sua santidade. Ele não teve medo da alegria.
São José de Anchieta escreveu um maravilhoso hino à Virgem Maria à Qual, inspirando-se no cântico de Isaías 52, compara o mensageiro que proclama a paz, que anuncia a alegria da Boa Notícia. Ela, que naquela madrugada de Domingo sem sono por causa da esperança, não teve medo da alegria, nos acompanhe no nosso peregrinar, convidando todos a levantar-se, a renunciar às paralisias para entrar juntos na paz e na alegria que nos promete Jesus, Senhor Ressuscitado.
-- Papa Francisco, em 24 de Abril de 2014

26 de abr. de 2014

A Cruz Ortodoxa

Dias desses, passando em frente a uma Igreja Ortodoxa, ficamos nos perguntando o significado desta cruz diferente, com três barras horizontais.  E agora, com tantas notícias sobre a Ucrânia, onde a Igreja Ortoodoxa é preponderante, em várias reportagens podemos vê-la ao fundo. Pois bem, vamos ao resultado de uma rápida pesquisa. 

O simbolismo da Cruz "completa" é bastante rico. Na velha tradição ortodoxa,  ícones e imagens são sempre acompanhados de uma catequese. A Cruz "de oito pontas" nos fala sobre Jesus Cristo Ressuscitado, pois através dela veio a nossa salvação. Ela nos lembra que Jesus Cristo, Filho de Deus, morreu pelos nossos pecados e, vitorioso sobre a morte, ressuscitou em direção aos céus, onde os anjos o esperam.  A inscrição no alto, Нерукутвореному образъ, significa "não feito por mãos de homens" indica que não se trata de algo feito pelos esforços humanos, mas resultado do amor de Deus. Também indica que a própria Cruz tem sua inspiração no Espírito Santo, não é mera obra de mãos humanas.

Ajoelhados, honrando a Jesus Cristo, dois anjos com toalhas nas mãos, prontos a servir ao Senhor, esperando por Ele. A inscrição eslava Ангели Господни significa "Anjos do Senhor", aqueles que estão preparados para reconhecê-lo como Senhor e Rei. Abaixo dos Anjos está a inscrição Царь славы, "Rei da Glória", um título adequado para Jesus Cristo.

Acima de Cristo está a inscrição mandada fazer por Pôncio Pilatos, chamando-o ironicamente de "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus", em hebraico, grego e latim, para que todos em Jerusalém pudessem entender a mensagem. Ali está escrito apenas IC XC, as letras iniciais e finais de Jesus Cristo em grego (Ἰησοῦς Χριστός). Em algumas cruzes é possível encontrar ainda a inscrição IC XC NI KA, significando "Jesus Cristo é vitorioso" sobre a morte e o pecado.

Na figura de Cristo, três diferenças importantes: Ele não tem a coroa de espinhos, já está morto, com a cabeça num ângulo maior que o normal, e os pés são fixados em separados, um prego para cada um deles.

Na barra central, onde estão fixados os braços de Cristo, encontra-se o Sol e a Lua. Lembram o profeta Joel (2,2): Será dia de trevas e escuridão, dia de nuvens e de negrume. Também outros fenômenos narrados nos Evangelhos: Imediatamente a cortina do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu, e as pedras se partiram. Os túmulos se abriram e muitos santos falecidos ressuscitaram (Mt 27, 51-52); Já era mais ou menos meio-dia, e uma escuridão cobriu toda a região até às três horas da tarde, pois o sol parou de brilhar. A cortina do santuário rasgou-se pelo meio (Lc 23, 44-45).

Acima dos braços está a inscrição Сынъ Божіи, o "Filho de Deus". Abaixo dos braços, uma frase: Кресту Твоему покломняемся Владыко, и святое воскресение Твое славимъ, que significa "Em frente a Cruz de Cristo, nós nos inclinamos e adoramos a sua Santa Ressurreição". No halo de Cristo estão as iniciais gregas para "Eu sou o que sou", identificando Cristo como Deus, o emso Deus que assim se respondeu a Moisés (Ex 3,13-14).  

Ao lado do corpo de Cristo estão a lança e a esponja com vinagre. As letras К e Т são as iniciais das palavras eslavas копие e трость, respectivamente lança e esponja.

A terceira barra horizontal, que está inclinada, é como uma balança.  Jesus Cristo estava entre dois ladrões, um arrependeu-se e subiu aos céus, outro persistiu em seus pecados, condenando-se a mansão dos mortos, devido ao peso de sua consciência e transgressões. Ao fundo, as muralhas da cidade de Jerusalém. pois Cristo foi crucificado fora dos portões da cidade.

Abaixo de Cristo, temos duas inscrições, também usando apenas as iniciais: М Л Р Б e Г Г. A primeira é Место лобное рай бысть, "lugar da caveira, onde estava Adão"; a segunda é  Гора Голгофы, ou Monte Gólgota, onde Cristo foi crucificado. Segundo uma tradição nunca confirmada, Adão teria sido sepultado em uma caverrna no Monte Gólgota, o que está representado pela figura ao pé da Cruz, com as iniciais Г А, para глава Адамла ou "esta é a caveira de Adão". 

-- autoria própria

Como será a canonização dos Papas neste domingo


A cerimônia de canonização de João Paulo II e João XXIII, que será celebrada no próximo domingo a partir de 10h a.m. (hora de Roma; 5h hora de Brasília) na Praça de São Pedro do Vaticano, seguirá um rito simplificado e contará com as relíquias de sangue e pele de João Paulo II e João XXIII, respectivamente.

Antes da missa em latim, haverá a oração do terço da Divina Misericórdia que se recita utilizando o terço e também haverá cantos interpretados pelos coros de Roma, Bérgamo, Cracóvia e o coro oficial da Capela Sistina.

O ato começa com o canto da Ladainha dos Santos e, depois, o Prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, o Cardeal Angelo Amato, faz três pedidos ao Pontífice para que inscreva os beatos –neste caso, João Paulo II e João XXIII– no livro dos Santos. Primeiro o pede com "grande força", mais uma vez com "maior força" e, por último, com "grandíssima força".

