3 de out. de 2015

Encontro das Famílias 1997 - Discurso do Santo Papa João Paulo II

Eu gostaria de recolher aqui, em breve síntese, aquilo que haveis refletido, após uma intensa preparação catequética conforme o Magistério da Igreja, nas Assembléias Familiares, nas Dioceses, Paróquias, Movimentos e Associações. Foi, sem dúvida, uma formosa preparação, cujos frutos trazeis hoje aqui para proveito e alegria de todos.

Papa João Paulo II abraça Fafá de Belém, após ela cantar Ave Maria
A família é patrimônio da humanidade, porque é mediante a família que, conforme o desígnio de Deus, deve-se prolongar a presença do homem sobre a terra. Nas famílias cristãs, fundadas no sacramento do matrimônio, a fé nos vislumbra maravilhosamente o rosto de Cristo, esplendor da verdade, que enche de luz e de alegria os lares que inspiram a sua vida no Evangelho.

Hoje, infelizmente, vai-se difundindo pelo mundo uma mensagem enganosa de felicidade impossível e inconsistente, que só arrasta consigo desolação e amargura. A felicidade não se consegue pela via da liberdade sem a verdade, porque esta é a via do egoísmo irresponsável, que divide e corrói a família e a sociedade.

Não é verdade que os esposos, como se fossem escravos condenados à sua própria fragilidade, não possam permanecer fiéis à sua entrega total até à morte! O Senhor, que vos chama a viver na unidade de "uma só carne", unidade de corpo e alma, unidade da vida toda, dá-vos força para uma fidelidade que enobrece e que faz com que a vossa união não corra o risco da traição que rouba a dignidade e a felicidade e introduz, no seio do lar, divisão e amargura cujas maiores vítimas são os filhos. A melhor defesa do lar está na fidelidade que é uma dádiva do Deus fiel e misericordioso, num amor por Ele redimido.

Quero, uma vez mais, lançar aqui um clamor de esperança e liberdade. Famílias da América Latina e do mundo inteiro, não vos deixeis seduzir por esta mensagem de mentira que degrada aos povos, atenta contra as melhores tradições e valores, e faz cair sobre os filhos sofrimentos e tristezas. A causa da famíliia dignifica o mundo e o liberta para uma autêntica verdade sobre o ser humano, o mistério da vida, dom de Deus, do homem e mulher, imagens de Deus. É necessário lutar por esta causa para assegurar vossa felicidade e o futuro da família humana.

Daqui, nesta tarde, em que as famílias de todas as partes do mundo estreitam suas mãos, como uma imensa coroa de amor e feliciadade, lanço este convite para que trabalhem na edificação de uma nova sociedade na qual reine a civilização do amor; defendei, como dom precioso e insubstituível, vossas famílias; protegei-as com leis justas que combatam a miséria e o desemprego. que permitam aos pais cumprir sua missão. Como podem os jovens crer na família se não podem manter-la? A miséria destrui a família, impede o acesso a cultura e educação básica, corrompe os costumer, danifica a saúde de todos.  Ajudem as famílias, aí se joga o futuro.

Existe na história moderna numerosos fenômenos sociais que nos convidam a um exame de consciência sobre a família. Em muitos casos é necessário reconhecer com vergonha muitos erros e desvios. Como não denunciar os comportamentos, motivados pela irresponsabilidade, que conduzem a tratar o ser humano como simples instrumentos do prazer passageiro e vazio? Como não reagir ante à falta de respeito, pornografia e todo tipo de exploração, onde muitas vezes crianças e jovens são os mais sofredores?

As sociedades que se despreocupam da infância são desumanas e irresponsáveis. Os lares que não educam integralmente seus filhos, que os abandonam, cometem uma gravíssima injustiça de que deverão prestar contas diante do tribunal de Deus. Sei que não poucas famílias são, por vezes, vítimas de situações maiores que elas próprias. Em tais casos, ocorre fazer apelo à solidariedade de todos, porque as crianças acabam sofrendo todas as formas de pobreza: a da miséria econômica e, sobretudo, da miséria moral que produz o fenômeno a que aludia na Carta às Famílias: Há muitos órfãos de pais vivos! (n. 14).

Como foi lembrado pelo Cardeal Presidente do Pontifício Conselho para a Família, para servir de símbolo de uma caridade efetiva e fruto do Primeiro Encontro Mundial com as Famílias em Roma, foi concluída uma "Cidade das Crianças" em Ruanda, tendo sido construída com a ajuda de muitas pessoas e algumas generosas instituições; e começam a construir outra em Salvador da Bahia, naqueles mesmos Alagados que visitei e aos quais deixei um apelo à esperança e à promoção humana durante a minha primeira Visita Apostólica ao Brasil em julho de (mil novecentos e oitenta) 1980. Este esforço leva em si uma mensagem e um convite que dirijo ao mundo, através de vós famílias de todo o mundo: acolhei vossos filhos com um amor responsável; defendei-os como um dom de Deus, desde o momento em que são concebidos, em que a vida humana surge no ventre das mães; que o crime abominável do aborto, vergonha para a humanidade, não condene os concebidos à mais injusta das execuções: a dos seres humanos mais inocentes! Esta proclamação sobre o inestimável valor da vida desde o ventre materno e contra qualquer manobra de supressão da vida, quantas vezes a ouvimos dos lábios da Madre Teresa de Calcutá!? Ouvimo-la todos durante o Ato Testemunhal do Primeiro Encontro, em Roma. Aqueles lábios estão agora mudos pela morte. Mas a mensagem de Madre Teresa em favor da vida continua vibrante e convincente como nunca.

Neste Estádio, convertido agora pelo jogo de luzes como em vitrais de uma imensa Catedral, a celebração de hoje quer chamar a todos a um grande e nobre compromisso, sobre o qual invocamos a ajuda de Deus Onipotente: 

Pelas famílias, para que unidas no amor de Cristo, organizadas pastoralmente, presentes ativamente na sociedade, comprometidas na sua missão de humanização, de libertação, de construção de um mundo segundo o coração de Cristo, sejam realmente a esperança da humanidade!

Pelos filhos, para que cresçam como Jesus, no lar de Nazaré. No seio das mães, dorme a semente da nova humanidade. No rosto das crianças, brilha o futuro, o futuro milênio, o porvir que está nas mãos de Deus.

Pelos jovens, para que se empenhem, com grande entusiasmo, a preparar sua família de amanhã, educando-se a si mesmos para o amor verdadeiro que é abertura ao outro, capacidade de escuta e de resposta, compromisso de doação generosa, inclusive a custo de sacrifício pessoal, e disponibilidade à compreensão recíproca e ao perdão.

 Famílias de todo o mundo, quero concluir renovando um apelo: Sede testemunhos vivos de Cristo, que é «o caminho, a verdade e a vida» (cf. Carta às Famílias, 23)! Deixai que entrem no próprio coração os frutos do Congresso Teológico-Pastoral recém concluído. E que a graça e a paz da parte de Deus, nosso Pai, e da parte do Senhor Jesus Cristo, estejam convosco! (cf. 2 Cor1,2)

Maria, Rainha da Família, 

Sede da Sabedoria, Serva do Senhor, 
rogai por nós. Amém.

-- Papa João Paulo II, 4 de Outubro de 1997

* O Encontro das Famílias foi realizado em 1997 foi realizado no Rio de Janeiro.  A vigília foi realizada no Estádio do Maracanã, sábado à noite. 

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