25 de fev. de 2016

O verdadeiro temor do Senhor

Feliz és tu se temes o Senhor e trilhas seus caminhos (Sl 127,1). Todas as vezes que na Escritura se fala do temor do Senhor, nunca se fala isoladamente, como se ele bastasse para a perfeição da nossa fé; mas vem sempre acompanhado de muitas outras virtudes que nos ajudam a compreender sua natureza e perfeição. Assim aprendemos desta palavra que disse Salomão no livro dos Provérbios: Se suplicares a inteligência e pedires em voz alta a prudência; se andares à sua procura como ao dinheiro, e te lançares no seu encalço como a um tesouro, então compreenderás o temor do Senhor (Pr 2,3-5).

O Julgamento, Final painel central de um
tríptico de Hans Memling (cerca de 1467) 
Vemos assim quantos degraus é necessário subir para chegar ao temor do Senhor. Em primeiro lugar, devemos suplicar a inteligência, pedir a prudência, procurá-la como ao dinheiro e nos lançarmos ao seu encalço como a um tesouro. Então chegaremos a compreender o temor do Senhor.

Porque o temor, na opinião comum dos homens, tem outro sentido. É a perturbação que experimenta a fraqueza humana quando receia sofrer o que não quer que lhe aconteça. Este gênero de temor manifesta-se em nós pelo remorso do pecado, pela autoridade do mais poderoso ou a violência do mais forte, por alguma doença, pelo encontro com um animal feroz e pela ameaça de qualquer mal. Esse temor, por conseguinte, não precisa ser ensinado, porque deriva espontaneamente de nossa fraqueza natural. Não aprendemos o que se deve temer, mas são as próprias coisas temíveis que nos incutem o terror.

Pelo contrário, sobre o temor de Deus, assim está escrito: Meus filhos, vinde agora e escutai-me: vou ensinar-vos o temor do Senhor Deus (Sl 33,12). Portanto, se o temor do Senhor é ensinado, deve-se aprender. Não nasce do nosso receio natural, mas do cumprimento dos mandamentos, das obras de uma vida pura e do conhecimento da verdade.

Para nós, todo o temor do Senhor está contido no amor, e a caridade perfeita expulsa o temor. O nosso amor a Deus leva-nos a seguir os seus conselhos, a cumprir os seus mandamentos e a confiar em suas promessas. Ouçamos o que diz a Escritura: E agora, Israel, o que é que o Senhor teu Deus te pede? Apenas que o temas e andes em seus caminhos; que ames e guardes os mandamentos do Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que sejas feliz (Dt 10,12-13). Ora, os caminhos do Senhor são muitos, embora ele próprio seja o Caminho. Pois, ele chama-se a si mesmo caminho, e mostra a razão porque fala assim: Ninguém vai ao Pai senão por mim (Jo 14,6).

Devemos, portanto, examinar e avaliar muitos caminhos, para encontrarmos, por entre os ensinamentos de muitos, o único caminho certo, o único que nos conduz à vida eterna. Há caminhos na Lei, caminhos nos profetas, caminhos nos evangelhos e nos apóstolos, caminhos nas diversas obras dos mestres. Felizes os que andam por eles, movidos pelo temor do Senhor.

-- Dos Tratados sobre os Salmos, de Santo Hilário, bispo (século IV)

15 de fev. de 2016

Santo Arnoldo Janssen, um santo missionário

Arnald Janssen nasceu no dia 5 de Novembro de 1837 em Goch, uma pequena cidade da Alemanha. Era o segundo de 10 filhos e os pais incutiram nele uma grande dedicação ao trabalho e uma profunda religiosidade,. Um dos hábitos diários da família era rezar o rosário à noite, após o jantar.

Foi ordenado sacerdote a 15 de Agosto de 1861 pela Diocese de Münster e foi destinado a trabalhar numa escola secundária em Bocholt, onde se distinguiu como um professor exigente mas justo. Nesta escola permaneceu por 12 anos. Em virtude da sua profunda devoção ao Sagrado Coração de Jesus, foi nomeado Diretor Diocesano do Apostolado da Oração. 

Ele foi um homem consciente das necessidades espirituais de outros povos, para além dos limites da sua diocese e preocupou-se pela Missão Universal da Igreja. Decidiu dedicar a sua vida despertando a Igreja da Alemanha para as suas responsabilidades missionárias. Com tal propósito, ele resignou do seu lugar de professor e, logo em seguida, fundou o «Mensageiro do Sagrado Coração». Esta revista mensal dava notícias da missão e animava os católicos de língua alemã a trabalhar mais pelas missões.

Em certa ocasião encontrou-se com o Vigário Apostólico de Hong-Kong, que lhe contou da situação na China e disse estranhar que na Alemanha não houvesse missionários, Arnaldo entendeu que esta era sa vocação e Deus o chamava para enfrentar essa tarefa. Muitos diziam, e até duvidavam, que ele não era o homem indicado para tal. A resposta de Arnaldo foi: "O Senhor desafia a nossa fé e incentiva-nos a fazer algo novo, precisamente quando tantas coisas implodem na Igreja".