Continuando, o Santo Padre exercerá toda a sua autoridade como cabeça daIgreja universal através de uma oração: "Em honra da Santíssima Trindade, para exaltação da fé católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, após ter longamente refletido, invocado várias vezes o auxílio divino e escutado o parecer dos nossos irmãos no episcopado, declaramos e definimos como Santos os Beatos João XXIII e João Paulo II".

Francisco continuará dizendo que serão inscritos no livro dos Santos e que fica estabelecido que sejam venerados por toda a Igreja. E concluirá: "Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo".

Depois, serão levados até o altar os relicários que contêm as relíquias dos Santos, uma ampola de sangue no caso de João Paulo II e um pedaço de pele que saiu durante a exumação, no caso de João XXIII. Concretamente, a relíquia de Roncalli a levarão familiares do santo, entre eles, seu sobrinho, enquanto que a do Papa Wojtyla será levada por pessoas próximas a ele, provavelmente por aquelas sobre as quais obrou o milagre.

Depois da procissão, o Cardeal Amato mostrará seu agradecimento ao Papa Francisco pela canonização, será cantado o Glória e se escutarão as leituras correspondentes ao segundo domingo de Páscoa. Além disso, devido à solenidade da celebração, o Evangelho será cantado em latim e grego.

Também serão lidas cinco preces, a primeira delas em espanhol –para que a beleza da vida nova resplandeça sempre na Igreja e que todos os homens reconheçam nela a Jesus ressuscitado e vivo–. A esta, seguirão as preces em árabe, inglês, chinês e francês, nas quais se pede pelos homens da cultura, da ciência e do governo.

Além disso, na prece eucarística se escutará pela primeira vez os nomes dos papas como São João Paulo II e São João XXIII. A cerimônia durará aproximadamente duas horas e terminará com a oração do Regina Caeli, oração Mariana típica do tempo de Páscoa.

As imagens dos futuros Santos que se colocarão durante a cerimônia serão as mesmas que se utilizaram para a beatificação. Os dias que se atribuirão para a veneração serão 11 de outubro para João XXIII e 22 de outubro para João Paulo II.

--  ACI/Digital

24 de abr. de 2014

RICA - Rito de Iniciação Cristão para Adultos

Preguem o Evangelho a todos, façam que todos se tornem meus discípulos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. (Mt 28, 19)

O catecumenato foi estabelecido pelos santos padres no início da Igreja Católica e consistia num tempo adequado de catequeses, participação na Igreja e conversão par adultos que vinham de outras religiões. Após a Igreja tornar-se a religião oficial de de diversos países, o catecumenato deixou de ser praticado.

Mas devido a nova realidade de neo-paganismo do século XX em diante,  o Concílio Vaticano II decidiu por sua atualidade afirmando: Restaura-se o Catecumenato dos adultos, dividido em diversas etapas. O tempo do Catecumenato,  estabelecido para conveniente instrução, será santificado com os sagrados ritos a serem celebrados em tempos sucessivos! (Sacrossantum Concilium, 62). São convidados ao catecumenato adultos que estejam fora da Igreja, tenham sido batizados ou não quando crianças. Esta preparação recebeu o nome de RICA - Rito de Iniciação Cristã para Adultos.

Na prática, trata-se de um conjunto de etapas que introduzem adultoos progressivamente na Igreja: pré-catecumenato, catecumenato, purificação/iluminação e mistagogia. Cada etapa é marcada por um rito. Na entrada no pré-catecumenato recebe os noovos catecúmenos e entrega seu tesouro e orientação, a Bíblia. Após um tempo suficientemente longo para que catequistas conheçam os candidatos, procede-se um escrutínio que marcará a entrada na etapa seguinte, o catecumenato. A Igreja entregará o Símbolo da Fé (Creio), o Pai-Nosso e seus mandamentos. No I ou II domingos da Quaresma, procede-se ao rito da Eleição, no V domingo ao rito da purificação através de um exorcismo e, finalmente, na Vigília Pascal
os catecúmenos são batizados, recebem a primeira comunhão e crisma. 

Pelos sacramentos da iniciação cristã, os homens, libertos do poder das trevas, mortos com Cristo e com Ele sepultados e ressucitados, recebem o Espírito de adoção filial e celebram, com todo povo de Deus, o memorial da morte e ressurreição do Senhor. O tempo de Mistagogia, normalmente se estende até Pentecostes, onde podem ser ministradas novas catequeses.

Nos Estadoos Unidos é prática bastante comum. Nesta Páscoa, na Arquidiocese de Nova Iorque cerca de 2000 adultos foram batizados; em Washington, 1300 adultos; em Los Angeles, também cerca de 2000. A foto de uma catecumena ou neófita (recém-batizada) recebendo o Batismo na minha paróquia me Port Chester/NY. 

Talvez seja hora de muitas dioceses no Brasil olharem seriamente e se preparem para oferecer esta forma de iniciação cristã, pois até onde conheço, não é comum, embora a realidade de pessoas abandonarem a Igreja seja.

-- autoria própria

23 de abr. de 2014

A pregação da verdade



A Igreja, espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra, recebeu dos apóstolos e de seus discípulos a fé em um só Deus, Pai todo-poderoso, que criou o céu, a terra, o mar e tudo o que neles existe (cf. At 4,24); em um só Jesus Cristo Filho de Deus, que se fez homem para nossa salvação; e no Espírito Santo, que, pela boca dos profetas, anunciou antecipadamente os desígnios de Deus: a vinda de Jesus Cristo, nosso amado Senhor, o seu nascimento de uma Virgem, a sua paixão e ressurreição de entre os mortos, a ascensão corporal aos céus, a sua futura vinda do céu na glória do Pai. Então ele virá para recapitular o universo inteiro (cf. Ef 1,10) e ressuscitar todos os homens, a fim de que, segundo a vontade do Pai invisível, diante de Cristo Jesus nosso Senhor, Deus, Salvador e Rei, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra, e toda língua o proclame (cf. Fl 2,10-11), e ele julgue todos os homens com justiça.

