18 de abr. de 2017

Era necessário Cristo ressucitar?

Ressurreição de Cristo, de Rafael Sanzio (cc. 1500).
Acervo do MASP.

Era necessário que Cristo ressuscitasse, por cinco razões:


Para a manifestação da justiça divina, a qual compete exaltar aos que se humilham por amor de Deus, segundo aquilo do Evangelho: Depôs do trono os poderosos e elevou os humildes (Lc 1,52). Tendo, pois, Cristo, levado pela caridade e obediência, se humilhado até à morte da cruz, importava que  fosse exaltado por Deus até a ressurreição gloriosa. 

Para confirmação da nossa fé, pois, a sua ressurreição confirmou a nossa fé na divindade de Cristo. Como diz o Apóstolo: Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação, é também vã a nossa fé (1Cor 15,14). E noutro lugar diz a Escritura: Que proveito há no meu sangue, i. é, na efusão do meu sangue, se desço à corrupção, como que por degraus de males?(Sl 29) Quase se respondesse: Nenhum. Pois, se não ressurgir logo e se me corromper o corpo, a ninguém anunciarei, ninguém seria beneficiado.

Para sustentar a nossa esperança, pois, vendo Cristo ressuscitar, ele que é nossa cabeça, esperamos que também nós ressuscitaremos. Donde o dizer o Apóstolo: Se se prega que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como dizem alguns entre vós outros que não há ressurreição de mortos? (1Cor 15,2) E noutro lugar da Escritura: Eu sei, isto é, pela certeza da fé, que o meu Redentor, isto é, Cristo vive, tendo ressurgido dos mortos, e portanto, eu no derradeiro dia surgirei da terra: esta minha esperança esta depositada no meu peito. (Jó 19,25-27)

Para nos dar um modelo pelo qual possamos regular a nossa vida, segundo fala o Apóstolo: Como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Padre, assim também nós levemos uma vida nova (Rm 6,4). E mais abaixo: Tendo Cristo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a morte terá sobre ele mais domínio; assim também vós considerai-vos que estais certamente mortos ao pecado, porém vivos para Deus (Rm 9, 11)

Para complemento da nossa salvação, pois, assim como sofreu tantos males e morreu, para dos males nos livrar, assim também foi glorificado ressurgindo, para nos dar a posse do bem, segundo o Apóstolo: Foi entregue por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação. (Rm 4, 25)

-- adaptado da Suma Teológica (Tertia Pars, questão 53), São Tomás de Aquino

8 de abr. de 2017

Vamos participar da festa da Páscoa

Vamos participar da festa da Páscoa, por enquanto ainda em figuras, embora mais claramente do que na antiga lei (a Páscoa legal era, por assim dizer, uma figura muito velada da própria figura). Mas, em breve, participaremos de modo mais perfeito e mais puro, quando o Verbo vier beber conosco o vinho novo no reino de seu Pai, revelando definitivamente o que até agora só em parte nos mostrou. A nossa Páscoa é sempre nova.

Qual é essa bebida e esse conhecimento? A nós compete dizê-lo; e ao Verbo compete ensinar e comunicar essa doutrina a seus discípulos. Porque a doutrina daquele que alimenta é também alimento.

Quanto a nós, participemos também dessa festa ritual, não segundo a letra mas segundo o Evangelho; de modo perfeito, não imperfeito; para a eternidade, não temporariamente. Seja a nossa capital, não a Jerusalém terrestre, mas a cidade celeste; não a que é agora arrasada pelos exércitos, mas a que é exaltada pelo louvor e aclamação dos anjos.

Sacrifiquemos não novilhos ou carneiros com chifres e cascos, vítimas sem vida e sem inteligência; pelo contrário, ofereçamos a Deus um sacrifício de louvor sobre o altar celeste, em união com os coros angélicos. Atravessemos o primeiro véu, aproximemo-nos do segundo e fixemos o olhar no Santo dos Santos.

Direi mais: imolemo-nos a Deus, ou melhor, ofereçamo-nos a ele cada dia, com todas as nossas ações. Façamos o que nos sugerem as palavras: imitemos com os nossos sofrimentos a Paixão de Cristo, honremos com o nosso sangue o seu sangue, e subamos corajosamente à sua cruz.

Se és Simão Cireneu, toma a cruz e segue a Cristo.

Se, qual o ladrão, estás crucificado com Cristo, como homem íntegro, reconhece a Deus. Se por tua causa e por teu pecado ele foi tratado como malfeitor, torna-te justo por seu amor. Adora aquele que foi crucificado por tua causa. Preso à tua cruz, aprende a tirar proveito até da tua própria iniquidade. Adquire a tua salvação com a sua morte, entra com Jesus no paraíso, e saberás que bens perdeste com a tua queda. Contempla as belezas daquele lugar, e deixa que o ladrão rebelde fique dele excluído, morrendo na sua blasfêmia.

Se és José de Arimatéia, pede o corpo a quem o mandou crucificar; e assim será tua a vítima que expiou o pecado do mundo. Se és Nicodemos, aquele adorador noturno de Deus, unge-o com perfumes para a sua sepultura.

Se és Maria, ou a outra Maria, ou Salomé, ou Joana, derrama tuas lágrimas por ele. Levanta-te de manhã cedo, procura ser o primeiro a ver a pedra do túmulo afastada, e a encontrar talvez os anjos, ou melhor ainda, o próprio Jesus.

-- Dos Sermões de São Gregório de Nazianzo, bispo (século IV)

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