2 de jun. de 2015

Nada é árduo aos que têm por fim somente a honra de Deus e a salvação das almas

São José de Anchieta foi missionário no
Brasil de 1553 até sua morte em 1597.
De outros muitos poderia contar, especialmente sobre os escravos, dos quais uns morrem tão logo batizados, acabando sua confissão vão para o Senhor, outros já foram batizados dias antes. Pelo que, quase sem cessar, andamos visitando várias povoações, tanto de Índios como de Portugueses, sem fazer caso do calor, chuvas ou grandes enchentes de rios,e muitas vezes de noite, por bosques muito escuros, a socorrermos aos enfermos, não sem grande trabalho, tanto pela aspereza dos caminhos, como pela incomodidade do tempo, por que são tantas povoações e tão longe umas das outras, que não somos bastantes a acudir tão várias necessidades, como ocorrem, nem mesmo se fossemos muito mais, não poderíamos bastar. Além disso, nós, que socorremos as necessidades dos outros, muitas vezes estamos mal dispostos e fatigados de dores, desfalecemos no caminho, de maneira que apenas o podemos acabar; assim que não menos parecem ter necessidade de ajuda os médicos que os mesmos enfermos. Mas nada é árduo aos que têm por fim somente a honra de Deus e a salvação das almas, pelas quais não duvidarão dar a vida. Muitas vezes nos levantamos do sono, ora para os enfermos, ora para os que morrem.

Hei me detido em contar os que morrem, porque neles o verdadeiro fruto permanece até o fim; porque dos vivos não ousarei contar nada, por ser tanta a inconstância em muitos, que não se pode, nem se deve afirmar deles coisa alguma. Mas bem-aventurados aqueles que morrem no Senhor (Ap 14,13), os quais livres das perigosas águas deste mudável mar, abraçada a fé e os mandamentos do Senhor, são transladados à vida, soltos das prisões da morte, e assim os bem-aventurados êxitos destes nos dão tanta consolação, que pode mitigar a dor que recebemos da malícia dos vivos. E, contudo, trabalhamos com muita diligência em sua doutrina, os admoestamos em públicas predicações e particulares práticas, que perseverem no que têm aprendido. Confessam-se e comungam muitos cada domingo; vêm também de outros lugares onde estão dispersos a ouvir as Missas e confessar-se.

-- Das Cartas do Bem-aventurado José de Anchieta ao Prepósito-Geral Diego Láyñez (Carta de 1º de junho de 1560)

* tomei a liberdade de substituir algumas palavras em desuso na Língua Portuguesa por sinônimos mais atuais, para facilitar a compreensão. O texto original está na Liturgia das Horas, no dia em Memória ao Padre José de Anchieta.

Nenhum comentário:

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...