        A Igreja recebeu, como dissemos, e guarda com todo cuidado esta pregação e esta fé; apesar de espalhada pelo mundo inteiro, guarda-a como se morasse em uma só casa. Acredita nela como quem possui uma só alma e um só coração; e a proclama, ensina e transmite, como se tivesse uma só boca. Porque, embora através do mundo haja línguas muito diferentes, a força da Tradição é uma só e a mesma para todos.

        As Igrejas fundadas na Germânia, as que se encontram na Ibéria e nas terras celtas, as do Oriente, do Egito e Líbia, ou as do centro do mundo, não creem nem ensinam de modo diferente. Assim como o sol, criatura de Deus, é um só e o mesmo para todo o universo, igualmente a pregação da verdade brilha em toda parte e ilumina todos os homens que querem chegar ao conhecimento da verdade.

        E dos que presidem às Igrejas, nem mesmo o mais eloquente, dirá coisas diferentes das que afirmamos, pois ninguém está acima do divino Mestre; nem o orador menos hábil enfraquecerá a Tradição. Sendo uma só e mesma a fé, nem aquele que muito diz sobre ela a aumenta, nem aquele que diz menos a diminui.

-- Do Tratado contra as heresias, de Santo Irineu, bispo (século II)


20 de abr. de 2014

Feliz Páscoa - Homília do Papa Francisco na Vigília Pascal 2014

O Evangelho da ressurreição de Jesus Cristo começa referindo o caminho das mulheres para o sepulcro, ao alvorecer do dia depois do sábado. Querem honrar o corpo do Senhor e vão ao túmulo, mas encontram-no aberto e vazio. Um anjo majestoso diz-lhes: Não tenhais medo! (Mt 28, 5). E ordena-lhes que levem esta notícia aos discípulos: Ele ressuscitou dos mortos e vai à vossa frente para a Galileia (28, 7). As mulheres fogem de lá imediatamente, mas, ao longo da estrada, sai-lhes ao encontro o próprio Jesus que lhes diz: Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão (28, 10). Não tenhais medo, Não temais: essa é uma voz que encoraja a abrir o coração para receber este anúncio.

Depois da morte do Mestre, os discípulos tinham-se dispersado; a sua fé quebrantara-se, tudo parecia ter acabado: desabadas as certezas, apagadas as esperanças. Mas agora, aquele anúncio das mulheres, embora incrível, chegava como um raio de luz na escuridão. A notícia espalha-se: Jesus ressuscitou, como predissera... E de igual modo a ordem de partir para a Galileia; duas vezes a ouviram as mulheres, primeiro do anjo, depois do próprio Jesus: Partam para a Galileia. Lá Me verão. Não temais e ide para a Galileia.

A Galileia é o lugar da primeira chamada, onde tudo começara! Trata-se de voltar lá, voltar ao lugar da primeira chamada. Jesus passara pela margem do lago, enquanto os pescadores estavam a consertar as redes. Chamara-os e eles, deixando tudo, seguiram-No (cf. Mt 4, 18-22).

Voltar à Galileia significa reler tudo a partir da cruz e da vitória; sem medo, não temais. Reler tudo – a pregação, os milagres, a nova comunidade, os entusiasmos e as deserções, até a traição – reler tudo a partir do fim, que é um novo início, a partir deste supremo acto de amor.

Também para cada um de nós há uma Galileia, no princípio do caminho com Jesus. Partir para a Galileia significa uma coisa estupenda, significa redescobrirmos o nosso Batismo como fonte viva, tirarmos energia nova da raiz da nossa fé e da nossa experiência cristã. Voltar para a Galileia significa antes de tudo retornar lá, àquele ponto incandescente onde a Graça de Deus me tocou no início do caminho. É desta fagulha que posso acender o fogo para o dia de hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e às minhas irmãs. A partir daquela fagulha, acende-se uma alegria humilde, uma alegria que não ofende o sofrimento e o desespero, uma alegria mansa e bondosa.

Na vida do cristão, depois do Batismo, há também outra Galileia, uma Galileia mais existencial: a experiência do encontro pessoal com Jesus Cristo, que me chamou para O seguir e participar na sua missão. Neste sentido, voltar à Galileia significa guardar no coração a memória viva desta chamada, quando Jesus passou pela minha estrada, olhou-me com misericórdia, pediu-me para O seguir; voltar para Galileia significa recuperar a lembrança daquele momento em que os olhos d’Ele se cruzaram com os meus, quando me fez sentir que me amava.

Hoje, nesta noite, cada um de nós pode interrogar-se: Qual é a minha Galileia? Trata-se de fazer memória, ir de encontro à lembrança. Onde é a minha Galileia? Lembro-me dela? Ou esqueci-a? Procura e a encontrarás! Ali o Senhor te espera. Andei por estradas e sendas que ma fizeram esquecer. Senhor, ajudai-me! Dizei-me qual é a minha Galileia. Como sabeis, eu quero voltar lá para Vos encontrar e deixar-me abraçar pela vossa misericórdia. Não tenhais medo, não temais, voltai para a Galileia!

O Evangelho é claro: é preciso voltar lá, para ver Jesus ressuscitado e tornar-se testemunha da sua ressurreição. Não é voltar atrás, não é nostalgia. É voltar ao primeiro amor, para receber o fogo que Jesus acendeu no mundo, e levá-lo a todos até aos confins da terra. Voltai para a Galileia sem medo.

Galileia dos gentios (Mt 4, 15; Is 8, 23): horizonte do Ressuscitado, horizonte da Igreja; desejo intenso de encontro... Ponhamo-nos a caminho!

-- Papa Francisco, Vigília Pascal, 19 de Abril de 2014

18 de abr. de 2014

A esposa de Pilatos

Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: "Não se envolva com esse justo, porque esta noite, em sonhos, sofri muito por causa dele." (Mt 27,19).
O Sonho da Mulher de Pilatos, gravura de Alphonse François, c. 1879.