Os tempos eram particularmente difíceis na Alemanha. pois o governo havia declarado a Kulturkampf com uma série de leis contra os Católicos, a expulsão de religiosos e sacerdotes e a prisão de muitos bispos. Nesta situação caótica, Arnaldo Janssen propôs a alguns dos sacerdotes expulsos do país a ida para as missões ou que pelo menos ajudassem na formação de missionários.

Com a ajuda de alguns bispos, Arnald inaugurou no dia 8 de Setembro de 1875 em Styel, na vizinha Holanda, uma casa missionária e esta data é considerada o dia da fundação da Congregação do Verbo Divino. Meses após, em 2 de Março de 1879, partiram os dois primeiros missionários para a China.  

Consciente da importância dos meios de comunicação para atrair vocações, Arnaldo Janssen abriu uma tipografia. Milhares de leigos generosos ofereceram o seu tempo e esforço na distribuição das revistas de Steyl, contribuindo assim para a animação missionária nos países de língua alemã.

Desta forma, a comunidade, muito em breve, era composta de sacerdotes e irmãos. Além dos homens, praticamente desde o começo, um grupo de mulheres se pôs ao serviço da comunidade. Estas mulheres desejavam servir a missão como religiosas. O fiel e dedicado serviço que elas ofereciam livremente e o reconhecimento da importância do papel, que a mulher poderia desempenhar na missão, levaram Arnaldo a fundar, no dia 8 de Dezembro de 1889, a Congregação Missionária das Servas do Espírito Santo (SSpS). As primeiras Irmãs foram enviadas para a Argentina em 1895.

Em 1896 o P. Arnald decidiu escolher algumas Irmãs para formar o ramo contemplativo, que seria conhecido como Servas do Espírito Santo da Adoração Perpétua, chamadas de Irmãs Rosas, a cor de seus hábitos. O seu serviço missionário consistiria em manter a adoração permanente do Santíssimo Sacramento, rezando dia e noite pela Igreja e especialmente pelas outras duas Congregações dedicadas ao serviço missionário ativo.

Arnaldo faleceu no dia 15 de janeiro de 1909. A sua vida foi uma permanente procura da realização da vontade de Deus, confiança na divina providencia e trabalho árduo. O crescimento contínuo das comunidades por ele fundadas é a prova evidente de que o seu trabalho foi abençoado. Presentemente, há mais de 6.000 missionários do Verbo Divino trabalhando em 63 países. As missionárias Servas do Espírito Santo são mais de 3.800, e 400 as Servas do Espírito Santo de Adoração Perpétua.

Santo Arnaldo Jenssen foi beatificado pelo Papa Paulo VI em 19 de Outubro de 1975 e canonizado pelo Papa João Paulo II em 5 de Outubro de 2003.

Dois vídeos, em inglês: A história de Santo Arnaldo e As Irmãs Rosas que ainda vivem na casa em Styel, na Holanda.

10 de fev. de 2016

Fazei penitência


Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus, seu Pai, esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.

Percorramos todas as épocas do mundo e verificaremos que em cada geração o Senhor concedeu o tempo favorável da penitência a todos os que a ele quiseram converter-se. Noé proclamou a penitência, e todos que o escutaram foram salvos. Jonas anunciou a ruína aos ninivitas, mas eles, fazendo penitência de seus pecados, reconciliaram-se com Deus por suas súplicas e alcançaram a salvação, apesar de não pertencerem ao povo de Deus.

Inspirados pelo Espírito Santo, os ministros da graça de Deus pregaram a penitência. O próprio Senhor de todas as coisas também falou da penitência, com juramento: Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta (cf. Ez 33,11); e acrescentou esta sentença cheia de bondade: Deixa de praticar o mal, ó Casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: "Ainda que vossos pecados subam da terra até o céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o cilício, se voltardes para mim de todo o coração e disserdes: 'Pai', eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas” (cf. Is 1,18; 63,16; 64,7; Jr 3,4; 31,9).

Querendo levar à penitência todos aqueles que amava, o Senhor confirmou esta sentença com sua vontade todo-poderosa.

Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade. Imploremos humildemente sua misericórdia e benignidade. Convertamo-nos sinceramente ao seu amor. Abandonemos as obras más, a discórdia e a inveja que conduzem à morte.

Sejamos humildes de coração, irmãos, evitando toda espécie de vaidade, soberba, insensatez e cólera, para cumprirmos o que está escrito. Pois diz o Espírito Santo: Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte com sua força, nem o rico em sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-o e praticando o direito e justiça (cf. Jr 9,22-23; ICor 1,31).

Antes de mais nada, lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus, quando exortava à benevolência e à longanimidade: Sede misericordiosos, e alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; dai, e vos será dado; não julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com a medida com que medirdes, vos será medido (cf. Mt 5,7; 6,14; 7,1.2).

Observemos fielmente este preceito e estes mandamen­tos, a fim de nos conduzirmos sempre, com toda humildade, na obediência às suas santas palavras. Pois eis o que diz o texto sagrado: Para quem hei de olhar, senão para o manso e humilde, que treme ao ouvir minhas palavras ? (cf. Is 66,2).

Tendo assim participado de muitas, grandes e gloriosas ações, corramos novamente para a meta que nos foi proposta desde o início: a paz. Fixemos atentamente nosso olhar no Pai e Criador do universo e desejemos com todo ardor seus dons de paz e seus magníficos e incomparáveis benefícios.

Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa (século I)

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