Quando estava sentado: Pôncio Pilatos estava presidindo o Tribunal sentado na cadeira principal, numa posição elevada, acima dos demais, no Pretório, onde os governadores romanos julgavam os casos trazidos até eles. Já havia perguntado à multidão o que preferiam: Barrabás ou Jesus? 

Sua mulher mandou dizer a ele: o nome não é citado na Bíblia, mas de acordo com a tradição era Claudia, certamente uma dama da alta classe, talvez neta do Imperador Augusto. Diz-se que era uma prosélita, isto é, estaria aprendendo o Judaísmo. Assim como o marido, ela já tinha ouvido falar de Jesus. Naquele dia, o marido fora acordado muito cedo para resolver a questão enquanto ela permaneceu dormindo. Acordou-se com um sonho pertubou, mas por mais urgente que fosse o assunto, não poderia entrar no Tribunal, reservado para homens. Certamente não poderia publicamente interferir no caso e preferiu escrever uma mensagem explicando a caso, que somente ele leria.

Não se envolva com esse justo: em toda história da Paixão de Cristo é a única pessoa a interferir em favor de Cristo, uma mulher, romana. Os apóstolos, com medo, negaram a Cristo e certamente não se apresentaram no Tribunal como discípulos. 

Em sonhos, sofri muito por causa delecomo não há nenhum detalhe, é impossível saber o conteúdo do sonho. Em outras passagens bíblicas, Deus enviou mensagens através de sonhos: José entendou a gravidez milagrosa de Maria através de um sonho, em outro sonho foi alertado a fugir para o Egito. Então é possível inferir que o sonho tenha sido também uma mensagem de Deus, capaz de comovê-la e convencê-la que algo deveria ser feito para evitar a condenação de Cristo. Por mais convincente que tenha sido, no entanto, não foi capaz de alterar a infeliz decisão de Pilatos.  

Segundo tradições não confirmadas, Claudia teria posteriormente se convertido ao Cristianismo e as Igrejas Ortodoxa Oriental e Ortodoxa da Etiópia consideram-na santa por sua intervenção em favor Cristo, sendo 27 de Outubro o seu dia festivo.

-- autoria própria




16 de abr. de 2014

São Pedro também se converteu

Todos os seres humanos, à exceção de Maria, têm continuamente necessidade de conversão. Jesus prediz a Pedro a sua queda e a sua conversão. Por que Pedro teve de converter-se? No início do seu chamamento, assombrado com o poder divino do Senhor e com a sua própria miséria, Pedro dissera: "Senhor, afasta-Te de mim, que eu sou um homem pecador" (Lc 5, 8). Na luz do Senhor, reconhece a sua insuficiência. Precisamente deste modo, com a humildade de quem sabe que é pecador, é que Pedro é chamado. Ele deve reencontrar sem cessar esta humildade. Perto de Cesareia de Filipe, Pedro não quisera aceitar que Jesus tivesse de sofrer e ser crucificado: não era conciliável com a sua imagem de Deus e do Messias.

São Pedro negando Jesus. A serva está iluminada, ela
que diz a verdade.
No Cenáculo, não quis aceitar que Jesus lhe lavasse os pés: não se adequava à sua imagem da dignidade do Mestre. No horto das oliveiras, feriu com a espada; queria demonstrar a sua coragem. Mas, diante de uma serva, afirmou que não conhecia Jesus. Naquele momento, isto parecia-lhe uma pequena mentira, para poder permanecer perto de Jesus. O seu heroísmo ruiu num jogo mesquinho por um lugar no centro dos acontecimentos. Todos nós devemos aprender sempre de novo a aceitar Deus e Jesus Cristo como Ele é, e não como queríamos que fosse. A nós também nos custa aceitar que Ele esteja à mercê dos limites da sua Igreja e dos seus ministros.

Também não queremos aceitar que Ele esteja sem poder neste mundo. Também nos escondemos por detrás de pretextos, quando a pertença a Ele se nos torna demasiado custosa e perigosa. Todos nós temos necessidade da conversão que acolhe Jesus no seu ser Deus e ser-Homem. Temos necessidade da humildade do discípulo que segue a vontade do Mestre. Nesta hora, queremos pedir-Lhe que nos fixe como fixou Pedro, no momento oportuno, com os seus olhos benévolos, e nos converta.

-- Papa Bento XVI, trecho da homília da Missa de Quinta-Feira Santa, em 21 de Abril de 2011

Fazei isto em memória de mim: uma homília de João Paulo II na quinta-feira santa

"Tenho ardentemente desejado comer convosco esta páscoa, antes de padecer" (Lc 22, 15).

Com estas palavras, Cristo faz conhecer o significado profético da Ceia pascal, que está para celebrar com os discípulos no Cenáculo de Jerusalém.

Com a primeira leitura, tirada do Livro do Êxodo, a Liturgia pôs em evidência o fato de a Páscoa de Jesus se inscrever no contexto daquela da Antiga Aliança. Com ela os Israelitas faziam memória da ceia consumada pelos seus pais, no momento do êxodo do Egipto, e da libertação da escravidão. O texto sagrado prescrevia que um pouco do sangue do cordeiro fosse posto nas duas ombreiras e na verga da porta das casas. E acrescentava como devia ser comido o cordeiro, isto é: "Tereis os rins cingidos, as sandálias nos pés e o bordão na mão... apressadamente... Passarei nesta noite através do Egito e ferirei de morte todos os primogénitos... O sangue servirá de sinal nas casas em que residis. Vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo flagelo destruidor" (Êx 12, 11-13).

O sangue do cordeiro obtém para os filhos e filhas de Israel a libertação da escravidão do Egito, sob a guia de Moisés. A recordação de um evento tão extraordinário tornou-se ocasião de festa para o povo, que estava grato ao Senhor pela liberdade readquirida, dom divino e empenho humano sempre atual: "Conservareis a recordação desse dia, comemorando-o com uma solenidade em honra do Senhor" (Ibid., 12, 14). É a Páscoa do Senhor! A Páscoa da Antiga Aliança!

"Tenho ardentemente desejado comer convosco esta páscoa, antes de padecer" (Lc 22, 15). No Cenáculo, Cristo, obediente às prescrições da Antiga Aliança, consuma a ceia pascal com os Apóstolos, mas dá a este rito um novo conteúdo. Escutamos São Paulo falar a respeito disto na segunda leitura, tirada da primeira Carta aos Coríntios. Neste texto, considerado a mais antiga descrição da Ceia do Senhor, recorda-se que Jesus, "na noite em que foi entregue tomou o pão e, depois de dar graças, o partiu e disse: "Isto é o Meu corpo, que será entregue por vós; fazei isto em Minha memória". Do mesmo modo, depois de cear, tomou o cálice e disse: "Este cálice é a Nova Aliança no Meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em Minha memória". Com efeito, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha" (cf. 1 Cor 11, 23-26).

Palavras solenes com as quais se transmite para sempre a memória da instituição da Eucaristia. Neste dia, recordamo-las todos os anos, retornando espiritualmente ao Cenáculo. É com particular emoção que as revivo nesta tarde, porque conservo nos olhos e no coração as imagens do Cenáculo, onde tive a alegria de celebrar a Eucaristia, por ocasião da recente peregrinação jubilar na Terra Santa. A emoção torna-se ainda mais forte, porque este é o ano do Jubileu bimilenário da Encarnação. Nesta perspectiva, a celebração que estamos a viver adquire uma profundidade particular. Com efeito, no Cenáculo, Jesus deu um novo conteúdo às antigas tradições e antecipou os eventos do dia sucessivo, quando o Corpo imaculado do Cordeiro de Deus haveria de ser imolado e o seu Sangue derramado para a redenção do mundo. A Encarnação acontecera em vista precisamente deste evento, em vista da Páscoa de Cristo, da Páscoa da Nova Aliança!

"Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha" (1 Cor 11, 26). O Apóstolo exorta-nos a fazer constante memória deste mistério. Ao mesmo tempo, convida-nos a viver cada dia a nossa missão de testemunhas e anunciadores do amor do Crucificado, à espera do seu retorno glorioso.

Mas como fazer memória deste evento salvífico? Como viver à espera de que Cristo retorne? Antes de instituir o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, Cristo, inclinado e de joelhos, na atitude do escravo, lava os pés aos discípulos no Cenáculo. Revemo-l'O enquanto realiza este ato, que na cultura hebraica é precisamente dos servos e das pessoas mais humildes da família.

No início Pedro recusa-se, mas o Mestre convence-o, e enfim também ele se deixa lavar os pés juntamente com os outros discípulos. Logo depois, porém, retomando as vestes e tendo-se posto de novo à mesa, Jesus explica o sentido deste seu gesto: "Vós chamais-Me Mestre e Senhor, e dizeis bem, visto que o sou. Ora, se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros" (Jo 13, 12-14). São palavras que, unindo o mistério eucarístico ao serviço do amor, podem ser consideradas preliminares à instituição do Sacerdócio ministerial.

Com a instituição da Eucaristia, Jesus comunica aos Apóstolos a participação ministerial no seu sacerdócio, o sacerdócio da Aliança nova e eterna, em virtude da qual Ele, e somente Ele, é sempre e em toda a parte artífice e ministro da Eucaristia. Os Apóstolos tornaram-se, por sua vez, ministros deste excelso mistério da fé, destinado a perpetuar-se até ao fim do mundo. Tornaram-se contemporaneamente servidores de todos aqueles que vierem a participar em tão grande dom e mistério.

A Eucaristia, o supremo Sacramento da Igreja, está unida ao sacerdócio ministerial, nascido também ele no Cenáculo, como dom do grande amor d'Aquele que, "sabendo que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai (...) que amara os Seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por eles" (Jo 13, 1).

A Eucaristia, o sacerdócio e o novo mandamento do amor! É este o memorial vivo que contemplamos na Quinta-Feira Santa. "Fazei isto em memória de Mim": eis a Páscoa da Igreja! A nossa Páscoa!

-- Papa João Paulo II, em 20 de Abril de 2000

14 de abr. de 2014

Salmo 42: Sicut Cervus, de Palestrina

Giovanni Palestrina (1525-1594) é um compositor italiano de músicas sacras. Começou sua carreira como maestro e organista na Igreja de Santo Agapito, em sua cidade natal, Palestrina. Era muito admirado por todos, inclusive pelo Bispo, que veio a ser o Papa Julio III. Em 1551 foi apontado como maestro do coro da Capela Juliana, na catedral de São Pedro, no Vaticano. Sua carreira foi toda em Roma, tendo passado períodos como maestro São João Laterano e Santa Maria Maior, também basílicas vaticanas.

No período tardio da Renascença, Palestrina compôs diversas obras para corais, destacando-se os seus arranjos polifônicos, isto é, quando duas ou mais vozes cantam ao mesmo tempo melodias diferentes, uma sobrepondo-se a outra. O Salmo 42, que inicia com: Como a corça suspira pelas correntes de água, suspira igualmente minha alma por vós, ó meu Deus! é o texto da música Sicut Cervus (sicut = como; cervus = corça).

O vídeo mostra um quarteto da New York Polyphony, cantando na belíssima Igreja (Episcopal) de Santa Virgem Maria,  localizada a meia quadra de Times Square, Nova Iorque.

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13 de abr. de 2014

Domingo de Ramos: Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel

Vinde, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo, que hoje volta de Betânia e se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa salvação.

Caminha o Senhor livremente para Jerusalém, ele que desceu do céu por nossa causa – prostrados que estávamos por terra – para elevar-nos consigo bem acima de toda autoridade, poder, potência e soberania ou qualquer título que se possa mencionar (Ef 1,21), como diz a Escritura.

O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. Ele não discutirá, diz a Escritura, nem gritará, e ninguém ouvirá sua voz (Mt 12,19; cf. Is 42,2). Pelo contrário, será manso e humilde, e se apresentará com vestes pobres e aparência modesta.

Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a sua Paixão e imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nos prostrarmos a seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que se aproxima, e acolhermos aquele Deus que lugar algum pode conter.

Alegra-se Jesus Cristo, porque deste modo nos mostra a sua mansidão e humildade, e se eleva, por assim dizer, sobre o ocaso (cf. Sl 67,5) de nossa infinita pequenez; ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco, tornando-se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a si.

Diz um salmo que ele subiu pelo mais alto dos céus ao Oriente (cf. Sl 67,34), isto é, para a excelsa glória da sua divindade, como primícias e antecipação da nossa condição futura; mas nem por isso abandonou o gênero humano, porque o ama e quer elevar consigo a nossa natureza, erguendo-a do mais baixo da terra, de glória em glória, até torná-la participante da sua sublime divindade.

Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram o olhar por pouco tempo, mas depressa perdem o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de sua graça, ou melhor, revestidos dele próprio, – vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo (Gl 3,27) – prostremo-nos a seus pés como mantos estendidos.

Éramos antes como escarlate por causa dos nossos pecados,mas purificados pelo batismo da salvação, nos tornamos brancos como a lã. Por conseguinte, não ofereçamos mais ramos e palmas ao vencedor da morte, porém o prêmio da sua vitória.

Agitando nossos ramos espirituais, o aclamemos todos os dias, juntamente com as crianças, dizendo estas santas palavras: “Bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel”.

-- Dos Sermões de Santo André de Creta, bispo (século VI)

12 de abr. de 2014

Sobre o pão e vinho eucarísticos após a missa

O Pão e Vinho Eucarísticos deixam de ser Corpo e Sangue de Cristo quando a Missa termina? Não! Durante a celebração da Eucaristia, o pão e vinho tornam-se Corpo e Sangue de Cristo e assim ermanecem ao final da Missa. Não podem ser transformados de novo em simples pão e vinho. Não há nenhuma possibilidade de transformá-los de volta ao seu estado natural ao final da celebração. A presença do Corpo e Sangue de Cristo persiste enquanto as espécies eucarístiscas existirem (Catecismo da Igreja Católica, 1377). Cristo permance na Eucaristia enquanto as espécies se mantiverem sob a forma de pão e vinho. São Cirilo de Alexandria já afirmava: Cristo não é alterado, nem seu seu santo corpo é afetado, o poder da consagração e restauraçãoo da vida é perpétuo (carta 83, para o Bispo de Arsinoe). 

Embora seja possível consumir todo pão e vinho ao final da Missa, normalmente algumas hóstias consagradas são guardadas no Tabernáculo, diz-se que são "reservadas" e constituem o Sagrado Sacramento.

Porque anjos guardam o tabernáculo? Assim Deus orienttou
Moisés sobre como construir a Arca da Aliança, o primeiro
tabernáculo. 
Há vários motivos para manter algumas hóstias intactas: em primeiro lugar, são utilizadas para a distribuição aos doentes e aqueles que por legítimas razões não puderam comparecer à Eucaristia. Também podem ser expostas para permitir sua adoração, utilizando o rito apropriado; ou carregadas durante as procissões de Corpus Christi, ou ainda, apenas permitir a oração privada. Diversos santos tinham profunda adoração pelo Santíssimo Sacramento e passavam horas adorando-o. Nas igrejas católicas de rito oriental, a devoção é especialmente importante no tempo de Quaresma.

O tabernáculo onde o Corpo e Sangue de Cristo são mantidos deve estar colocado em um local apropriado e distinto da igreja, adequadamente decorado e que convide à oração. Antigamente o tabernáculo era colocado ao centro da parede do altar, mas recomenda-se que sempre possível seja colocado em outro local. Em igrejas maiores é comum haver uma capela específica para o Santíssimo Sacramento. 

De acordo com a tradição da Igreja, é comum inclinar-se ou ajoelhar-se em frente no tabernáculo, além de fazer o sinal da cruz. Não é apropriado conversas desnecessárias e casuais em frente ao tabernáculo, ao qual deve-se sempre mostrar reverência. 

-- autoria própria


10 de abr. de 2014

A escada do claustro - parte final

XII. Recapitulação do que foi dito

Para que se possa ver melhor em conjunto o que foi dito em forma mais desenvolvida, vamos recapitulá-lo em resumo. Assim como foi notado nos exemplos propostos, podes ver como os ditos degraus se ligam uns aos outros entre si. E como um precede a outro, tanto no tempo, como na casualidade.

Como primeiro fundamento, vem a leitura. Ela fornece a matéria e nos leva à meditação.

A meditação, por sua vez, perscruta com maior diligência o que se deve desejar, e como que cavando, acha e mostra o tesouro. Mas, como não pode por si mesma obtê-lo, leva-nos à oração.

A oração, elevando-se a Deus com todas as suas forças, obtém o tesouro desejável, a suavidade da contemplação.

Sobrevindo a contemplação, ela recompensa o trabalho dos três degraus referidos, embriagando. a alma sedenta com o orvalho da doçura celeste.

A leitura é feita segundo um exercício mais exterior; a meditação, segundo uma inteligência mais interior; a oração, segundo o desejo; a contemplação passa acima de todo sentido.

O primeiro degrau é dos principiantes; o segundo, dos que progridem; o terceiro, dos fervorosos; o quarto, dos bem-aventurados.

XIII. Como os mesmos degraus são ligados uns aos outros

Estes degraus são de tal modo ligados, e de tal forma servem uns aos outros, que os precedentes pouco ou nada aproveitam sem os seguintes, e os seguintes, por sua vez, nunca ou só raramente, podem ser adquiridos sem os precedentes.

Que adianta, com efeito, ocupar o tempo em contínua leitura, percorrer os feitos e os escritos dos santos, se não exprememos o seu suco, mastigando e ruminando, e não o passamos até ao mais íntimo do coração, engolindo, a fim de por eles considerarmos diligentemente o nosso estado, e cuidarmos de praticar as obras daqueles cujos feitos queremos ler freqüentemente?

Mas, como haveremos de cogitar estas coisas, ou como poderemos evitar que, meditando coisas erradas e vãs, se transgridam os limites constituídos pelos santos Pais, a não ser que sejamos antes instruídos a tal respeito pela leitura ou pelo ensino?

O ensino, de certo modo, se relaciona com a leitura, o que nos leva habitualmente a dizer que lemos para nós mesmos ou para os outros, mas também o que ouvimos dos mestres.

Igualmente, que vale ao homem ver pela meditação o que deve praticar, se não pode fazê-lo senão pelo auxilio da oração e pela graça de Deus? Porque todo dom excelente e todo dom perfeito vem de cima e desce do Pai das luzes (Tg 1,17).

Sem ele nada podemos, ao passo que ele faz em nós as obras, mas não sem nós. Pois somos cooperadores de Deus (1Cor 3,9), como diz o Apóstolo. Deus quer que lhe supliquemos, quer que abramos à graça que vem e bate à porta, o seio da nossa vontade, e lhe demos o nosso consentimento.

O Senhor exigia esse consentimento da Samaritana, quando dizia:

Chama o teu marido (Jo 4,16), como se dissesse: Quero te infundir a graça; aplica o teu livre arbítrio.

Dela exigia a oração: Se soubesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, serias tu que lhe terias pedido a água viva (ib.1 O).

Inflamada, pois, pelo desejo, volta-se para a oração, dizendo:

Senhor, dá-me desta água, a fim de que eu não tenha mais sede. Assim, portanto, a palavra do Senhor que ouvira e depois meditara, a incitou à oração.

Como haveria de tomar-se solícita na súplica, se antes, a meditação não a tivesse feito arder? Ou de que lhe serviria a precedente meditação, se a oração seguinte não obtivesse o que aquela lhe mostrara?

Para que seja, pois, frutuosa a meditação, é preciso que se lhe siga o fervor da oração, da qual é como um efeito a doçura da contemplação.

XIV. Conseqüências do que foi dito

De tudo isso podemos concluir que a leitura sem a meditação é árida, a meditação sem a leitura é errônea, a oração sem meditação é morna, a meditação sem oração é infrutífera.

A oração com fervor obtém a contemplação, mas a aquisição da contemplação é rara ou miraculosa sem a oração.

Deus, com efeito, cujo poder não tem limites, e cuja misericórdia se estende a todas as suas obras, às vezes suscita das pedras filhos de Abraão (cf. Mt 3,9). É o que se dá quando força corações duros e rebeldes a querer. Ele é como o pródigo que, segundo se costuma dizer, "dá o boi com os chifres", quando vem sem ser chamado e se envolve sem ser procurado.

Embora tenha isso acontecido a alguns, como a Paulo e alguns outros, não devemos, no entanto, tentar a Deus presumindo tais dons, mas fazer o que nos compete, isto é, ler e meditar a lei de Deus, e rogar-lhe que ajude a nossa fraqueza, e veja a nossa imperfeição. Ele próprio nos ensina a fazer assim, quando diz: Pedi e recebereis, procurai e achareis, batei e abrir-se-vos-á (Mt 7,7). Pois agora o reino dos céus sofre violência, e são os violentos que dele se apoderam (Mt 11,12).

Eis, pois, que as distinções acima assinaladas permitem perceber as propriedades dos vários degraus, como se concatenam entre si, o que produz em nós cada um deles.

Feliz o homem que, tendo o espírito vazio de outros cuidados, deseja sempre passar e repassar por esses degraus. É aquele que, vendendo tudo que possui, compra o campo em que está escondido o tesouro desejável, que é recolher-se e ver como é suave o Senhor (cf. Sl 34,9).

Feliz, sim, aquele que, exercitado no primeiro degrau, bem atento no segundo, fervente no terceiro, alçado acima de si no quarto, se eleva cada vez mais forte, por essas subidas, até ver o Deus dos deuses em Sião (Sl 84,8).

Bem-aventurado é aquele, a quem é dado permanecer, ainda que por pouco tempo, nesse último degrau, e que pode dizer: Eis que sinto a graça de Deus, eis que contemplo com Pedro e João a sua glória no monte, eis que gozo com Jacó os abraços da bela Raquel.

Mas acautele-se ele depois de tal contemplação, para não cair nos abismos por uma queda desordenada, nem voltar, depois de tão grande visita, aos lascivos atos do mundo e às seduções da carne.

Como não pode a fraca ponta da mente humana sustentar mais longamente o esplendor da verdadeira luz, desça suavemente e com ordem algum dos três degraus pelos quais subira, e assim, alternadamente, ora em um ora em outro, demore segundo a moção do livre arbítrio e as circunstâncias de lugar e de tempo. A meu ver, ele estará tanto mais próximo de Deus, quanto mais longe do primeiro degrau. Como é, infelizmente, frágil e miserável a condição humana!

Vemos, pois, abertamente, com o auxílio da razão e os testemunhos das Escrituras, que a perfeição da vida bem-:-aventurada está contida nestes quatros degraus, e que o homem espiritual deve estar sempre a exercitar-se neles.

Mas, quem é que guarda esse modo de viver, quem é ele, e nós o louvaremos? (Eclo 31,9). Querer, muitos querem, mas fazer é de poucos.

Queira Deus que sejamos desses poucos.

XV. Quatro causas que nos retraem dos referidos degraus

São quatro as causas que, o mais das vezes, nos desviam desses degraus: uma necessidade inevitável, a utilidade duma boa ação, a fraqueza humana, a vaidade mundana.

A primeira é desculpável; a segunda é tolerável; a terceira é miserável; a quarta é culpável. E verdadeiramente culpável. A quem, por essa causa, é desviado do seu propósito, melhor seria não ter conhecido a graça de Deus, do que retroceder depois de conhecê-la. Que escusa terá do seu pecado?

Não lhe poderá, acaso, Deus dizer, com razão: Que mais te devia fazer e não fiz? (cf. Is 5,4). Não existias e te criei. Tornaste-te servo do diabo e do pecado, e te redimi. Corrias com os ímpios ao redor do mundo, e te escolhi. Dei-te graça perante meus olhos e queria fazer em ti a minha habitação, e em verdade me desprezaste. Não jogaste para trás somente as minhas palavras, mas a mim mesmo, e andaste em busca das tuas concupiscências.

Mas, ó Deus bom, suave e manso, doce amigo, conselheiro prudente, ajuda forte, como é desumano e temerário aquele que te rejeita, e repele do seu coração um hóspede tão humilde e clemente!

Ó infeliz e nociva troca, rejeitar o seu Criador e acolher pensamentos maus e prejudiciais, e entregar tão depressa a pensamentos impuros e ao espezinhar dos porcos até mesmo aquela câmara secreta do Espírito Santo, que é o fundo do coração, que pouco antes se dirigia às alegrias celestes!

Ainda estão quentes no coração os vestígios do Esposo, e já ali se intrometem desejos adulterinos.

É inconveniente e indecoroso para ouvidos que acabam de ouvir palavras que não é lícito ao homem falar (cf. 2Cor 12,4), entregar-se tão depressa a fábulas e a ouvir maledicências. E para olhos que acabam de ser batizados pelas lágrimas sagradas, de repente se voltar para ver vaidades. Para a língua que acaba de cantar um doce epitalâmio, e que tinha reconciliado o Esposo com a esposa por suas palavras inflamadas e persuasivas, e a introduzira no celeiro (cf. Ct 2,4), de novo se converter às conversas torpes, às leviandades, à urdi dura de dolos, à maledicência.

Não nos aconteça, Senhor, mas se acaso, por fraqueza humana, recairmos nisso, não desesperemos, mas de novo recorramos ao Médico clemente que levanta do pó o indigente e ergue o pobre do monturo (Sl 113,7). E ele, que não quer a morte do pecador, voltará a nos curar e salvar.

Já é tempo de pôr fim a esta carta. Oremos todos ao Senhor que no presente enfraqueça para nós os impedimentos que nos retraem da sua contemplação; no futuro, nos liberte inteiramente deles, levando-nos, mediante os referidos degraus, cada vez mais fortes, a vermos o Deus dos deuses em Sião (Sl 84,8). Ali, os eleitos não experimentarão mais gota a gota nem intermitentemente a doçura da contemplação. Pois terão, em incessante torrente de gozo, a alegria que ninguém tirará, e a paz imutável, a paz nele.

E tu, Gervásio, meu irmão, se do alto, te for dado um dia ascender ao cume desses degraus, lembra-te de mim e ora por mim, quando for bem para ti.

Assim, o véu puxe o véu (cf. Ex 26,33), e aquele que escuta, diga:

Amem! (Ap 22,17).

4 de abr. de 2014

A verdade salva por mais bela que seja a mentira.

A propaganda nazista igualava judeus a ratos e assim justificou milhões de mortes. Um advogado abortista fez parecido, disse que bebês são como parasitas dentro da mulher, e assim justifica milhões de mmortes. Bem, por excessiva, esta linguagem não perdura, é por demais nauseante para muitas pessoas. E inteligente é o demônio.


Num website de apologia ao aborto, temos belas imagens: numa paisagem florida com o sol entre as montanhas ao fundo, cercado de algumas nuvens que parecem algodão. Nada lembra aborto. Então progressivamente vem o letreiro: Um presente de Deus! E uma explicação: Aborto é sobre vida, qualidade de vida para recém-nascidos,  crianças e adultos, de qualquer parte do mundo e todos sentidos da palavra. É sobre vida, não morte! Mas o demônio não pode tudo.

Max e Elizabeth já moravam juntos a quase dois anos quando em Setembro de 2010, após uma ressonância magnética, os médicos lhe telefonaram com notícias urgentes sobre o diagnostico: não se tratava de uma hérnia de disco, mas de um tumor que precisava de tratamento imediato. Ao desligar, Elizabeth disse: Se é um câncer e é terminal, por que perdermos tempo em hospitais. Vamos viajar pelo mundo enquanto eu resistir. Max foi ate a cozinha e improvisou um par de alianças,  voltou e propôs: Você não tem outra opção a não ser lutar e eu estarei ao teu lado sempre. Casaram-se no mês seguinte.

Após quatro sessões de quimioterapia, uma cirurgia e ainda mais quimioterapias, os médicos declararam que o tumor havia sido erradicado. Mas ela estava impossibilitada de ter filhos. E assim se passaram três anos. 

O casal mudou para uma área mais tranquila de Nova Iorque, Roosevelt Island, pois pretendiam ter crianças, mesmo que adotadas. Mas semanas após, Elizabeth percebeu mudanças no seu corpo e confirmou o impossível: estava grávida. Os médicos disseram que era impossível, mas sim, era possível e real.

E então nova mudança de rumos: no segundo mês de gravidez os médicos perceberam que o tumor voltara. A proposta foi simples: abortar imediatamente e começar o tratamento, que seria ainda mais agressivo e debilitante. O casal, mesmo sabendo que esta era talvez a única chance real, simplesmente respondeu: Não! Nada é mais importante que uma vida!

Como estava grávida, preferiu não fazer nova ressonância magnética e os médicos tiveram que operá-la "no escuro". E não puderam tirar todas as células cancerígenas. Quimioterapia era impensável e até medicamentos para dor eram restritos.  

O bebê estava previsto para Março deste ano, mas não era possível esperar. Em Janeiro a filha Lily nasceu através de uma cesariana. Após cinco dias de internação, Elizabeth retornou para casa. O tumor já havia se espalhado para o pulmão direito, abdomem e coração. Max conta que tiveram aquela noite como família. Choraram, contaram histórias, fizeram promessas. Na manhã seguinte Elizabeth retornou definitivamente ao hospital, onde faleceu em 9 de Março.

-- Autoria própria, baseado numa história escrita por Kate Briquelet e publicada no New York Post

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